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"ACM é sujo como pau de
galinheiro", afirma Ciro
MÔNICA BERGAMO
da Reportagem Local
Com 16% das intenções de voto
para presidente,
de acordo com a
última pesquisa Datafolha, atrás
apenas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PPS) está
viajando o Brasil em campanha
eleitoral. Na sexta-feira, 25, ele esteve em São Paulo para a filiação de
três deputados estaduais ao PPS.
Num gabinete da Assembléia Legislativa, recebeu a Folha para a seguinte entrevista, concedida ao lado da mãe, Maria José, 71, da tia,
Terezinha, 67, e da irmã, Lia, 33:
Folha - A campanha terminou há
nove meses e o senhor tem aparecido pouco na imprensa. Como explica estar em segundo lugar na
disputa presidencial?
Ciro Gomes - A mídia precisa de
espetáculo para dar visibilidade às
pessoas. Uma boa parte dessa mídia, por outro lado, está comprometida com a estratégia de poder.
O que estou fazendo? Visitando
cinco Estados por semana.
Folha - O senhor não acha que está, na verdade, atraindo a preferência de eleitores descontentes
com o governo federal?
Ciro - O descontentamento poderia se traduzir numa preferência
por outras pessoas - Lula (PT), Itamar Franco (PMDB), Garotinho
(PDT). O Lula está com 28%, que é
o patamar histórico mais baixo do
PT. Na pré-campanha de 1994, o
Lula chegou a ter 40%. Em 98, chegou a 38%.
Folha - O senhor está atraindo os
votos do Lula?
Ciro - O definhamento do PT é
um fato real. O partido está perdendo um pouco o encanto. Já
chamei a atenção do pessoal do PT.
Se você espremer o discurso, é uma
mistura de protesto e ressentimento com promessa social irrealizável. Por outro lado, o processo político, com o Fernando Henrique,
se sofisticou. O presidente representa fatores reais de poder: um
ideário internacional forte, o setor
exportador, a oligarquia parlamentar, o setor financeiro. Ele é
orgânico, ao contrário de tudo o
que caracterizou o enfrentamento
tradicional do PT.
Folha - Ainda assim, parece que
o Lula vai ser candidato outra vez.
Ciro - Basta alguém ficar em segundo lugar contra ele que ganha a
eleição. Eu não vou aderir a ele.
Acho absolutamente razoável que
ele não queira aderir a mim também. O que estou propondo, de
novo, é uma ampla convergência
de centro-esquerda.
Folha - Mas se ninguém abre mão
das respectivas candidaturas, como isso pode acontecer?
Ciro - Sairíamos pelo Brasil eu,
Lula, Miguel Arraes, Leonel Brizola, as dissidências do PMDB e do
PSDB. Abriríamos uma dinâmica
de seminários regionais, acessíveis
a todos os cidadãos, e daí tiraríamos uma grande convergência para políticas de educação, saúde,
previdência. As pessoas que participassem desses seminários se inscreveriam no que chamaríamos de
diálogo nacional. Em 2001, em
eleições primárias, escolheriam o
candidato da centro-esquerda para as eleições de 2002.
Folha - O PT correria o risco de
abrir mão de ter um candidato?
Ciro - O Lula concordou totalmente. Pensei que faria reparos,
mas não. Conversamos há dois
meses em São Paulo, tendo como
testemunhas o João Hermmann
(deputado federal do PPS) e o José
Dirceu (presidente do PT). Ele disse: "Perfeito, vamos fazer".
Folha - O senhor acredita que o
presidente da República influirá
nas próximas eleições?
Ciro - Ele vai ser uma companhia
constrangedora. No governo, você
pode às vezes passar por momentos de impopularidade. Mas ele
perdeu a autoridade moral.
Folha - O PSDB consegue ter um
candidato forte? Mário Covas, por
exemplo?
Ciro - Se eu for candidato contra
ele, será uma disputa de idéias. Se
posso fazer delicadamente uma
censura, é a de que o Covas não
cumpre o papel histórico determinado a ele. Que é, sem romper com
Fernando Henrique, marcar posição, marcar um campo.
Folha - Esse papel não caberia
também ao governador do Ceará,
Tasso Jereissati?
Ciro - Caberia. Mas não quero
melindrá-lo ou ser indelicado. Tenho uma amizade com o Tasso,
fraterna, que me dá acesso diário a
ele para dizer isso.
Folha - Há notícias de que Tasso e
Fernando Henrique estão afastados. Nessa hipótese, seria mais fácil Tasso apoiar a sua candidatura.
Ciro - O que posso dizer é que
adoraria ter o apoio do Tasso, ou
então poder apoiá-lo.
Folha - O senhor acha que ele fica
ao lado do presidente Fernando
Henrique até o fim?
Ciro - Não sei.
Folha - Como está a relação deles?
Ciro - Não sei.
Folha - O senhor diz que a candidatura de Antonio Carlos Magalhães à presidência, uma vez confirmada pelo PFL, emborcaria em
um mês, pois apareceria todo o tipo de escândalo. Que escândalo?
Ciro - O escândalo da pasta rosa,
que mostra financiamento ilegal
do Ângelo Calmon de Sá e do Banco Econômico para a campanha
eleitoral dele. O escândalo da sociedade dele com o mesmo Ângelo
num banco nas Ilhas Cayman. E
outras coisas do passado.
Folha - Ele diz que tem moral inatacável, e que a prova é que só
quem tem estatura moral compra
as brigas que ele compra.
Ciro - Não tem. Não aguenta trinta dias de debate. Ele especializou-se em encobrir o abuso com arrogância e grito. Outro dia censurou
o presidente do Supremo Tribunal
Federal por ter sido nomeado juiz
pela ditadura e indicado ao STF
pelo Collor. (rindo) Logo ele, Antonio Carlos. Ele pensa que as pessoas são imbecis. Pensa que o silêncio na Bahia diante dos desatinos dele é imbecilidade. Não é. É
medo, porque ele controla a polícia, a justiça, a televisão, o jornal,
as rádios do interior, dá 24 horas
para fulano ir embora do Estado.
Só que aqui fora nós não temos
medo. Antonio Carlos não compreende a desavença democrática,
quer logo destruir as pessoas. É outra coisa que em trinta dias se revela.
Folha - Como assim?
Ciro - Ele vai "dar" em repórter.
Vai tu lá e pergunta para ele: que
história é essa aí de OAS, conhecida como Obra Arranjada pelo Sogro? (A empreiteira OAS é do genro de ACM, Cesar Matta Pires).
Que negócio é esse de Jorge Lins
Freire no Banco do Nordeste no
governo Collor? Como é essa história de Lafayette Coutinho (acusado de irregularidades quando
presidiu o Banco do Brasil no governo Collor)? Ele "dá" em vocês e
pronto. Perdeu a eleição.
Folha - Eram pessoas ligadas a
ele?
Ciro - Sim, senhora. Todo o aparato financeiro do governo Collor
-Banco do Nordeste, Banco do
Brasil e Caixa Econômica Federal
-foi dominado por Antonio Carlos
e Ângelo Calmon de Sá, que nomeavam quadros do Banco Econômico para esse cargos. ACM não
aguenta o debate. Pela natureza,
antidemocrática, e porque é sujo
que só pau de galinheiro.
Folha - É o quê?
Ciro - (aproxima a boca do gravador e fala alto) É sujo que só pau de
galinheiro.
Folha - O senhor disputaria a presidência contra o governador de
Minas Gerais, Itamar Franco?
Ciro - A disputa pela presidência
é de uma responsabilidade política
que não pode estar vulnerável a
manhas e amizades pessoais.
Folha - Por que o senhor não
apoiou a moratória do Itamar?
Ciro - Como governador do Ceará, paguei 100% da dívida mobiliária. Como imagina que eu me sinto
vendo Estados ricos não pagarem?
Em nome de minha amizade com
Itamar, fiquei calado. Mas não
concordo, de forma nenhuma.
Folha - Apesar das críticas, o senhor não concorda que o pior da
crise econômica já passou?
Ciro - Isso é loucura, papo-furado, uma mentira perigosa, porque
desmobiliza. O Armínio Fraga,
que é macaco velho de mercado,
reduziu os prazos para aplicações
estrangeiras, eliminou impostos,
botou a taxa de juros lá em cima e
entupiu o Brasil de dólar de curto
prazo. O paciente não morreu, mas
o câncer, que é a dívida pública,
aumentou, está em US$ 400 bilhões. Vamos ter que pagar US$
100 bilhões só de juros. O governo
não tem isso. Com sacrifício enorme, conseguirá um superávit pífio,
que não paga nem metade do buraco. O risco de se investir no país
aumenta. Será necessário rolar a
dívida com juro mais alto, prazo
mais curto. Uma hora o governo
não consegue mais. E soluciona isso com a volta da inflação.
Folha - Ou com moratória.
Ciro - Interna, não. Nunca houve,
a não ser no confisco do governo
Collor. E na Argentina, quando
houve o "currency board". É o receituário que estão oferecendo ao
presidente.
Folha - Quem está oferecendo a
solução de "currency board" ao
presidente?
Ciro - Esses professores banqueiros que ele ouve. O André Lara Rezende, o Pérsio Arida, o Luiz Carlos Mendonça de Barros. Eu acho,
no entanto, que a probabilidade
maior é a volta da inflação.
Folha - Uma última pergunta: o
senhor vai casar?
Ciro - (fica vermelho) Não sei.
Quem já foi casado uma vez, como
eu, vai pensar muito antes de se casar outra vez.
Lia (irmã de Ciro) - Só se a mamãe autorizar.
Folha - O senhor está namorando?
Ciro - Não.
Folha - O senhor não está namorando com a atriz Patrícia Pillar?
Ciro - Posso ser visto num restaurante com ela, sou amigo dela, e
tal... posso eventualmente estar aí
com ela numa relação de amizade.
Mas, por enquanto, não estou com
relação nenhuma, formal, com
ninguém.
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