|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
Com jeito, Lula faz um grande acordo
É possível que Lula esteja a
um passo da maior oportunidade política de sua carreira e
o Brasil, perto de um dos melhores momentos de sua política externa. Há espaço para que se
consiga um surpreendente acordo com os Estados Unidos e as
instituições internacionais de
crédito, capaz de reestruturar as
economias latino-americanas.
Pelo lado americano, uma repetição da oportunidade que o secretário de Estado John Foster
Dulles jogou fora nos anos 50,
quando sabotou a Operação
Pan-Americana de Juscelino Kubitschek. Pelo lado brasileiro,
uma repetição da oportunidade
que o sectarismo esquerdista jogou nágua nos 60, sabotando a
Aliança para o Progresso, de
John Kennedy.
Pelas lentes do catastrofismo,
os Estados Unidos são presididos
por um ignorante pronto para
demonstrar algum tipo de antipatia por um esquerdista barbudo que ousou chamá-lo de companheiro. Até amigo de Fidel
Castro ele é. Pelas lentes dos incríveis acontecimentos que se seguiram à posse de Lula, o esquerdista barbudo pagou juros de
26,5%, aumentou o arrocho do
superávit primário, repetiu que a
responsabilidade pelas mazelas
brasileiras é dos brasileiros e, se
isso fosse pouco, tudo indica que
expurgará seu partido.
Se Carlos Menem tivesse ganho
a eleição argentina, tudo o que
Lula fizesse seria pouco. Com
Néstor Kirchner, a conversa é outra. Houve uma época em que se
pensou numa América Latina
personificada num concessionário de Coca-Cola com botas de
vaqueiro. Algo como Vicente
Fox, o atual presidente do México. Deu errado. A maior vitória
dos Estados Unidos, do FMI e do
Banco Mundial na América Latina chama-se Lula. Goste-se ou
não dessa situação, é provável
que Lula ainda seja uma esperança da esquerda, mas é certo
que a cada dia ele se torna a verdadeira esperança da direita cosmopolita (nada a ver com grileiros do Pontal do Paranapanema
e os empresários inadimplentes
das confederações patronais).
Lula tem a oportunidade de
mostrar a Bush, ao FMI e ao
Banco Mundial (nesta ordem)
que seu governo é a verdadeira
prova do pudim para a transformação da América Latina numa
verdadeira economia de mercado.
Se ele conseguir crescimento,
ganham todos. Se prosseguir na
estagnação que herdou, com
mais desemprego e mais aviltamento do trabalho, perdem todos.
A oportunidade de Lula e de
sua política externa está em ir buscar um acordo que abra espaço para o crescimento da economia brasileira de forma que se
possa dizer: com a ajuda do governo americano, do FMI e do
Banco Mundial, fez-se no Brasil
uma experiência desenvolvimentista. Fez-se, por exemplo, o
que se faz com a economia americana. Bush não está enfrentando o risco de recessão com a receita do "governor" Henrique
Meirelles. Faz justo o oposto: expande as despesas.
A Casa Branca e o FMI não
precisam que o Brasil fique preso
numa armaldilha de meia dúzia
de especuladores. Em 1989, o pai
do atual presidente americano
percebeu que a América Latina
não devia continuar presa na
gaiola da banca e desceu o Plano
Brady goela abaixo de Wall
Street. (John Reed, o presidente
do Citi jamais esqueceu o volume da voz do secretário do Tesouro num telefonema que ele
lhe deu, de Paris, dizendo-lhe para fechar um acordo com os mexicanos.)
O caminho para o entendimento é estreito, mas existe. As
possibilidades de uma coisa dessas dar certo são maiores que as
de um vendedor de tapioca do
cais santista ocupar a presidencia da República e, nela, vir a defender uma taxa de juros de
26,5% ao ano.
Texto Anterior: Sudam 2: Procurador pede ao STF apuração contra Roseana Próximo Texto: Tensão no campo: Três fazendas são invadidas em Alagoas Índice
|