São Paulo, terça-feira, 28 de agosto de 2001

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ESPÍRITO SANTO

Empresa teria favorecido governador por meio de um "doc"

Documento mostra depósito de R$ 500 mil para Ignácio

Nestor Muller/"A Gazeta de Vitória"
Manifestantes lavam a escadaria do Legislativo Capixaba, durante dia que foi marcado por discussões sobre o quórum necessário para o prosseguimento do processo de impeachment de José Ignácio


XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, encaminhou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) cópia de um documento de crédito (conhecido como "doc") no valor de R$ 500 mil, saído de empresa identificada como Unitec para a conta do governador José Ignácio Ferreira (sem partido), do Espírito Santo.
O documento, de março de 1999, é uma das novidades da papelada colhida nas últimas semanas pelo Ministério Público Federal para reforçar o inquérito do STJ, que tem o ministro Barros Monteiro como relator.
O governador é acusado, segundo CPI da Assembléia Legislativa e a Procuradoria da República em Vitória, de conivência com esquema de cobrança de propina para a liberação de benefícios fiscais, constituição de um caixa dois de campanha e de ter feito empréstimo bancário irregular.
A transferência de dinheiro -do Banco Cooperativo do Brasil para o Banco do Estado do Espírito Santo- é investigada pela Polícia Federal. Os policiais querem saber, por exemplo, a quem pertence a empresa Unitec que fez o depósito -uma companhia homônima que atua no Estado nega envolvimento no caso.
O Banco Central também deve participar da investigação, pois há suspeita de transações com contas fantasmas -possível crime de falsidade ideológica.
José Ignácio nega as acusações da CPI. Em sua defesa, diz que o seu nome não foi envolvido diretamente em nenhuma denúncia.
O governador também argumenta que afastou todos os suspeitos, incluindo a primeira-dama, Maria Helena Ruy Ferreira.
Nos documentos enviados ao STJ, Brindeiro vê indícios de corrupção e relata a compra de imóveis pela família de José Ignácio.
"Os dados colhidos indicam que a Coopetefes (Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores da Escola Técnica Federal) teria realizado uma série de pagamentos e depósitos para servidores do alto escalão do governo estadual, além de ter financiado a compra de vários imóveis em nome de parentes do governador, como sua esposa, Maria Helena Ruy Ferreira", diz o procurador-geral em ofício protocolado no STJ às 14h20 de 25 de julho.
Entres os documentos enviados por Brindeiro constam também recibos das construtoras responsáveis pelos imóveis adquiridos pela primeira-dama. A firma Primordial Empreendimentos Imobiliários, em resposta ao Ministério Público Federal, confirma que recebeu R$ 10.866,00 da mulher de José Ignácio.
O dinheiro para as transações imobiliárias, ainda segundo os documentos enviados ao STJ, saiu também de conta do Bancoob, ligado à Coopetefes. O titular da conta, no caso dos imóveis, é Raimundo Benedito de Souza Filho, conhecido como Bené, um dos colaboradores e tesoureiro informal da campanha política de José Ignácio, segundo informações da CPI da Assembléia capixaba.

Fantasia de carnaval
Bené pagava a compra de imóveis da família Ignácio e bancava várias despesas menores e de rotina, como a compra de uma fantasia de carnaval para um dos filhos de Ignácio -patrocínio semelhante ao que era executado por PC Farias à família do ex-presidente Fernando Collor, que sofreu impeachment em 1992.
A tática de defesa de PC -dizia que o dinheiro era resultado de sobras de recursos da campanha eleitoral- era a mesma utilizada agora pelos defensores do governador José Ignácio.



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