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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

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SEM CRISE

"É um exagero ver ameaça institucional"

DA REPORTAGEM LOCAL

A tensão entre o governo e os servidores públicos pode ampliar o apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, avalia o cientista político Fábio Wanderley Reis, 64, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e autor do livro "Mercado e Utopia". Para ele, é um "exagero" ver ameaças à estabilidade institucional do país.
 

Folha - Greve dos juízes, conflitos com servidores públicos e protestos. Como o sr. analisa a semana de tensão que o governo Lula viveu com certos setores sociais?
Fábio Wanderley Reis -
Era fatal. Havia uma expectativa do funcionalismo em termos diferentes, com base na clássica divisão entre esquerda e direita. O governo Lula começou com uma expectativa de turbulência desse tipo, com a situação agravada pelas dificuldades internacionais. Mas manejou de forma positiva esse quadro. Ao levar adiante as reformas, era inevitável a resistência dos que têm seus interesses afetados. O governo tem tido desacertos, com lideranças batendo cabeça, mas tem se comportado de forma positiva.

Folha - Essa tensão com os movimentos organizados pode evoluir para uma crise mais profunda?
Wanderley Reis -
O sempre citado MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], com sua retórica de perspectiva revolucionária antiquada, não me preocupa. Achava que teria carta branca para caminhar em direção à revolução e não teve. Nesse caso, o governo tem de continuar a agir com serenidade. É natural a reação de servidores e juízes, apesar de neste último caso ser de uma impropriedade flagrante. No regime autoritário, mexeu-se em diversas prerrogativas dos juízes, mas não houve greve. Só se fala disso agora, com a ameaça de mexer em seu dinheiro. Mas é um exagero achar que há uma ameaça à estabilidade institucional.
A relação do Lula com os funcionários dificilmente azedará. Pode surgir uma nova central sindical e até um partido de esquerda. Mas isso acabará sendo secundário, porque o importante é a relação do Lula com o eleitorado.

Folha - O PT tem acertado mais do que errado?
Wanderley Reis
- O PT repete no governo a experiência da esquerda européia. O realismo se impõe com a necessidade de fazer composições e concessões. O partido cometeu erros de um aprendizado complexo, que é administrar. O presidente fala demais, mas joga o jogo. Pode ampliar sua base de apoio, tornar-se mais forte. Até aqui tem sido um bom sinal para a base institucional.


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