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ÍNTEGRAS
Leia os discursos feitos ontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso
Leia abaixo a íntegra do discurso feito ontem pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso no
Palácio do Planalto:
"O ministro Paulo Renato, mais
uma vez, com tranquilidade, precisão e objetividade respondeu às demandas da sociedade no âmbito específico do seu ministério, a questão
do crédito educativo, que é candente. E o número tão expressivo de
parlamentares que se organizaram
em defesa do crédito educativo é
uma demonstração disso. Mas o que
é importante é o fato de que esse
atendimento se faz não apenas porque há uma demanda, e que foi aumentada, agora, para a questão da
reforma da Previdência, mas porque há uma programação, um projeto neste sentido. E essa programação, no que diz respeito ao crédito
educativo, se impõe pelas razões
que o ministro explicou.
Não podemos fazer face ao desenvolvimento educacional do Brasil se
não contarmos com a cooperação
das instituições privadas. E as instituições privadas, na sua imensa
maioria, não podem fazer face aos
custos crescentes do ensino. E as
obrigações, essas, sim, iniludíveis,
para com a Previdência Social, se
não houver também compreensão
do financiamento para que estudantes que não têm recursos tenham acesso a essas escolas.
Trata-se de um financiamento. O
ministro explicou bem a engenhosidade da área econômica e da Caixa
Econômica também, no sentido de
viabilizar esse financiamento. Mas
não se trata, simplesmente, de recursos que seriam para o setor público que estão indo para o setor privado. É outra coisa. É a facilitação,
por parte do poder público, para
que haja acesso às escolas privadas,
por parte daqueles que não têm
condições econômicas de ascender
a elas e que não podem ascender à
escola pública, posto que a escola
pública não atende a toda demanda
hoje existente na sociedade. Não vai
poder atender, porque, graças àquilo que eu tenho chamado sempre de
revolução silenciosa, que meu governo está fazendo na educação, estamos aumentando, mas, violentamente, a demanda, primeiro nas escolas primárias, depois diminuindo
a evasão nas escolas, depois no sistema secundário, agora no sistema
universitário. Nisso vai um fluxo
crescente de demanda, e seria insensato não haver uma coordenação entre o setor público e o setor
privado para o atendimento do interesse do país, que é dar educação de
boa qualidade e, o quanto possível, a
todos aqueles que demandam educação. Trata-se disso.
E o ministro está respondendo
com essa medida -que acabei de
assinar e que ele me propôs, depois
de vários estudos- a uma inquietação grande, não só no Parlamento,
mas nas famílias, que ficavam com o
desespero de não saber como custear a educação dos seus filhos. De
modo que, realmente, se trata de
uma medida necessária.
E ressaltou bem o ministro, também, que essa medida necessária se
faz num contexto de uma situação
do Brasil onde ainda nós não dispomos das condições de equilíbrio fiscal suficientes para que o governo
possa atender, com largueza, a todas as demandas da sociedade.
O governo não vai perder de vista,
nunca, a sua responsabilidade no
que diz respeito ao ajuste fiscal. Esse
é que vai garantir a possibilidade da
continuidade do crescimento econômico, da diminuição da taxa de
juros, beneficiando, portanto, os
próprios estudantes que, mais tarde, poderão ter taxas de juros mais
adequadas. Mas eu disse, diante de
tantas críticas - e é tão fácil criticar-, que, a despeito do esforço
imenso que nós estaríamos fazendo,
nós iríamos preservar as áreas sociais, dentro do possível, nos ajustes
que seríamos obrigados a executar.
É o que está ocorrendo. E se os srs. e
as sras. tiverem a paciência de ver o
esforço feito, nas áreas já mencionadas, sobretudo de saúde, de educação, de Previdência -com a Lei Orgânica da Previdência Social, inclusive-, que é o atendimento aos
mais velhos, o atendimento às
crianças em condições de trabalho
penoso, a bolsas-escola, enfim, uma
enorme quantidade do que se poderia chamar de programas universais
de atendimentos sociais. E mais
uma rede de proteção social para as
camadas mais numeráveis. Se verificassem o que está acontecendo,
verificariam a veracidade das minhas palavras.
Estamos promovendo um ajuste
fiscal. Enfrentamos uma das maiores crises financeiras, não só do Brasil, mas da economia contemporânea. Estamos conseguindo, ao mesmo tempo, preservar aquilo que é
fundamental, que é a pessoa humana, que é o bem-estar da população.
Não se faz de imediato e nem tudo é
atendido da maneira que se gostaria, mas faz-se um esforço, um esforço contínuo nessa direção, porque o governo tem compromisso
social e tem compromisso com a
população, com as pessoas. E isso é
preciso sublinhar.
Esses esforços são feitos levando
sempre em consideração tanto as
necessidades gerais de estabelecimento do equilíbrio fiscal, como levando em consideração também o
que existe de fundamental na população e não perder de vista que nós
estamos aqui numa nação, e não
num mercado. E é bom que se diga
que essa é a preocupação permanente do governo. Até mesmo
quando, levianamente, alguns imaginam que o governo ter-se-á embrenhado em assuntos privados,
quando, na verdade, estava defendendo o interesse público com energia e ter, com a tranquilidade que
nos caracteriza, com a tranquilidade do dever cumprido, com a, eu até
diria, satisfação de dizer que chego
aos 68 anos tendo toda uma vida de
trabalho e que nunca -friso-,
nunca tive qualquer coisa, a mais remota, que pudesse ser suspeição de
algum interesse no exercício de cargo público que não fosse o povo,
que não fosse o meu país. Nunca.
Com essa mesma tranquilidade
que tenho, temos que levar adiante
as transformações do Brasil, sem temer, sem confundir as coisas, porque houve um grito aqui ou uma interpretação leviana acolá. E é leviana a interpretação quando ela toma
a parte e não mostra o todo, não
mostra o contexto, quando ela pega
o fragmento e transforma o fragmento numa coisa desproporcionadamente grande. Como sou cientista social, quando faço as exegeses de
textos e se algum aluno meu fizesse
isso, eu reprovaria por ser ou incompetente ou imoral, ou estar burlando ou não ter a capacidade de entender do que se trata.
Mas, como não sou mais professor, sou apenas presidente da República, quase sempre me calo. E,
quando calo, não calo porque consenti, não calo porque concordei,
não calo porque temi. Calo porque
sei a responsabilidade do meu cargo, do cargo em que o povo me pôs
aqui por duas vezes já. Calo porque,
muitas vezes, é mais fácil vociferar
do que atuar. E nós estamos atuando. Atuando, transformando, fazendo o Brasil progredir.
Por vezes, há quem confunda até
mesmo a Constituição, até mesmo
institutos tão importantes como o
impeachment, com uma transgressão de Código de Trânsito e, a toda
hora, tomam multa, multa, multa.
Meu Deus! Há limites. Há limites da
paciência nacional ao ver a leviandade com que certos setores do país
e da oposição se comportam diante
de fatos que são tranquilos, serenos,
que podem ser julgados, podem ser
criticados e podem até estar errados, mas que não podem ser objeto
de utilização pela paixão política e
muito menos pela voracidade de
mercado, que faz esquecer que nós
estamos numa nação.
E hoje, o que aqui se está discutindo é uma questão que é da educação, que é o atendimento a uma demanda da sociedade. Quero terminar recordando que não há nada
-não só no governo, na vida- que
se mantenha no longo prazo, que
responda ao julgamento tranquilo
da história, que não tenha fundamento moral. Sem moral não há
progresso.
Orgulho-me de dizer que este governo é um governo de moral. Que
este governo é um governo que,
dentro do possível, das condições
-que diz que é necessário, que
mostrou que é necessário- cumpre o seu programa. E cumpre da
maneira mais transparente que é
possível e sempre que possível. E
um governo que, por isso mesmo,
tem na moral o seu fundamento.
Não pode transigir com as leviandades, com as interpretações malévolas, com as insinuações, com as distorções, sejam elas de quem for, mas
muito menos ainda, quando se trata
de interpretações, distorções, aleivosias sobre o presidente da República.
Tenta-se banalizar a apropriação
da privacidade de alguém, simplesmente para fazer barulho. E outros
aproveitam-se disso como ensejo
para banalizar um instrumento
constitucional da maior respeitabilidade, transformando ou querendo
transformar este país numa terra
sem lei, sem Justiça, sem audiência
pública dos interesses em jogo, sem
responsabilidade.
Eu espero que, com essas bolsas,
que são muitas -e muitas outras
virão-, possamos formar cidadãos
que tenham, realmente, um compromisso moral mais forte do que
aquele que até hoje foi possível alcançar em muitos dos nossos costumes. E que esse compromisso moral
não seja apenas uma hipocrisia, não
seja apenas uma apelação pseudo-ética para disfarçar a falta de capacidade de reconhecer o imenso esforço que está sendo feito neste país, no
dia-a-dia. Não por mim apenas, não
pelos ministros apenas, não pelos
parlamentares apenas mas por essa
sociedade inteira, que tem que se orgulhar de si, tem que se sentir como
uma sociedade capaz, como foi capaz, ainda há pouco, de enfrentar
desafios econômicos grandes, capaz
de enraizar a democracia e de separar o que é abuso do que é crítica, o
que é verdade do que é suspeita, a
suspeita que tem fundamento da
suspeita que não tem nenhum.
Tenho certeza de que um único
caminho nos levará a evitar que, no
futuro, pessoas de boa-fé, pessoas
trabalhadoras, pessoas que têm sua
vida dedicada, sejam postas no pelourinho, simplesmente pelas razões já alegadas aqui por mim. Só há
um caminho para isso: é mais educação, mais educação, mais educação. Não vai bastar o crescimento
econômico. Não vai bastar a distribuição de renda. Mais educação e
educação inspirada pela noção fundamental que é a consciência do que
se está fazendo e uma forte motivação moral que não confunda nunca
o interesse particular com o interesse público.
Isso vale não só para quem exerce
funções públicas, vale também para
aqueles que criticam as funções públicas, que não devem confundir
seus interesses particulares, porventura existentes, por justos que
sejam, com o julgamento dos homens públicos.
O ministro Paulo Renato é um
grande ministro. Tem o meu aplauso."
Leia a seguir a íntegra do discurso de FHC na posse do Conselho
de Ética do Serviço Público, ontem no Planalto.
"Só me resta agradecer o esforço
que foi desenvolvido, nesses últimos anos, pela Comissão de Reforma do Estado e, especialmente, o esforço feito mais recentemente por
esta mesma Comissão no sentido da
proposição, que ora se materializa,
de um conjunto de regras que permitam à administração pública estar ao abrigo de dúvidas a respeito
de formas de comportamento apropriado, seja pelos funcionários públicos ou seja pelas altas autoridades.
Foi um trabalho meritório e que
vai ser, agora, finalizado, ainda a
partir do documento de base que foi
trazido pela Comissão de Reforma
do Estado, pela nova Comissão de
Ética Pública.
Tivemos o cuidado, naturalmente, de selecionar, de escolher para
membros dessa Comissão pessoas
que, não sendo parte da administração pública, têm conhecimento da
vida pública e também de setores da
vida privada. Pessoas que, pela sua
independência e pela sua trajetória
pessoal de vida, podem dar uma
contribuição grande na direção do
que o ministro Pedro Parente explicitou. E o dr. Piquet Carneiro, com
mais força ainda, mostrou quais seriam, digamos, os limites de atuação
dessa Comissão.
E é muito importante insistir sobre o fato de que não se trata de uma
comissão para julgar, nem para punir pessoas. É muito mais do que isso. É um conjunto de membros da
Comissão que vai se esforçar para
definir pontos de referência porque,
na vida moderna, exatamente pelas
modificações já ocorridas e em um
entrosamento novo entre o Estado e
a sociedade, há áreas, digamos assim, que são cinzentas, em que não
se sabe, exatamente, o que é apropriado e o que não é. Mesmo o funcionário ou o alto funcionário terá,
muitas vezes, momentos de dúvida:
"Posso ou não posso?" E não há regras. E, muitas vezes, não é possível
tê-las.
Acredito que essa Comissão constituirá, a partir do seu trabalho, um
conjunto de valores, de pontos de
referência para a orientação da administração pública. Isso tem esse
sentido, digamos, construtivo da
elaboração de uma nova cultura no
Brasil, que está em marcha, na verdade.
Creio que os oradores que me antecederam mencionaram os pontos
fundamentais dessas transformações, que requerem alguns aperfeiçoamentos mais explícitos na ação
pública.
Mas é também certo que, embora
já esteja em marcha, existe muito
trabalho a ser feito, até mesmo para
proteger o funcionário e o alto administrador público, porque, muitas vezes, existe também, como aqui
já foi dito, áreas que são não muito
definidas e que, de antemão, setores
da sociedade já consideram condenáveis, se houver alguma atuação
nessas áreas que não tenha um procedimento mais claro.
Portanto, não se trata, aqui, de punir. Não se trata, como diria Foucault, de vigiar e punir. Vigiar, sim.
Punir, eventualmente. Mas há outros órgãos para punição. É muito
mais do que isso. Trata-se de criar
uma cultura que, ao mesmo tempo
em que limite a ação dos membros
do governo e do Estado, também limite as apreciações daqueles que,
não sendo membros do governo e
do Estado, muitas vezes, no desconhecimento do comportamento
efetivo desses membros, se abalançam a fazer juízos que podem vir a
ser lesivos para o conceito das pessoas envolvidas. Portanto, não se
trata, simplesmente, de um órgão
que tenha a ver com, digamos, o setor da administração interna do Estado. É uma interface entre a administração do Estado e a sociedade.
Essa mesma Comissão, de alguma
maneira espero vai definir, com
mais clareza, esses canais de participação e as formas de regulação do
comportamento dos funcionários
nas atividades que são inovadoras e
que têm que ser feitas. E têm que
permitir que os funcionários, qualquer que seja o seu nível, possam assumir as responsabilidades inerentes a seus cargos. Como disse aqui o
Dr. Pedro Parente, porque, não havendo essas regras e havendo na sociedade, como é natural, uma exigência crescente de formas de conduta, muitas vezes, inibe-se a ação
responsável do funcionário ou do
gestor público em geral, no sentido
de que ele possa correr risco de,
agindo em nome do interesse público, com motivação correta, vir a ser
julgado precipitada ou incorretamente.
Seria, portanto, um mecanismo
de permitir uma ponte, portanto,
entre o que a sociedade deseja, o que
administração faz e o que é bom, dizer quais são os valores que estão
envolvidos nessas situações que se
produzem no mundo contemporâneo.
Desejo que tenham muito êxito no
trabalho. Agradeço, e agradeço
muito, porque, como não existem
ainda essas regras, qualquer um que
entre para o governo está sujeito a
ser mal interpretado nas duas decisões. Espero que tenham definições
rápidas, para que a interpretação
possa ser ajustada corretamente para todos. E estou seguro, pelo que
conheço do trabalho individual de
cada um dos membros dessa Comissão, que ela terá um papel dinamizador, um papel modernizador,
mas, sobretudo, ajudará aquilo que
é fundamental em qualquer governo: que suas bases morais sejam sólidas.
Muito obrigado."
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