São Paulo, quinta-feira, 28 de maio de 2009

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PF vê ligação de libanês com a Al Qaeda

Investigação indica que sua função não estava ligada ao braço armado da organização; advogado aponta "precipitação" da polícia

Segundo as interceptações, homem detido no mês passado dizia ser integrante da Al Qaeda; FBI alertou brasileiros em fevereiro


LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Investigações da Polícia Federal sobre a atividade do libanês K. chegaram à conclusão de que ele tem ligações com a organização terrorista Al Qaeda.
K., acredita-se, é o responsável mundial pelo "Jihad Media Battalion", uma organização virtual que é usada como uma espécie de relações públicas on-line da Al Qaeda, propagando pela internet, em árabe, ideais extremistas e incitando o povo muçulmano a combater países como os EUA e Israel. Para a PF, K. não é membro da alta hierarquia da Al Qaeda.
De São Paulo, sempre segundo a avaliação da cúpula da PF, o libanês mantinha contato com pessoas ligadas à organização terrorista em pelo menos quatro países, um deles da Ásia.
Sua função não estava ligada ao braço armado da organização, mas a PF suspeita de que ele tenha tratado, em discussões pelo fórum, de alvos potenciais de atentados, chegando a distribuir tarefas a outros membros da organização.
Segundo as investigações, K. agia só, o que descarta, portanto, para as autoridades, a participação de algum brasileiro.
Nas intercepções feitas pela PF, o libanês foi flagrado dizendo ser integrante da Al Qaeda, que tem como líder máximo Osama bin Laden, o terrorista mais procurado do planeta.
As autoridades brasileiras foram informadas da atuação do libanês em fevereiro, em informações repassadas pelo FBI, o equivalente norte-americano da PF. Na ocasião, o FBI já tinha a identificação do IP do computador de onde o libanês coordenava a rede.
O advogado do libanês, Mehry Daychoum, diz que houve "confusão" e "precipitação" da PF e nega relação de seu cliente com qualquer organização "paramilitar ou terrorista": "Ele cometeu a infelicidade de emitir comentários na internet, jamais imaginando que isso pudesse ser crime no Brasil".
Na edição de terça, o colunista da Folha Janio de Freitas informou que um integrante da alta hierarquia da Al Qaeda tinha sido preso no Brasil. Para preservar o sigilo da operação, escreveu o jornalista, a PF atribuiu a prisão a uma investigação sobre células nazistas.
O ministro Tarso Genro (Justiça) disse que o governo não trabalhava com a hipótese de K. ter relações com a Al Qaeda. O presidente Lula demonstrou irritação ao falar do caso.
Segundo disseram à Folha autoridades brasileiras, o governo queria manter sob sigilo a suspeita da ligação de K. com a Al Qaeda, principalmente por causa da pressão internacional.
Por isso sua prisão foi divulgada como consequência de uma suposta "propagação de mensagens com conteúdo racista pela internet", segundo a nota da PF. O libanês foi indiciado por crime de racismo.
Autoridades americanas têm pressionado o Brasil por não haver em lei a tipificação do crime de terrorismo. Para Tarso, não é preciso mudar a legislação, pois atos terroristas podem ser enquadrados nas leis comuns. O debate já chegou a ser travado no Ministério da Justiça. Mas a preocupação do governo é que a criação de uma lei desse tipo possa criminalizar movimentos sociais.
K. vive no Brasil com a mulher e filha, ambas brasileiras. Detido em 25 de abril, ele passou 21 dias preso por ordem do juiz da 4ª Vara Federal Criminal, Alexandre Cassettari. Agora, mesmo em liberdade, o libanês segue sendo monitorado.
Em nota, a assessoria da Justiça Federal disse que a investigação da PF apontou indícios de que K. atuava como membro da "organização extremista" Jihad Media Battalion, além de ter ligações "com outros grupos". Segundo a Justiça, "as diligências policiais constataram, também, a associação de aproximadamente 34 membros cadastrados, o que caracterizaria a formação de quadrilha". O Ministério Público ainda não decidiu se oferecerá denúncia contra K.
Ontem, a Comissão de Segurança Pública da Câmara aprovou requerimento que convida representantes da PF e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para discutir a prisão de K -com data a ser definida.

Colaborou a Reportagem Local



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