São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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CEARÁ

Com só 3.047 votos de vantagem, Lúcio Alcântara (PSDB) venceu o petista José Airton Cirilo

Depois de susto, "era Tasso" ganha mais 4 anos no poder

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Depois de 16 anos no poder, a "era Tasso" consegue se manter no Ceará por mais quatro anos, com a vitória apertada de Lúcio Alcântara (PSDB).
Foram somente 3.047 votos que fizeram a diferença para Lúcio, 59, conseguir a maioria de 50,04%, contra 49,96% de José Airton Cirilo (PT), 45, numa das eleições mais disputadas do país.
Desde 1986 não havia uma disputa tão acirrada ao governo do Estado. Desta vez, o que se colocou em xeque foi a manutenção ou a queda do grupo do senador eleito Tasso Jereissati (PSDB).
A última eleição difícil no Ceará aconteceu quando Tasso disputava o governo do Estado pela primeira vez. Ele enfrentou um governo longo, conhecido como ""o dos coronéis", que deteve o poder durante todo o regime militar. Desde então, o tucano conseguiu eleger seu sucessor, Ciro, e se reeleger mais duas vezes, sempre no primeiro turno.
"Toda eleição que só tem dois concorrentes tende a uma condição plebiscitária, não que o governo de Tasso estivesse sob julgamento, mas por ele ser meu maior apoiador", disse Lúcio.
Para Tasso, essa eleição não pode ser definida como um plebiscito sobre a manutenção ou a queda de seu poder, mas pelo "desejo de mudança".
Na época de sua primeira disputa, Tasso era o representante maior de um grupo de jovens empresários que abriu um espaço para discussão sobre políticas públicas e economia, o CIC (Centro Industrial do Ceará).
Conhecido popularmente como "galeguinho dos olhos azuis", ele era tido como azarão, inexperiente e aliado a partidos de esquerda, como o PCdoB.
Tasso enfrentou nas urnas e venceu um dos coronéis, Adauto Bezerra (PFL), a quem chamava de "força do atraso". Hoje eles são aliados.
Diferentemente do que aconteceu há 16 anos, quando Tasso representava a mudança, e os coronéis, o continuísmo, desta vez José Airton encarnou o papel mudancista, frente ao projeto de Lúcio de manter as principais políticas públicas do Estado.
A ascensão de José Airton surpreendeu a campanha do PSDB, preparada para uma vitória de Lúcio ainda no primeiro turno. O tucano chegou muito perto de vencer, com 49,79% dos votos, contra 28,33% do petista no primeiro turno.
"Havia uma certa acomodação da militância no primeiro turno", reconheceu Tasso ontem, antes de votar. "Mas tivemos uma campanha muito positiva, porque conseguimos colocar a militância na rua." Ele e Ciro Gomes (PPS) se envolveram diretamente na campanha de Lúcio, promovendo caminhadas e comícios separadamente até a véspera da eleição, muitas vezes percorrendo até cinco municípios por dia.
Ciro defendeu a chapa "Lu-Lu", para pedir votos a Lúcio e Lula e tentar diminuir os efeitos da "onda Lula" e da rejeição a José Serra (PSDB) no Estado, onde o tucano teve, no primeiro turno, apenas 8,53% dos votos -no segundo turno, Tasso e Lúcio divulgaram o apoio a Serra, diferentemente do que fizeram no primeiro turno, quando apoiaram Ciro.
Além de aproveitar a "onda Lula", o petista contou ainda com o apoio dos ex-tucanos Sergio Machado (PMDB) e Welington Landim (PSB), que também foram candidatos ao governo e tiveram, no primeiro turno, 21% dos votos juntos. Com esse reforço, José Airton conseguiu entrar em áreas antes dominadas pelo PSDB no interior do Estado e se tornar mais conhecido.
"De qualquer forma, foi uma vitória, vencendo ou perdendo, porque ninguém nunca havia peitado o Tasso antes como nós fizemos", disse José Airton.


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