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Esquema sanguessuga agiu em 493 cidades, diz Vedoin
Segundo empresário, fraude em licitações envolveu quase 10% das prefeituras do país
Mato Grosso é o Estado, diz
dono da Planam, com maior
participação de municípios
na máfia, 110; acordos eram
fechados com congressistas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O depoimento do homem
apontado como o chefe da quadrilha dos sanguessugas mostra que a Planam e suas empresas de fachada fraudaram licitações para compra de ambulâncias e de equipamentos hospitalares em pelo menos 493
prefeituras espalhadas por 22
Estados do país.
O esquema -que envolveria
quase 10% das cidades brasileiras- era sempre o mesmo, segundo Luiz Antonio Trevisan
Vedoin. Deputados federais e
senadores ligados à quadrilha
direcionavam verbas do Orçamento da União para que prefeituras adquirissem os veículos e os equipamentos.
Em conluio com os prefeitos,
era armada uma licitação faz-de-conta: participavam, por
exemplo, a Planam e outras
empresas criadas por ela justamente para participar das concorrências fictícias. Vencida a
licitação, a mercadoria superfaturada era entregue. O dinheiro
que sobrava ia para a Planam,
que repassava parte dele para
prefeitos, assessores e congressistas -esses últimos levariam
propina média de 10% do valor
da emenda que apresentavam.
Os Estados que mais teriam
participado do esquema são
Mato Grosso (110 prefeituras),
Paraná (50 prefeituras), Minas
Gerais (42 prefeituras), Rondônia (35 prefeituras) e Pará (32).
"Todos os acordos eram realizados com os parlamentares.
Se os municípios não aceitassem as condições impostas pelos parlamentares, perdiam o
dinheiro da emenda", diz a
transcrição do depoimento de
Vedoin quando ele se referia ao
Estado onde a quadrilha mais
teria atuado, Mato Grosso.
Um exemplo citado por Vedoin nesse Estado: O ex-prefeito de Alta Floresta (MT) Romualdo Júnior teria assinado
um cheque da prefeitura no valor de R$ 10,4 mil destinado a
uma das empresas da Planam.
Os Vedoin então o endossaram
e o devolveram ao ex-prefeito.
Lindberg
O depoimento de Vedoin envolve na quadrilha o prefeito de
Nova Iguaçu (RJ), ex-deputado
federal e ex-presidente da UNE
(União Nacional dos Estudantes), Lindberg Farias (PT).
"No município de Nova Iguaçu, o interrogando [Vedoin]
vendeu seis veículos, no valor
total de R$ 400 mil. Pelo fato de
o interrogando não possuir nenhum acordo com o parlamentar [responsável pela emenda],
a negociação se deu junto ao secretário de Administração André, que falava em nome do
prefeito Lindberg Farias."
Em outro trecho, Vedoin disse que Lindberg, então deputado, apadrinhou uma emenda da
quadrilha e depois, como prefeito, a executou.
"O deputado e prefeito tinha
conhecimento que a emenda
seria direcionada", diz o texto,
ressalvando que Lindberg não
recebeu "qualquer comissão
por essa emenda".
Associações
Segundo Vedoin, não houve
fraude nas licitações feitas por
prefeituras no Rio Grande do
Norte. Emendas apresentadas
pelo ex-deputado Laire Rosado
(PMDB-RN) prestaram-se, porém, a lastrear pagamento de
propinas ao parlamentar.
Nas contas de Vedoin, as
emendas desviadas ultrapassam o milhão de reais. A comissão de Rosado, segundo Vedoin, ficou em 10% do total repassado às entidades -muitas
das quais comandadas por familiares do ex-deputado.
Na Bahia, Estado no qual Vedoin aponta a existência de pelo menos 30 licitações fraudadas, os prefeitos tiveram conhecimento das fraudes, mas
não receberam propina. O mesmo aconteceu com a entidade
ABC, localizada em Salvador.
(RANIER BRAGON E ANDRÉA MICHAEL)
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