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PF vê ligação de libanês com a Al Qaeda
Investigação indica que sua função não estava ligada ao braço armado da organização; advogado aponta "precipitação" da polícia
Segundo as interceptações, homem detido no mês passado dizia ser integrante da Al Qaeda; FBI alertou brasileiros em fevereiro
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Investigações da Polícia Federal sobre a atividade do libanês K. chegaram à conclusão de
que ele tem ligações com a organização terrorista Al Qaeda.
K., acredita-se, é o responsável mundial pelo "Jihad Media
Battalion", uma organização
virtual que é usada como uma
espécie de relações públicas
on-line da Al Qaeda, propagando pela internet, em árabe,
ideais extremistas e incitando o
povo muçulmano a combater
países como os EUA e Israel.
Para a PF, K. não é membro da
alta hierarquia da Al Qaeda.
De São Paulo, sempre segundo a avaliação da cúpula da PF,
o libanês mantinha contato
com pessoas ligadas à organização terrorista em pelo menos
quatro países, um deles da Ásia.
Sua função não estava ligada
ao braço armado da organização, mas a PF suspeita de que
ele tenha tratado, em discussões pelo fórum, de alvos potenciais de atentados, chegando a distribuir tarefas a outros
membros da organização.
Segundo as investigações, K.
agia só, o que descarta, portanto, para as autoridades, a participação de algum brasileiro.
Nas intercepções feitas pela
PF, o libanês foi flagrado dizendo ser integrante da Al Qaeda,
que tem como líder máximo
Osama bin Laden, o terrorista
mais procurado do planeta.
As autoridades brasileiras foram informadas da atuação do
libanês em fevereiro, em informações repassadas pelo FBI, o
equivalente norte-americano
da PF. Na ocasião, o FBI já tinha a identificação do IP do
computador de onde o libanês
coordenava a rede.
O advogado do libanês,
Mehry Daychoum, diz que houve "confusão" e "precipitação"
da PF e nega relação de seu
cliente com qualquer organização "paramilitar ou terrorista":
"Ele cometeu a infelicidade de
emitir comentários na internet, jamais imaginando que isso pudesse ser crime no Brasil".
Na edição de terça, o colunista da Folha Janio de Freitas informou que um integrante da
alta hierarquia da Al Qaeda tinha sido preso no Brasil. Para
preservar o sigilo da operação,
escreveu o jornalista, a PF atribuiu a prisão a uma investigação sobre células nazistas.
O ministro Tarso Genro
(Justiça) disse que o governo
não trabalhava com a hipótese
de K. ter relações com a Al Qaeda. O presidente Lula demonstrou irritação ao falar do caso.
Segundo disseram à Folha
autoridades brasileiras, o governo queria manter sob sigilo
a suspeita da ligação de K. com
a Al Qaeda, principalmente por
causa da pressão internacional.
Por isso sua prisão foi divulgada como consequência de
uma suposta "propagação de
mensagens com conteúdo racista pela internet", segundo a
nota da PF. O libanês foi indiciado por crime de racismo.
Autoridades americanas têm
pressionado o Brasil por não
haver em lei a tipificação do
crime de terrorismo. Para Tarso, não é preciso mudar a legislação, pois atos terroristas podem ser enquadrados nas leis
comuns. O debate já chegou a
ser travado no Ministério da
Justiça. Mas a preocupação do
governo é que a criação de uma
lei desse tipo possa criminalizar movimentos sociais.
K. vive no Brasil com a mulher e filha, ambas brasileiras.
Detido em 25 de abril, ele passou 21 dias preso por ordem do
juiz da 4ª Vara Federal Criminal, Alexandre Cassettari. Agora, mesmo em liberdade, o libanês segue sendo monitorado.
Em nota, a assessoria da Justiça Federal disse que a investigação da PF apontou indícios
de que K. atuava como membro da "organização extremista" Jihad Media Battalion,
além de ter ligações "com outros grupos". Segundo a Justiça, "as diligências policiais
constataram, também, a associação de aproximadamente 34
membros cadastrados, o que
caracterizaria a formação de
quadrilha". O Ministério Público ainda não decidiu se oferecerá denúncia contra K.
Ontem, a Comissão de Segurança Pública da Câmara aprovou requerimento que convida
representantes da PF e da Abin
(Agência Brasileira de Inteligência) para discutir a prisão
de K -com data a ser definida.
Colaborou a Reportagem Local
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