São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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Lobby do bingo tenta aliciar deputados

Lobista orienta empresários a financiar campanhas eleitorais de políticos que apoiarem projeto de legalização do setor

Jogo foi proibido há dois anos no país; relator da CPI dos Bingos estuda propor regulação subordinada a referendo popular em 2008

Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Fachada do Bingo Imperatriz, em São Paulo, um dos maiores do país, com mais de 280 funcionários


MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com escritório instalado em um prédio luxuoso de Brasília, um ex-secretário da Receita Federal contratado como advogado e a promessa de ajuda financeira a candidatos aliados à causa nas eleições de outubro, empresários de bingos apostam em que a liberação do jogo ganhará neste mês o aval da CPI que leva o nome do setor.
O presidente da Abrabin (Associação Brasileira dos Bingos), Olavo Sales, diz ter orientado empresários do bingo associados a apoiar candidatos que defendam a atividade. "Essa é a nossa orientação: não existe restrição nem indicação de partido, o importante é que o doador tenha acesso ao candidato."
Ao lado da Febrabingo (Federação Brasileira dos Bingos), a Abrabin patrocina o Movimento Pró-Bingo, instalado numa sala alugada por R$ 1.900 por mês, no centro de Brasília. É a face mais visível do lobby em favor do jogo.
As atenções dos empresários estão voltadas para o relatório final da CPI dos Bingos, cujos trabalhos terminam em menos de um mês. O relator da comissão, Garibaldi Alves (PMDB-RN), já antecipou que a tendência é propor a regulação da atividade sob controle da União e subordinada a um referendo popular em 2008. A proposta é aplaudida por bingueiros.
"O setor não agüenta ficar na semi-clandestinidade até 2008", diz o presidente da Febrabingo, Carlos Eduardo Canto. A hipótese de a CPI proibir o bingo está descartada.
A expectativa dos empresários é semelhante à que mantinham no início do governo Lula, até que os planos de liberar as casas de bingos e máquinas caça-níqueis foram atropelados pelo escândalo Waldomiro Diniz, no início de 2004. Entre o flagrante de cobrança de propina pelo ex-assessor do então chefe da Casa Civil José Dirceu e o relatório da CPI, terão se passado quase dois anos e meio.
Como naquela época, casas de bingos funcionam hoje de forma clandestina ou com base em liminares concedidas pela Justiça. O Estado de São Paulo concentra metade dos cerca de 600 estabelecimentos abertos, segundo os empresários.

Jogo de cena
O próximo movimento programado pelo lobby dos bingos é a entrega oficial à CPI de pacotes contendo supostamente 400 mil assinaturas de apoio à atividade -a acontecer na próxima sessão da comissão, numa tentativa de conquistar o apoio da maioria de seus membros.
Técnicos da CPI têm pronto um modelo em que os jogadores terão de se identificar, e as apostas serão feitas online, para maior controle de uma agência federal ainda não definida. O modelo é diferente do apresentado pelo ex-secretário da Receita Federal Osiris Lopes Filho à CPI, em nome do Movimento Pró-Bingo. Só para acompanhar as negociações, Osiris tem contrato que lhe rende R$ 20 mil por mês.
Como principal argumento favorável à liberação dos bingos, Osiris apresentou um potencial de arrecadação de tributos de R$ 2,6 bilhões por ano: dinheiro a ser dividido entre União, Estados e municípios.


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