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São Paulo, sábado, 28 de junho de 2003

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GOVERNO OU OPOSIÇÃO?

Documento do partido critica ainda relação com MST; PC do B quer mudar reforma da Previdência

Aliado, PPS ataca política econômica de Lula

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal voltou ontem a ser alvo da artilharia dos aliados descontentes com os rumos da administração de Luiz Inácio Lula da Silva. Pela segunda vez desde março, o PPS divulgou um documento em que ataca pontos centrais do governo -desta vez, a política econômica, o mecanismo para preencher cargos e a relação com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).
Já o PC do B realizou conferência nacional reafirmando o apoio a Lula, mas deixando claro que cobra mudanças importantes na reforma da Previdência em tramitação na Câmara dos Deputados.
O documento do PPS -partido da base e ao qual pertence o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional)- tem dez páginas e foi elaborado pelo presidente nacional da legenda, deputado Roberto Freire (PE), sob o título "O Brasil quer mudanças reais".
Nele, o deputado afirma "que os grandes interesses nacionais estão comprometidos pela política monetária colocada em prática pelo governo federal".
Freire também foi o responsável por elaborar, em março, o primeiro documento crítico, em que acusava o governo de não ter um projeto estratégico para administrar o país. O texto foi entregue a parlamentares do partido e irritou membros do governo e do PT.
No documento de ontem -também entregue ao chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho-, Freire se concentra principalmente na questão econômica, dando demonstrações de que o PPS ainda não está convicto de que o governo pretende adotar políticas de crescimento.
"A prudência pode até explicar a continuidade dos traços conservadores da política econômica de Fernando Henrique Cardoso nestes primeiros cinco meses de governo Lula", diz o texto. "Entretanto, tememos que ela possa ser, para além da prudência, o resultado da falta de um programa de mudanças, da pouca ousadia e da capitulação ao financismo que garroteia o esforço nacional de poupança e desenvolvimento."
O documento diz ainda ser "inconcebível" a manutenção da taxa de juros em 26% ao ano, critica um suposto abandono da política cambial, uma suposta rendição ao capital volátil e defende uma alteração no cálculo do superávit primário (receita menos despesas, excluído o pagamento de juros).
Fora da área econômica, o texto do PPS cobra ainda do governo a não-rendição à prática de privilegiar as indicações políticas em detrimento das técnicas nas ocupações dos cargos federais. "Os setores estratégicos e as atividades essenciais do Estado (...) não podem ser instrumentalizados partidariamente, muito menos serem objetos de barganhas políticas", diz outro trecho do documento.
Outra forte crítica foi direcionada à relação do governo com o MST. Freire considera que o Planalto está sendo leniente com o movimento, que, a exemplo das ligas camponesas do início da década de 60, estariam defendendo uma reforma agrária "na lei ou na marra". "Tudo isso com uma certa tolerância no interior do governo", diz o documento do PPS.
O PC do B, por sua vez, deve aprovar amanhã texto em que reafirma o apoio ao governo, que teria representado "uma virada política no país", segundo as palavras do presidente nacional da legenda, Renato Rabelo.
Apesar das declarações, ficou claro no encontro que a legenda tem sérias restrições à reforma da Previdência. O PC do B apresentou ainda sete emendas ao projeto, entre elas a que suprime a cobrança dos servidores inativos.


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