São Paulo, quinta-feira, 28 de junho de 2001

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ROMBO AMAZÔNICO

Ex-gerente confirma em depoimento que senador era cliente do Hilton, onde foi visto no dia da venda de TDAs

PF pede registro de hospedagem de Jader

RONALD FREITAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado Luís Fernando Ayres requereu ontem ao hotel Hilton de São Paulo informações sobre a eventual hospedagem do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), em dezembro de 1988. No dia 12 daquele mês e ano, o peemedebista foi visto na companhia do fazendeiro Vicente Pedrosa da Silva no saguão do hotel, minutos depois de Pedrosa ter recebido o pagamento pela venda de TDAs (Títulos da Dívida Agrária) irregulares.
Na ocasião, Pedrosa entregou o cheque a Jader, de acordo com conversa entre o ex-banqueiro Serafim de Moraes, sua mulher Vera Campos e o advogado Gildo Ferraz. Os diálogos, gravados por Ferraz, foram publicados pela revista "IstoÉ".
O Hilton, que mantém arquivado o registro de hóspedes do período, também terá de informar sobre o registro de Pedrosa e sua mulher, Diana Maria de Paula.
O alemão Johane Trenkle, que gerenciou o hotel de 1987 até a sua aposentadoria, em janeiro de 2000, confirmou em depoimento a Ayres, ontem, ter visto Jader várias vezes no Hilton de São Paulo. Mais de uma vez, Trenkle teria cumprimentado Jader e sua ex-mulher, a deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA).
Na semana passada, em entrevista à Folha, Trenkle disse que recebia Jader pessoalmente. O então ministro da Reforma e Desenvolvimento Agrário tinha tratamento especial por ser um hóspede vip. Trenkle conheceu o casal Barbalho quando trabalhou no hotel Hilton de Belém, antes de ser transferido para São Paulo.

Recibo inédito
O encontro entre o senador e o fazendeiro no saguão do hotel foi revelado por Vera Campos. "Pedi a Pedrosa para me apresentar a Jader numa tentativa de salvar a fazenda Timboré", disse. Primeira fazenda comprada por Serafim, em 1954, a Timboré tinha sido desapropriada em 1986. Até hoje o casal não recebeu a indenização pela desapropriação, segundo a ex-corretora.
Vera e o marido também depuseram ontem na superintendência da Polícia Federal em São Paulo. Ao final do depoimento, a ex-corretora abriu mão dos sigilos bancário e telefônico, dois dias depois do Senado determinar a quebra do sigilo dela, de Serafim e de Pedrosa.
"Não fiz o mesmo porque, desde que meu banco [Agrobanco" foi liquidado, eu não tenho conta bancária", disse Serafim.
Vera entregou ao delegado a cópia de um recibo de cartão de crédito emitido por um restaurante de São Paulo, no dia 6 de dezembro de 1988. "Nesse dia, eu e o Serafim almoçamos ou jantamos com o Pedrosa no La Traineira", disse. O recibo não prova que Pedrosa tenha estado com o casal no restaurante. Para Vera, entretanto, é mais uma tentativa de confirmar os seguidos encontros que o casal diz ter tido com o fazendeiro nos dias que antecederam a compra dos TDAs.

Desapropriação irregular
Os 55,2 mil títulos comprados por Serafim e Vera de Pedrosa representam apenas 7% do total de TDAs comprados pelo casal para quitar as dívidas do Agrobanco. Os TDAs entregues por Pedrosa, porém, foram obtidos com a desapropriação irregular da fazenda Paraíso. "Nós não sabíamos das irregularidades", disse Serafim. "É impressionante que em um mês o Vicente [Pedrosa" tenha conseguido desapropriar a fazenda e receber os TDAs como pagamento. Nós esperamos receber pela Timboré há 13 anos", afirmou Vera.
Por causa das irregularidades, Pedrosa foi condenado a seis anos de prisão e a multa de 750 salários mínimos. Jader, ministro na época da desapropriação, foi excluído do processo que condenou outras três pessoas. Pedrosa, que está em liberdade, será ouvido pelo delegado Ayres hoje, em Brasília.



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