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O DIA SEGUINTE
TEORIA E PRÁTICA Representantes dos setores bancários, industriais
e de investidores externos vão exigir de Lula atitudes para pôr na
prática o discurso moderado que ele adotou para ser eleito
Bancos e empresas cobrarão promessas
DA REPORTAGEM LOCAL
Além da vitória nas urnas, Luiz
Inácio Lula da Silva conquistou
recentemente importantes votos
de confiança de variados setores
da economia. Entidades representantes de bancos e investidores estrangeiros, historicamente
aversos à idéia de um governo petista, manifestam atualmente a intenção de apoiar Lula. Mas deixam claro que a ansiedade em relação ao governo petista é grande
e que as cobranças serão muitas.
A maior expectativa de representantes dos setores bancários,
industriais e de investidores externos ouvidos pela Folha é que o
Lula presidente coloque, de fato,
em prática o discurso do Lula
candidato.
"Os investidores externos vão
cobrar alguma sinalização, tão rápida quanto possível, para conferir quão real foi a moderação no
discurso econômico mostrado
durante a campanha", diz Álvaro
de Souza, presidente da Câmara
Americana de Comércio (Amcham) em São Paulo.
Essa sinalização imediata não
precisa ser, segundo Souza, necessariamente, a definição do futuro
ministro da Fazenda. Poderia vir,
por exemplo, com a indicação do
ministro do Desenvolvimento ou
o de Relação Exteriores.
Em junho passado, o presidente
da Amcham havia dito que a versão "Lula-light" produzida pelos
marqueteiros não convencia os
empresários. Mas, segundo ele,
essa avaliação mudou.
A Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos)
está disposta a colaborar com o
governo de Lula. Segundo Gabriel
Jorge Ferreira, presidente da instituição, a Febraban já tem colaborado com o PT e formou, inclusive, a pedido de Lula, comissões
que estudam medidas que estimulem a expansão do crédito na
economia brasileira e a redução
dos juros cobrados pelas instituições financeiras.
No entanto, ressalva que é fundamental que Lula cumpra o que
prometeu durante a campanha:
"Nossas expectativas são que o
governo do PT realmente consiga
promover a retomada do crescimento econômico e, ao mesmo
tempo, preservar a estabilidade.
Naturalmente também esperamos que o PT cumpra os contratos firmados, como foi o prometido durante a campanha", afirma.
Mesmo que Lula cumpra o que
prometeu, sua vida de presidente
não será nada fácil. Essa opinião
também é consenso entre empresários, banqueiros e investidores
externos.
Administrar a crise econômica
internacional e as ansiedades de
diversos setores que sempre
apoiaram o PT, mas não terão
suas demandas atendidas tão cedo. Essas são as duas principais
dificuldades que Lula deverá enfrentar.
Para Geraldo Carbone, presidente do BankBoston no Brasil, o
problema não é o resultado da
eleição, com a vitória de Lula, mas
a aversão ao risco dos investidores externos. "Os bancos ainda estão muito cautelosos", diz.
Carbone acredita que o melhor
que Lula poderá fazer para tentar
contornar esse problema é anunciar, o mais rápido possível, a
equipe e os principais pilares da
política econômica.
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