|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSIÇÃO
Em visita do petista, dom Jayme Chemello ecoa declaração do papa e faz reparos à forma de atuação do MST
CNBB diz que será crítica ao governo Lula
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) avisou ontem a Luiz Inácio Lula da Silva
que acompanhará de forma "crítica" seu trabalho na Presidência,
rejeitando alinhamento automático ao governo.
A entidade fez também reparos
à forma de atuação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ecoando declarações nesse sentido dadas anteontem pelo papa João Paulo 2º a bispos brasileiros, em Roma.
Os recados foram transmitidos
pelo presidente da CNBB, dom
Jayme Chemello, após visita de
cortesia de Lula à diretoria da entidade, em Brasília. Participaram
do encontro cerca de 25 bispos.
"Com liberdade, poderemos fazer de vez em quando alguma observação crítica do andamento do governo. A CNBB não será governista, como também não será
contra", declarou dom Jayme.
Segundo ele, a tarefa de ser crítico está contemplada no Evangelho. "Queremos exercer aquele
papel fundamental, aquela consciência crítica que reside no próprio Evangelho", declarou.
A identificação da Igreja Católica com o PT vem desde a formação do partido, há duas décadas,
quando houve grande engajamento das comunidades eclesiais
de base no projeto. Nos últimos
anos, embora a ligação permaneça forte, houve um distanciamento -em parte, pelo contato do partido com os evangélicos. O PT
também se recusou a participar
de plebiscito contra a Alca (Área
de Livre Comércio das Américas)
promovido pelos bispos.
Lula, em sua fala, concordou
que a entidade deve manter sua
independência. "Nenhum movimento social, quanto mais um
com a dimensão e a seriedade da
CNBB, tem de ser correia de
transmissão de partido ou de governo", afirmou o presidente eleito. Ele declarou, no entanto, que
pretende pedir a colaboração da
entidade em projetos "bons para
o país", como o combate à fome.
A CNBB assegurou que participará da implantação do plano de
Lula. Dom Jayme se disse satisfeito com o fato de o presidente eleito ter colocado o combate à fome
acima da discussão sobre "a economia, as Bolsas e os bancos".
Bispos do Nordeste pediram o
retorno da Sudene (Superintendência para o Desenvolvimento
do Nordeste). "Se o presidente
Lula assumir essa vontade política
ao lado dos governadores que têm
se manifestado favoráveis à restauração da Sudene, terá o apoio
da Igreja e, acreditam os bispos do
Nordeste, o suporte amplo de todas as instâncias sociais", diz documento entregue a Lula.
O petista reafirmou que a instância será recriada, mas com formato diferente. "Possivelmente, terá uma vinculação direta com a
Presidência da República, para
evitar que um determinado Estado se apodere da Sudene", disse.
Dom Jayme Chemello criticou o
uso de invasões de propriedades
pelo MST como "método". "A
ocupação de uma terra que não
está sendo produtiva tem justificativa em certas ocasiões, como
uma forma de alertar o governo
para tomar uma providência. Mas
não pode se tornar um método
constante, uma rotina. Porque aí
o país vira uma confusão", disse.
O presidente da CNBB, entidade que já mediou negociações entre sem-terra e governo, disse que o direito de propriedade deve ser
preservado e se mostrou contra a
invasão de terras produtivas. "Conosco no trato [negociação], o
MST parecia mais disposto a acertar". O religioso disse crer que o
MST terá novo tratamento no governo Lula e que a atuação em nova mediação não será necessária.
Texto Anterior: Para RS, lobby dos transgênicos visa defender mercado americano Próximo Texto: Lula diet: Petista terá de reduzir colesterol Índice
|