|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Ex-ministro jantou com Delcídio na última terça, dia em que mulher de Valério depôs
CPI posterga decisão sobre convocação de Dirceu
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ninguém se mexeu no Palácio
do Planalto nem no PT anteontem quando Renilda de Souza envolveu o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu nas operações de empréstimo que teriam servido para
irrigar o caixa dois de políticos e o
chamado "mensalão".
Ao tomar conhecimento de que
seu nome aparecera no depoimento da mulher do empresário
Marcos Valério Fernandes de
Souza à CPI dos Correios, o próprio Dirceu telefonou para o senador Delcídio Amaral (PT-MS).
Delcídio presidia a CPI e o atendeu pelo celular. Combinaram
um jantar, que ocorreu na terça-feira mesmo, por volta das 22h30,
na residência de Dirceu. O ex-ministro reclamou da descoordenação do PT e do governo no caso.
No dia seguinte, ontem, o resultado apareceu. A convocação de
Dirceu para depor na CPI dos
Correios será votada apenas na
semana que vem. Delcídio Amaral negociou essa postergação
com integrantes do PFL e do
PSDB. Em troca, também ficou
para mais adiante a decisão de
convocar ou não o senador tucano Eduardo Azeredo (MG), acusado de ser beneficiário de esquema de caixa dois em 1998.
Esse episódio de Dirceu negociando sozinho sua situação com
o presidente da CPI dos Correios
é apenas um entre vários exemplos da desagregação da coordenação política do governo e do
PT. Além de desorganizados, os
governistas também estão mal-informados.
Anteontem, quando ainda não
havia sido debelado o boato de
que o STF (Supremo Tribunal Federal) tinha uma lista completa
com os receptores de "mensalão",
o líder do governo na Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), mostrava apreensão.
Numa conversa com integrantes da base aliada sobre atitudes a
serem tomadas, Arlindo dizia ser
necessário aguardar. "Não dá para planejar nada. Primeiro temos
de esperar essa lista do Supremo
chegar. Eu tenho certeza de que
meu nome não está lá", disse para
um grupo de deputados.
Outra comprovação da desorganização do governo politicamente é o fato de vários líderes
partidários ainda não terem recebido, até hoje, pelo menos um telefonema de Jaques Wagner, o
novo coordenador político de Lula desde a semana passada.
Jaques Wagner substituiu Aldo
Rebelo (PC do B-SP), que voltou a
ser deputado federal. Sua função é
estar antenado para as demandas
das bancadas dos partidos aliados
ao Palácio do Planalto. É necessário estabelecer uma conexão diária com todos os líderes de cada
partido.
Integrante de elite petista, o deputado federal Sigmaringa Seixas
(PT-DF) não sabe explicar a razão
da ausência da atuação de Jaques
Wagner. "Deve ter alguma razão,
mas não creio. Os líderes devem
estar ocupados com outras coisas", diz Sigmaringa.
Na internet, ontem à noite, a página do Palácio do Planalto ainda
não alterou totalmente os dados
sobre a coordenação política.
Quem clica em "biografia" e "fotos", depara-se com informações
sobre Aldo Rebelo -apesar de
Jaques Wagner ter tomado posse
há mais de uma semana. A agenda do órgão parou de ser atualizada no último dia 6.
Texto Anterior: Caixa 2: Genoino terá de depor no Maranhão Próximo Texto: Para Dirceu, acusações são frágeis Índice
|