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Capitão afirma que a democracia pode melhorar o Exército
Luis Fernando Ribeiro de Sousa defende mais participação
política na corporação e quer concorrer à Câmara em 2010
Oficial nega que movimento
queira minar a hierarquia e a
disciplina no meio militar,
como alegam os setores
conservadores do Exército
Eduardo Lima/Folha Imagem
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O capitão Luis Fernando de Sousa, no centro de Porto Alegre |
DA ENVIADA A PORTO ALEGRE
O mineiro Luis Fernando Ribeiro de Sousa, 32, cresceu e até
hoje vive no meio militar. É um
capitão do Exército que acredita que a democracia pode melhorar as Forças Armadas. Ele
integra um movimento que defende mais participação política na corporação, e se prepara
para concorrer em 2010 a deputado federal. Para evitar punições, ele falou à Folha enfatizando que todas as idéias são
pessoais e não representam a
corporação.
(ANA FLOR)
FOLHA - Como surgiu esse movimento?
LUIS FERNANDO RIBEIRO DE SOUSA -
Mudanças que poderiam melhorar as Forças Armadas, para
que ela tenha papel importante, só acontecem por meio de
participação política. Qualquer
coisa que a gente pode fazer
passa pela via política. Precisamos de deputados e senadores
para promover qualquer transformação. Assim começamos a
nos organizar.
FOLHA - Qual o objetivo do movimento?
SOUSA - O regulamento disciplinar do Exército não contempla um monte de garantias que
a Constituição contempla. O
movimento é para dizer que o
documento maior é a Constituição [e não regimentos internos]. Deve-se ter direito à liberdade de expressão, de associação para fins pacíficos.
FOLHA - Querem mais democracia
no Exército?
SOUSA - Dentro das Forças Armadas, até certo ponto tem democracia e até certo ponto não
tem. O processo para que todos
os direitos do artigo 5º e do artigo 6º [da Constituição Federal]
cheguem aos militares não será
de uma hora para a outra.
Precisa haver democracia para toda a sociedade, inclusive
para o Exército. O que está errado é o regulamento disciplinar. Lá na Constituição, que é a
arma que nós empunhamos,
diz que ninguém pode ser preso
senão em flagrante delito. Temos que fazer mudar o regulamento disciplinar do Exército,
da Marinha, da Aeronáutica, fazer um regulamento da Defesa
unificado e pedir que os governos estaduais também façam
isso com as polícias militares.
FOLHA - Querem menos disciplina?
SOUSA - Há setores mais conservadores, ainda da ditadura
militar, que dizem que estamos
querendo acabar com a hierarquia e a disciplina. Muito pelo
contrário. Será uma disciplina
verdadeira. Como uma pessoa
pode ser punida por dar uma
entrevista, por se associar?
FOLHA - O Exército está boicotando o movimento?
SOUSA - O Exército sabe que
nosso objetivo é ter um candidato por Estado. O que ele fez?
Transferiu [os oficiais]. As ligações políticas locais são quebradas. A meu ver, foi uma medida pensada para desarticular
esse movimento. Querem evitar que haja interferência política em assuntos do Exército.
FOLHA - Ao falar em participação
política dos militares, não há como
não se lembrar da ditadura...
SOUSA - A gente não tem nada a
ver com a ditadura militar. Eu
não quero entrar no mérito [e
dizer] se foi certo ou errado.
Cabe a nós pensar para frente,
somos capitães, tenentes. Nosso pensamento é desenvolver o
Brasil, um lugar para a gente
crescer, com a não-criminalização dos movimentos sociais.
FOLHA - O que é o capitanismo?
SOUSA - É um movimento que
constrói a democracia. É uma
adequação da estrutura secular
das forças militares à realidade
pós-88. É fazer chegar a Constituição também ao meio militar.
FOLHA - Quantos os senhores são?
SOUSA - Eu não quero identificar ninguém, porque a retaliação pode vir pesada. Mas eu recebo cerca de cem e-mails por
dia, de todo o Brasil. São pessoas de todas as Forças Armadas com o mesmo sentimento.
FOLHA - Como os senhores estão se
organizando para 2010?
SOUSA - Estamos discutindo os
candidatos. Definimos que vamos apoiar quem o presidente
[Luiz Inácio] Lula [da Silva]
apoiar. Vemos o Lula como
uma pessoa mais desenvolvimentista. Não é uma opção pela
direita ou pela esquerda. É desenvolvimento, onde há projetos de usinas nucleares, de submarino nuclear, de tecnologia
militar, de fortalecimento da
indústria militar de defesa.
Queremos um país forte, uma
América Latina integrada.
FOLHA - Quando você entra nas
Forças Armadas, você sabe do regulamento ao qual deve se submeter.
SOUSA - Regulamento que não
contempla direitos. Um regulamento que te coloca uma rédea
curta. Ele pode ser totalmente
diferente sem estragar nada. O
grande problema, que os generais não aceitam, é a [eliminação da] pena restritiva de liberdade. Você ficar preso dentro
do quartel. Eu fui preso e meu
filho foi me visitar. Imagina o
que o menino pensa: "Meu pai é
do Exército ou é traficante?"
Prisão é para criminoso. Quem
está com cabelo grande não é
criminoso.
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