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PRIMEIRO CONTATO
Presidente norte-americano transmite mensagem pela vitória e deverá telefonar para o brasileiro
hoje ou amanhã, buscando aproximação entre Brasil e EUA
Bush dá parabéns a Lula pela vitória
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, parabenizou ontem o
presidente eleito do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, e disse estar
esperando para trabalhar "produtivamente" com o próximo governo brasileiro.
"O presidente parabeniza o ganhador das eleições e aguarda para trabalhar produtivamente com
o Brasil", disse Bush por meio de
seu porta-voz, Ari Fleisher, a bordo do avião presidencial dos
EUA. O presidente americano
voltava da cúpula da Apec (Cooperação Econômica da Ásia e do
Pacífico), realizada no México.
Bush deverá telefonar para Lula
entre hoje e amanhã, congratulando-o diretamente pela vitória e
buscando estabelecer um relacionamento pessoal entre os dois líderes. Até sexta-feira passada, a
Casa Branca não havia decidido
se Bush convidaria Lula para uma
visita a Washington antes da posse, em janeiro, nem se o secretário
de Estado, Colin Powell, viajaria
ao Brasil nesse período.
As duas opções buscariam
aproximar os dois países num
momento de teste para a relação
bilateral e de importância histórica para a região. Na Guerra Fria,
os EUA conspiraram para derrubar ou minar quaisquer líderes de
esquerda ou independentes na
América Latina. No entanto, o governo americano procurou tratar
de forma isenta e imparcial o último processo eleitoral brasileiro.
"Os EUA estão abrindo as portas para Lula e estendendo as
mãos para ele", disse Miguel Diaz,
do CSIS (Center for Strategic and
International Studies), em Washington. "Agora resta saber o que
ele fará com essa oportunidade."
Hoje, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, elogiará a democracia brasileira e dirá que os EUA estão otimistas com o futuro da relação bilateral e com a administração de
Lula. Depois do telefonema de
Bush a Lula, a Casa Branca emitirá uma nota com o resumo da
conversa e, indiretamente, ditará
os rumos de uma tentativa de
aproximar os dois líderes.
Stephen Johnson, especialista
da Heritage Foundation - entidade extremamente ligada à administração Bush e uma das mais
conservadoras do país -, disse
que a Casa Branca deverá "testar"
Lula nos primeiros meses. "A administração Bush espera que Lula
tenha sido verdadeiro quando caminhou para o centro e que tenha
sido apenas retórico quando fez
comentários de esquerda durante
a campanha", disse ele.
Em Washington, poucos acreditam que Lula vá abandonar a
ortodoxia financeira e partir para
um governo de esquerda no campo econômico. A única dúvida diz
respeito à postura de Lula no
campo político, nas questões do
narcotráfico, do combate ao terrorismo e das políticas com relação à Colômbia e à Cuba.
"Se o compararmos Lula a Chávez [Hugo Chávez, presidente da
Venezuela" e a Lagos [Ricardo
Lagos, presidente do Chile", Lula
ficaria entre os dois, num espectro
das esquerdas", calcula Diaz. "Deve ficar mais perto de Lagos, mas
não sabemos quanto."
Para o ex-embaixador dos EUA
no Brasil, Anthony Harrington, a
eleição de Lula abre a oportunidade para o avanço inédito da relação bilateral. "Os que menos conhecem o Brasil são os que mais
temem Lula", disse.
"O Departamento de Estado conhece o conteúdo das administrações municipais e estaduais do PT
e perceberam que, depois de aceitar a derrota em três eleições presidenciais sucessivas, Lula é um
democrata perseverante."
Mas os sinais de boa vontade
enviados por Washington a Lula
não escondem a agenda espinhosa entre os dois países. Lula terá só
45 dias, após a posse, para decidir
qual fatia do mercado irá oferecer
nas negociações da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas).
Além disso, Brasil e EUA estarão co-presidindo as negociações
da Alca e definindo sua velocidade na época da posse, em janeiro.
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