São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / RUMO A 2010

Planalto quer dinamitar líderes da oposição

Idéia do governo é aproveitar eleições do próximo domingo para manter sob controle aliados com expressão nacional

Entre os objetivos principais estão reduzir o domínio de Serra em São Paulo e no PSDB e tratorar o DEM nos redutos de seus caciques

LETÍCIA SANDER
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

De olho na disputa presidencial de 2010, o Palácio do Planalto busca nas eleições do próximo domingo dinamitar a força de líderes de oposição e manter sob o seu controle as aspirações de aliados com expressão nacional.
Figuram como objetivos principais enfraquecer o domínio do governador José Serra em São Paulo e no PSDB, tratorar o DEM nos redutos de seus caciques, asfixiar senadores de oposição incômodos e inviabilizar o crescimento da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL).
Ao governo também interessa o fracasso da configuração do "bloquinho" de esquerda (PSB, PDT, PC do B, PMN e PRB) como força significativa independente -no caso, encabeçada por um aliado, o ex-ministro Ciro Gomes (PSB).
Estas metas foram traçadas por colaboradores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que acompanham o andamento da campanha municipal. Na metade dos 26 Estados, a estratégia é tentar vencer nas urnas pelo menos 16 figuras de peso que disputam a eleição ou emprestam seu prestígio a nomes locais da oposição.
No Nordeste, as movimentações significativas ocorrem na Bahia, no Ceará, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Neste último, o foco recai sobre o senador José Agripino (DEM-RN), líder do principal partido de oposição no Senado. O governo tenta, a partir destas eleições, consolidar um pólo reunindo PT, PSB e PMDB contra o senador no Estado.
Lula se envolveu pessoalmente na disputa em Natal -fez comício tentando diluir a dianteira de Micarla de Souza (PV), a candidata de Agripino, que concorre contra a petista Fátima Bezerra. Micarla, até agora, é líder nas pesquisas.
"É um retrato da política praticada com arrogância. Lula foi líder de oposição a vida inteira e foi respeitado como tal. Agora, do alto da popularidade dada pelos bons ventos da economia, quer eliminar do mapa aqueles que fazem contraponto ao governo", critica Agripino.
No Ceará, o alvo é o senador Tasso Jereissati (PSDB). Para enfraquecê-lo, os governistas apostam na reeleição da prefeita Luizianne Lins em Fortaleza com o apoio do governador Cid Gomes (PSB). Luizianne, segundo as pesquisas, pode vencer no primeiro turno, deixando para trás Moroni Torgan, do DEM, e a senadora Patrícia Saboya (PDT), coligada com PSDB e PTB, e que tem o apoio informal do ex-marido, Ciro.
Estrela do "bloquinho", o aliado Ciro é uma espécie de alvo indireto do Planalto nestas eleições. O governo e sobretudo o PT temia que se estas agremiações de esquerda se consolidassem com força nas urnas, Ciro sairia fortalecido como alternativa a PT e PMDB para disputar as eleições de 2010. Mas o bloquinho não vingou.
Na Bahia, o governo tenta impor ao DEM a principal derrota até hoje, abrindo caminho para o PT do governador Jaques Wagner e o PMDB do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional). Em Salvador, o deputado federal ACM Neto (DEM) deve ir para o segundo turno contra Walter Pinheiro, do PT, ou João Henrique, do PMDB.
O cenário na segunda maior cidade do Estado, Feira de Santana, é de revés a governistas, com o DEM na frente.
Em Pernambuco, os alvos são os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB), Marco Maciel (DEM) e Sérgio Guerra (PSDB). Em Santa Catarina, o sucesso da estratégia governista contra o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen depende do resultado em Florianópolis e Joinville -o cenário até agora é incerto.
Outros três senadores com atuação incômoda para o governo em Brasília estão na mira: Arthur Virgílio (PSDB-AM), Kátia Abreu (DEM-TO) e Marconi Perillo (PSDB-GO).
Virgílio vem de um resultado ruim em 2006, quando obteve menos de 6% dos votos na candidatura a governador, ficando em terceiro. Hoje, o PSDB não encabeça chapa em Manaus - está na coligação de Serafim Corrêa, do PSB, que aparece em terceiro lugar nas pesquisas.
No Rio, o objetivo é consolidar a aproximação com o PMDB do governador Sérgio Cabral (PMDB) e derrotar o prefeito Cesar Maia (DEM), que não emplacará sua candidata, Solange Amaral, no segundo turno. Em Niterói, onde o PT governa, Jorge Roberto Silveira (PDT) deve ganhar no primeiro turno.

Empenho
Em São Paulo, além de tentar eleger Marta Suplicy, Lula se empenha na tentativa de assegurar vantagem ao PT na Grande São Paulo. Ontem, foi a comício em Guarulhos, onde o candidato do PT é Sebastião Almeida. O presidente afirmou ao público que nenhum prefeito ou governador do Brasil pode reclamar dele. "Porque repassei dinheiro independentemente de partido", disse. "Pergunte ao Serra [governador de São Paulo] se o Fernando Henrique deu mais dinheiro para o Mario Covas do que eu."
Em Minas, ao mesmo tempo em que interessa ao governo fortalecer Aécio Neves como pólo de disputa no PSDB, o Planalto busca a vitória de aliados em municípios da região metropolitana como Contagem e Betim, e em cidades relevantes como Juiz de Fora. Candidata a vereadora em Maceió, a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) é outro alvo do Planalto. Em 2006, ela ficou em terceiro lugar na disputa presidencial.


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