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TRANSIÇÃO
Frei Betto, coordenador de mobilização do programa, diz querer o apoio de evangélicos, pentecostais e judeus
Fome Zero quer cadastrar pobres do país
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das primeiras ações do
projeto Fome Zero depois da posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, será a elaboração
de um "cadastro nacional de pobres". "Vamos fazer a geografia
da fome", diz o coordenador de
mobilização social do projeto,
Frei Betto.
A "geografia da fome" terá por
objetivo identificar as cerca de 46
milhões de pessoas que, pelos cálculos da coordenação do programa, sobrevivem com menos de
US$ 1 por dia - cerca de R$ 105
mensais, dependendo do câmbio.
A idéia, diz Frei Betto, é que o
cadastramento das 46 milhões de
pessoas que não têm renda suficiente para se alimentar (estimativa do programa) seja feito pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Pelas informações que temos,
os cadastros dos programas sociais existentes não são confiáveis." Segundo o religioso, muitos
programas do governo federal
são baseados em cadastros municipais, feitos muitas vezes sem o
rigor técnico necessário.
Técnicos da Coordenação Geral
da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde
(responsáveis pelo Bolsa-Alimentação, que beneficia com até R$ 45
mensais famílias que têm crianças
ou gestantes desnutridas) já afirmaram à Folha que, caso o programa fosse continuar, seria preciso refazer o cadastro em razão
de muitas prefeituras adotarem
critérios "mais políticos" do que
técnicos na hora de cadastrar.
Uma das maiores dificuldades
dos programas sociais no Brasil é
atingir o público-alvo. Só para se
ter idéia, o IBGE, que tem um dos
maiores cadastros do país, não
tem informação sobre população
de rua e sem-teto, já que a base do
seu cadastro é o domicílio.
O presidente do IBGE, Sérgio
Besserman, está em férias e não
foi localizado pela reportagem.
Anteontem, em São Paulo, Frei
Betto reuniu-se com representantes de instituições que trabalham
no combate à fome. Ficou decidido que, até a posse de Lula, em 1.º
de janeiro, todas as pessoas que
procurarem o governo de transição para colaborar com o programa serão encaminhadas para
uma dessas organizações.
Desde a vitória de Lula, cerca de
200 pessoas já procuraram o comitê do PT, em São Paulo, para
colaborar com o programa.
Frei Betto está contatando instituições ligadas a várias religiões,
como protestantes, pentecostais e
judeus, para uni-los em um seminário, no próximo dia 12, em São
Paulo. A idéia é agregar o maior
número possível de organizações
no combate à fome, preservando
a independência dos parceiros.
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