São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Frei Betto, coordenador de mobilização do programa, diz querer o apoio de evangélicos, pentecostais e judeus

Fome Zero quer cadastrar pobres do país

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das primeiras ações do projeto Fome Zero depois da posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, será a elaboração de um "cadastro nacional de pobres". "Vamos fazer a geografia da fome", diz o coordenador de mobilização social do projeto, Frei Betto.
A "geografia da fome" terá por objetivo identificar as cerca de 46 milhões de pessoas que, pelos cálculos da coordenação do programa, sobrevivem com menos de US$ 1 por dia - cerca de R$ 105 mensais, dependendo do câmbio.
A idéia, diz Frei Betto, é que o cadastramento das 46 milhões de pessoas que não têm renda suficiente para se alimentar (estimativa do programa) seja feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Pelas informações que temos, os cadastros dos programas sociais existentes não são confiáveis." Segundo o religioso, muitos programas do governo federal são baseados em cadastros municipais, feitos muitas vezes sem o rigor técnico necessário.
Técnicos da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde (responsáveis pelo Bolsa-Alimentação, que beneficia com até R$ 45 mensais famílias que têm crianças ou gestantes desnutridas) já afirmaram à Folha que, caso o programa fosse continuar, seria preciso refazer o cadastro em razão de muitas prefeituras adotarem critérios "mais políticos" do que técnicos na hora de cadastrar.
Uma das maiores dificuldades dos programas sociais no Brasil é atingir o público-alvo. Só para se ter idéia, o IBGE, que tem um dos maiores cadastros do país, não tem informação sobre população de rua e sem-teto, já que a base do seu cadastro é o domicílio.
O presidente do IBGE, Sérgio Besserman, está em férias e não foi localizado pela reportagem.
Anteontem, em São Paulo, Frei Betto reuniu-se com representantes de instituições que trabalham no combate à fome. Ficou decidido que, até a posse de Lula, em 1.º de janeiro, todas as pessoas que procurarem o governo de transição para colaborar com o programa serão encaminhadas para uma dessas organizações.
Desde a vitória de Lula, cerca de 200 pessoas já procuraram o comitê do PT, em São Paulo, para colaborar com o programa.
Frei Betto está contatando instituições ligadas a várias religiões, como protestantes, pentecostais e judeus, para uni-los em um seminário, no próximo dia 12, em São Paulo. A idéia é agregar o maior número possível de organizações no combate à fome, preservando a independência dos parceiros.


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