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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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JANIO DE FREITAS

Os russos na caça

Pela primeira vez em mais de 30 anos de tentativas de vender aviões ao Brasil, a indústria aeronáutica russa está na iminência de afinal fazê-lo, como parte primordial de um amplo pacote conectado de acordos e transações.
A intensa disputa entre cinco fabricantes de caças a jato, representando também os interesses de quatro países, para venda de uma nova esquadrilha ao Brasil, está tecnicamente concluída. Se está concluída politicamente e o será comercialmente, depende de que a proposta sueca não consiga uma (improvável) reviravolta de última hora, por ação do seu forte lobby.
Uma das propostas russas aliou as qualidades do seu caça, o Sukhoi, consideradas as mais convenientes para as características da FAB, a uma proposta de transferência de tecnologia, para o Brasil, superior a todas as demais. Vai da tecnologia do próprio avião até um domínio que atrai muito o Brasil, o da indústria espacial.
Fabricado na Suécia para cobrir uma região pequena em comparação com as distâncias brasileiras, o caça Grippen se mostrou incomparável, nesse quesito, ao Sukhoi, capaz de voar do Sudeste a Manaus sem reabastecimento. O F-16 americano, o Mirage francês e o russo MiG-29 são mais ou menos equivalentes, mas cada um com sua desvantagem, por pequena que fosse, para a FAB. Além do mais, o Sukhoi apresentou seu maior avanço tecnológico acompanhado do menor preço.
Em negócio de tamanha dimensão, pode-se imaginar o que seja a luta dos lobbies. Decisões, nesses casos, só os detêm quando os negócios chegam à formalização. Na guerra ao Sukhoi, reapareceu a pretensa denúncia de falta constante de suas peças de reposição.
A consulta direta de um brigadeiro brasileiro à Índia, possuidora de numerosos desses aviões, levou a um diálogo inesperado. "Não há falta de peças do fabricante, o que há é falta de verbas liberadas para nossa Força Aérea pelo setor econômico do governo" , disse o militar indiano consultado. Ao que o brasileiro, que falava de uma compra valiosa, apenas respondeu: "Se é isso, é também o nosso caso". Se houve consolo mútuo, não se sabe.
O custo do negócio é dado, desde o governo Fernando Henrique, em US$ 700 milhões. Se for, é só o custo inicial.


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