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RUMO À OPOSIÇÃO
Sem citar o nome de Lula em discurso, candidato derrotado diz que deseja boa sorte ao adversário no cumprimento dos compromissos assumidos durante a campanha
Serra cobra cumprimento de promessas
RAYMUNDO COSTA
EM SÃO PAULO
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao reconhecer a derrota e desejar "boa sorte" ao adversário
-sem citar o nome do presidente
eleito Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) -, o candidato tucano José
Serra deu a primeira indicação
pública ontem de que seu destino
é a oposição. "Ao vencedor desejo
boa sorte na condução dos destinos do nosso Brasil", disse, para
em seguida arrematar: "E boa sorte no cumprimento das promessas e compromissos de campanha
que ele assumiu".
Serra falou no diretório estadual
do PSDB de São Paulo, onde já o
aguardava o governador reeleito
Geraldo Alckmin. Estava ao lado
da vice Rita Camata (PMDB) e da
mulher Mônica.
Antes passara pela casa do publicitário Nelson Biondi, de onde
telefonou para Lula, às 21h15, para cumprimentá-lo pela vitória. O
tucano também conversou demoradamente com o presidente
Fernando Henrique Cardoso pelo
telefone.
No pronunciamento, ao se referir ao adversário como vencedor,
houve um início de vaia na platéia. Serra interrompeu o discurso: "Eu queria fazer um pedido
encarecido. Aqui tivemos hoje
uma eleição, estamos aqui anunciando o resultado, que acolhemos. Isto com paz, sem qualquer
espécie de agressividade."
No discurso, Serra fez uma saudação especial a FHC "pela absoluta isenção e imparcialidade ao
longo do processo eleitoral".
Cansado e visivelmente emocionado, Serra afirmou que o governo FHC "honrou o Brasil" e
"honrou a memória de homens
públicos como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco
Montoro e Mário Covas".
Por mais de uma vez Serra referiu-se aos "30 milhões de votos"
que obteve. Para Biondi, ele sai da
eleição "maior do que entrou".
Segundo o publicitário, um dos
principais estrategistas da campanha tucana, a vitória de Lula foi
dada como definitiva por eles no
meio do segundo turno.
"É o momento em que você vê
que a vontade do povo é aquela e
que você não muda mais. Não há
marketing, não há mágica. O eleitor brasileiro, depois de tantas
eleições, aprendeu, quase ficou
profissional, e ele ficou independente. Nada mais o assusta."
O publicitário Nizan Guanaes
não acompanhou a apuração com
Serra e seus colegas de campanha.
Viajou para Trancoso, na Bahia.
O candidato derrotado deve viajar hoje para o exterior, mas até as
24h não havia anunciado seu destino. Deve ficar fora uma semana.
Depois, volta para o Senado.
Votação
Durante o dia, Serra tentou não
demonstrar abalo diante da provável vitória de Lula e se disse otimista ao pedir votos a eleitores
ainda no início da tarde.
Talvez por já ter digerido a vitória do candidato do PT, Serra demonstrou tranquilidade e bom
humor. Estava bem diferente do
candidato tenso do último dia 6,
quando não era certa a sua passagem para o segundo turno. Além
da incerteza de sua continuidade
na disputa, ou mesmo de que
houvesse nova disputa, Serra enfrentava uma forte gripe.
O tucano votou às 9h40 no Colégio Santa Cruz, na zona oeste de
São Paulo, acompanhado de sua
mulher, Mônica, e de Alckmin.
Ele demorou menos de dez segundos para votar.
Deixou a urna eletrônica, fez o
sinal da vitória, mas voltou à cabine, atendendo a pedidos dos fotógrafos, que queriam mais imagens da hora do voto.
Às 12h, já em casa, Serra recebeu
a visita das atrizes Regina Duarte
e sua filha, Gabriela. Após quase
uma hora de encontro, Regina,
que foi criticada por ter aparecido
no programa eleitoral de Serra declarando ter "medo" de uma vitória de Lula, deixou a casa do candidato dizendo apenas que "a democracia é uma coisa sagrada".
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