|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEM CRISE
"É um exagero ver
ameaça institucional"
DA REPORTAGEM LOCAL
A tensão entre o governo e os
servidores públicos pode ampliar
o apoio ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, avalia o cientista político Fábio Wanderley Reis, 64,
professor emérito da UFMG
(Universidade Federal de Minas
Gerais) e autor do livro "Mercado
e Utopia". Para ele, é um "exagero" ver ameaças à estabilidade
institucional do país.
Folha - Greve dos juízes, conflitos
com servidores públicos e protestos. Como o sr. analisa a semana de
tensão que o governo Lula viveu
com certos setores sociais?
Fábio Wanderley Reis - Era fatal.
Havia uma expectativa do funcionalismo em termos diferentes,
com base na clássica divisão entre
esquerda e direita. O governo Lula começou com uma expectativa
de turbulência desse tipo, com a
situação agravada pelas dificuldades internacionais. Mas manejou
de forma positiva esse quadro. Ao
levar adiante as reformas, era inevitável a resistência dos que têm
seus interesses afetados. O governo tem tido desacertos, com lideranças batendo cabeça, mas tem
se comportado de forma positiva.
Folha - Essa tensão com os movimentos organizados pode evoluir
para uma crise mais profunda?
Wanderley Reis - O sempre citado MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], com
sua retórica de perspectiva revolucionária antiquada, não me
preocupa. Achava que teria carta
branca para caminhar em direção
à revolução e não teve. Nesse caso,
o governo tem de continuar a agir
com serenidade. É natural a reação de servidores e juízes, apesar
de neste último caso ser de uma
impropriedade flagrante. No regime autoritário, mexeu-se em diversas prerrogativas dos juízes,
mas não houve greve. Só se fala
disso agora, com a ameaça de mexer em seu dinheiro. Mas é um
exagero achar que há uma ameaça à estabilidade institucional.
A relação do Lula com os funcionários dificilmente azedará.
Pode surgir uma nova central sindical e até um partido de esquerda. Mas isso acabará sendo secundário, porque o importante é a relação do Lula com o eleitorado.
Folha - O PT tem acertado mais do
que errado?
Wanderley Reis - O PT repete no
governo a experiência da esquerda européia. O realismo se impõe
com a necessidade de fazer composições e concessões. O partido
cometeu erros de um aprendizado complexo, que é administrar.
O presidente fala demais, mas joga o jogo. Pode ampliar sua base
de apoio, tornar-se mais forte. Até
aqui tem sido um bom sinal para
a base institucional.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|