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Costa diz que só ele foi a fundo no caso
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em seu primeiro evento público
depois da Operação Vampiro, o
ministro da Saúde, Humberto
Costa, disse ontem ter sido o "único" a apurar com profundidade
denúncias de irregularidades em
licitações para a compra de hemoderivados feitas pela pasta.
Apesar de afirmar que não cabe
a ele "julgar atitude de quem quer
que seja" e que o caso "não deve
ser politizado", Costa criticou indiretamente seus antecessores.
"Esse sistema funciona desde a
década de 90. Nunca foi apurado
com profundidade. O único ministro que apurou com profundidade fui eu. O único governo que
apurou foi o do presidente Lula",
disse Costa, após o lançamento do
Programa de Reestruturação dos
Hospitais de Ensino.
O ex-ministro da Saúde Barjas
Negri, que ocupou o cargo de fevereiro a dezembro de 2002, no
fim da gestão Fernando Henrique, considerou "injusta" a frase
de Costa. "O ministro está sendo
injusto com seus antecessores
porque eles também procuraram
zelar pelo dinheiro público. Sempre que houve denúncia no ministério procuramos investigar."
Para o tucano Negri, o que houve dessa vez foi um avanço da PF,
que conseguiu reunir mais informações para a investigação. "O
ministro está confundindo iniciativa com êxito da Polícia Federal",
disse Negri, que vai concorrer à
Prefeitura de Piracicaba (SP).
Costa voltou a dizer que enviou
à PF, em março de 2003, um pedido de investigação nas licitações
de hemoderivados. A apuração
resultou na Operação Vampiro,
que prendeu 17 pessoas, seis delas
servidoras da pasta. Entre elas está o ex-coordenador-geral de Recursos Logísticos da pasta Luiz
Cláudio Gomes da Silva, que também é investigado por um processo de compra de insulina.
A operação levou o ministério a
exonerar 25 funcionários.
Pela manhã, os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e
Waldir Pires (Controladoria Geral da União) haviam defendido o
colega da Saúde.
"É impossível que se crie, por
um passe de mágica, a solução para uma coisa como essa. É uma situação complexa, que vem lá de
trás", disse Thomaz Bastos, usando argumento parecido com o do
ministro da Saúde.
Sobre se os governos anteriores
tinham falhado, respondeu: "Não
quero olhar para trás. Não quero
me transformar em uma estátua
de sal, mas acho que nós estamos
desde o primeiro dia do governo
empenhados na transparência e
na construção de um sistema de
combate à corrupção".
Para ele, ao combater a corrupção, o governo corre o risco de a
sociedade achar que ela aumentou. Thomaz Bastos negou que tenha havido descuido no caso.
Já Waldir Pires eximiu o colega
da Saúde de responsabilidade por
eventuais irregularidades cometidas pelo ex-coordenador-geral.
"Ele teve a infelicidade de escolher um gestor que não mereceu
sua confiança. A responsabilidade criminal não se comunica nem
de pai para filho. Também não teria nesse caso, se não seria um desastre", disse Pires.
Ao contrário da avaliação feita
anteontem por Alexandre Grangeiro, coordenador do programa
DST/Aids do ministério, Costa
disse ontem que não faltarão preservativos devido à suspensão da
última licitação, investigada.
Segundo o ministro, a legislação
permite que a compra seja feita
rapidamente, e cogitou a possibilidade de usar pregão.
A Folha procurou ontem a assessoria do ex-ministro José Serra, pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, mas, até o fechamento desta edição, não conseguiu falar com ele.
Serra, que comandou a Saúde
entre janeiro de 1999 e fevereiro
de 2002, estava voltando do Rio
de Janeiro para São Paulo.
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