São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Em visita do petista, dom Jayme Chemello ecoa declaração do papa e faz reparos à forma de atuação do MST

CNBB diz que será crítica ao governo Lula

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) avisou ontem a Luiz Inácio Lula da Silva que acompanhará de forma "crítica" seu trabalho na Presidência, rejeitando alinhamento automático ao governo.
A entidade fez também reparos à forma de atuação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ecoando declarações nesse sentido dadas anteontem pelo papa João Paulo 2º a bispos brasileiros, em Roma.
Os recados foram transmitidos pelo presidente da CNBB, dom Jayme Chemello, após visita de cortesia de Lula à diretoria da entidade, em Brasília. Participaram do encontro cerca de 25 bispos.
"Com liberdade, poderemos fazer de vez em quando alguma observação crítica do andamento do governo. A CNBB não será governista, como também não será contra", declarou dom Jayme.
Segundo ele, a tarefa de ser crítico está contemplada no Evangelho. "Queremos exercer aquele papel fundamental, aquela consciência crítica que reside no próprio Evangelho", declarou.
A identificação da Igreja Católica com o PT vem desde a formação do partido, há duas décadas, quando houve grande engajamento das comunidades eclesiais de base no projeto. Nos últimos anos, embora a ligação permaneça forte, houve um distanciamento -em parte, pelo contato do partido com os evangélicos. O PT também se recusou a participar de plebiscito contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) promovido pelos bispos.
Lula, em sua fala, concordou que a entidade deve manter sua independência. "Nenhum movimento social, quanto mais um com a dimensão e a seriedade da CNBB, tem de ser correia de transmissão de partido ou de governo", afirmou o presidente eleito. Ele declarou, no entanto, que pretende pedir a colaboração da entidade em projetos "bons para o país", como o combate à fome.
A CNBB assegurou que participará da implantação do plano de Lula. Dom Jayme se disse satisfeito com o fato de o presidente eleito ter colocado o combate à fome acima da discussão sobre "a economia, as Bolsas e os bancos".
Bispos do Nordeste pediram o retorno da Sudene (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste). "Se o presidente Lula assumir essa vontade política ao lado dos governadores que têm se manifestado favoráveis à restauração da Sudene, terá o apoio da Igreja e, acreditam os bispos do Nordeste, o suporte amplo de todas as instâncias sociais", diz documento entregue a Lula.
O petista reafirmou que a instância será recriada, mas com formato diferente. "Possivelmente, terá uma vinculação direta com a Presidência da República, para evitar que um determinado Estado se apodere da Sudene", disse.
Dom Jayme Chemello criticou o uso de invasões de propriedades pelo MST como "método". "A ocupação de uma terra que não está sendo produtiva tem justificativa em certas ocasiões, como uma forma de alertar o governo para tomar uma providência. Mas não pode se tornar um método constante, uma rotina. Porque aí o país vira uma confusão", disse.
O presidente da CNBB, entidade que já mediou negociações entre sem-terra e governo, disse que o direito de propriedade deve ser preservado e se mostrou contra a invasão de terras produtivas. "Conosco no trato [negociação], o MST parecia mais disposto a acertar". O religioso disse crer que o MST terá novo tratamento no governo Lula e que a atuação em nova mediação não será necessária.


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