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Ex-espião guarda documentos em casa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
José Alves Firmino, 31, é um espião arrependido do Exército. Ingressou na carreira militar em 92.
Promovido a cabo, trabalhou na
segunda seção, o nicho da estrutura militar voltado às operações
de inteligência, de 92 a 97. Hoje,
guarda em sua casa, pedaços da
história da arapongagem do Exército desde a década de 70.
Em 1997, brigado com o Exército, Firmino entregou à Comissão
de Direitos Humanos da Câmara
parte dos documentos. Agindo
assim, achava que estaria mais seguro. Queixa-se hoje de que lhe
deram pouca atenção na época.
Foi preso por dez dias. O Exército
reconheceu a autenticidade dos
documentos que vieram à luz.
Na origem do desentendimento
com o Exército está um "acidente
de trabalho". Firmino foi desmascarado quando atuava como
agente infiltrado num sindicato
de Brasília. Processado por falsidade ideológica (portava carteira
de jornalista), sentiu-se abandonado pelo Exército. "Eles fornecem o documento falso e a gente
se dana sozinho", afirma.
Firmino diz também ter contraído hanseníase em serviço.
Transferido para Goiânia, ficou
no estaleiro por cerca de dois
anos. No ano passado, foi reformado. O motivo alegado consta
de documento expedido pelo departamento de pessoal: "a incapacidade decorre dos diagnósticos
psiquiátricos. Não há relação de
causa e efeito entre as doenças adquiridas em ato de serviço e as
condições mórbidas atuais".
De Doi-Codi a Cony
Nos contatos com a Folha, Firmino não demonstrou sinais de
insanidade. Os documentos que
mantém, de resto, não são fruto
de nenhum tipo de alucinação.
Oferecem um cardápio variado
das atividades do Exército.
Há de tudo: de papéis do antigo
Doi-Codi, fazendo referência a
presos mortos sem nominá-los, a
relatórios de operações de vigilância sobre pessoas tidas como
"subversivas". De pedidos de espionagem das atividades de advogados a referências ao jornalista e
escritor Carlos Heitor Cony.
Cony virou personagem de um
dos "informes" do Exército, de
1970, graças a um de seus livros,
"Pessach: a Travessia". Recolhido
a uma cela do Exército por suposta "subversão", Rogério José Dias,
um ex-sargento da Aeronáutica,
ganhou um exemplar do livro. A
arapongagem confiscou-o. E gastou papel e tinta para produzir
um informe que deixa no ar a impressão de que Cony era, então,
um fetiche dos órgãos de informação militar: "O mencionado livro, de cunho político-ideológico,
prevê a luta armada no país como
fórmula de derrubada do sistema
atual de governo, o qual denomina de ditadura. O autor em questão é esquerdista declarado, conforme diversos documentos de
informação expedidos por esse OI
[órgão de informação]".
(JOSIAS DE SOUZA)
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