São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997.



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JULGAMENTO
Advogados do ex-diretor de Orçamento do Congresso dizem que acusadores se contradizem sobre o crime
Defesa de economista alega contradições

Ana Elizabeth Lofrano, mulher de José Carlos, assassinada em 1992 AUGUSTO GAZIR
LUCAS FIGUEIREDO
enviados especiais a Planaltina (DF)

Os advogados de defesa do economista José Carlos Alves dos Santos vão explorar contradições dos depoimentos das duas principais testemunhas de acusação para tentar absolver o ex-diretor de Orçamento do Congresso Nacional.
José Carlos é acusado de ter mandado matar a sua mulher, Ana Elizabeth Lofrano.
As testemunhas de acusação são Lindauro da Silva (detetive) e Valdei de Souza (mecânico).
Os dois são assassinos confessos de Elizabeth e disseram que cometeram o crime a mando de José Carlos.
Em seus diferentes depoimentos à polícia e à Justiça, eles se contradizem e divergem sobre os procedimentos do preparativo e da execução do assassinato.
"Vou mostrar aos jurados que, com tantas contradições, eles não podem estar falando a verdade. Quem se contradiz, mente", afirmou Heraldo Paupério, um dos advogados de defesa.
"Isso é uma linha de defesa, não enfraquece a acusação. Vou esperar a hora para debater no plenário", afirmou o promotor Zacharias Mustafa.
O promotor acusa José Carlos de matar a mulher para ficar com a amante Crislene Oliveira.

Queima de arquivo
A argumentação da defesa é que os mandantes são os "anões do Orçamento" (parlamentares denunciados por José Carlos como corruptos).
O objetivo seria "queima de arquivo". Os parlamentares, diz José Carlos, temiam que Ana Elizabeth contasse o que sabia sobre as fraudes no Orçamento. O economista relatava à mulher as irregularidades que ele e os parlamentares executavam.
"Não vamos apresentar provas. Vamos apresentar indícios mais fortes (contra os 'anões') do que os indícios que existem contra José Carlos", disse Joaquim Flávio Spindula, advogado de defesa.
"Ainda aguardo esses indícios. Bomba, até agora, só se for no prédio (do Fórum de Planaltina)", ironizou o promotor Mustafa.
Spindula e Mustafa vêm discutindo durante o julgamento por causa de uma entrevista que o promotor deu ao telejornal "DF TV", da Rede Globo. O advogado queria exibir a gravação no tribunal, mas Mustafa vetou.
Na entrevista à TV, segundo Spindula, Mustafa admitiu a possibilidade de participação de políticos no assassinato. O promotor disse que fez a afirmação em tom de ironia.
O dia de ontem do julgamento se resumiu a leitura de parte das 4.000 páginas do processo. O promotor pediu a leitura de vários trechos do documento.
Ex-deputado
O advogado Safe Carneiro, que trabalhou para o ex-deputado João Alves (um dos "anões"), está acompanhando o julgamento em Planaltina (40 km de Brasília).
A Folha apurou que Carneiro, semanas atrás, procurou os advogados de defesa de José Carlos para saber se o ex-deputado seria atacado durante o julgamento.
O advogado negou estar acompanhando o julgamento a mando de João Alves. "Ele deixou de ser meu cliente há três meses."
Carneiro afirmou que está em Planaltina para escrever um artigo para o jornal "Correio Braziliense".
Aceno
Ao entrar ontem no tribunal, José Carlos acenou para o filho Eduardo Alves, sentado na primeira fila da platéia. O filho respondeu ao cumprimento.
"Acredito no meu pai e nada mais", afirmou ele.



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