São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Ex-ministro jantou com Delcídio na última terça, dia em que mulher de Valério depôs

CPI posterga decisão sobre convocação de Dirceu

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ninguém se mexeu no Palácio do Planalto nem no PT anteontem quando Renilda de Souza envolveu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu nas operações de empréstimo que teriam servido para irrigar o caixa dois de políticos e o chamado "mensalão".
Ao tomar conhecimento de que seu nome aparecera no depoimento da mulher do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza à CPI dos Correios, o próprio Dirceu telefonou para o senador Delcídio Amaral (PT-MS).
Delcídio presidia a CPI e o atendeu pelo celular. Combinaram um jantar, que ocorreu na terça-feira mesmo, por volta das 22h30, na residência de Dirceu. O ex-ministro reclamou da descoordenação do PT e do governo no caso.
No dia seguinte, ontem, o resultado apareceu. A convocação de Dirceu para depor na CPI dos Correios será votada apenas na semana que vem. Delcídio Amaral negociou essa postergação com integrantes do PFL e do PSDB. Em troca, também ficou para mais adiante a decisão de convocar ou não o senador tucano Eduardo Azeredo (MG), acusado de ser beneficiário de esquema de caixa dois em 1998.
Esse episódio de Dirceu negociando sozinho sua situação com o presidente da CPI dos Correios é apenas um entre vários exemplos da desagregação da coordenação política do governo e do PT. Além de desorganizados, os governistas também estão mal-informados.
Anteontem, quando ainda não havia sido debelado o boato de que o STF (Supremo Tribunal Federal) tinha uma lista completa com os receptores de "mensalão", o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), mostrava apreensão.
Numa conversa com integrantes da base aliada sobre atitudes a serem tomadas, Arlindo dizia ser necessário aguardar. "Não dá para planejar nada. Primeiro temos de esperar essa lista do Supremo chegar. Eu tenho certeza de que meu nome não está lá", disse para um grupo de deputados.
Outra comprovação da desorganização do governo politicamente é o fato de vários líderes partidários ainda não terem recebido, até hoje, pelo menos um telefonema de Jaques Wagner, o novo coordenador político de Lula desde a semana passada.
Jaques Wagner substituiu Aldo Rebelo (PC do B-SP), que voltou a ser deputado federal. Sua função é estar antenado para as demandas das bancadas dos partidos aliados ao Palácio do Planalto. É necessário estabelecer uma conexão diária com todos os líderes de cada partido.
Integrante de elite petista, o deputado federal Sigmaringa Seixas (PT-DF) não sabe explicar a razão da ausência da atuação de Jaques Wagner. "Deve ter alguma razão, mas não creio. Os líderes devem estar ocupados com outras coisas", diz Sigmaringa.
Na internet, ontem à noite, a página do Palácio do Planalto ainda não alterou totalmente os dados sobre a coordenação política. Quem clica em "biografia" e "fotos", depara-se com informações sobre Aldo Rebelo -apesar de Jaques Wagner ter tomado posse há mais de uma semana. A agenda do órgão parou de ser atualizada no último dia 6.


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