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"A gente paga pelas escolhas", diz Genoino
Isolado após a crise do mensalão, ex-presidente do PT afirma que não cometeu crime e não carrega arrependimento
Segundo ele, Lula conhece o PT mais que todos petistas e não impôs o nome de Dilma; sobre a crise, afirma que não recebeu nem pagou nada
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 63 anos, José Genoino é,
hoje, quase irreconhecível para
quem acompanhou sua trajetória política. Antes polêmico, barulhento e provocativo, tornou-se um parlamentar discreto, que concentra sua atuação
nas comissões e na defesa de
projetos como o da reforma política. Evita os holofotes da imprensa, que antes perseguia.
Após quase quatro anos recluso por conta do escândalo do
mensalão, que o fez renunciar à
presidência do PT e o tornou
réu na ação penal que corre no
STF (Supremo Tribunal Federal), Genoino recebeu a Folha
em seu escritório, em São Paulo, para uma rara entrevista.
Ele sustenta que a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil)
não foi uma candidata imposta
pelo presidente Lula ao PT, defende a política de alianças com
o PMDB e se diz um defensor
incondicional do governo Lula.
Diante de perguntas sobre o
mensalão, responde, mas evita
a polêmica. "Eu não tenho arrependimento. Foram escolhas
políticas. E a gente paga por
elas." Com os fios de cabelos
totalmente brancos, uma certa
fala mansa, mas firme, Genoino conserva um hábito em
meio aos novos modos: em
duas horas de conversa, acendeu três cigarros. "É o único vício do qual não me libertei."
FOLHA - Como foi retornar à Câmara depois da crise?
JOSÉ GENOINO - Foi bom voltar à
Câmara legitimado pelo eleitor. A solidariedade dos petistas, dos militantes e do eleitor
petista foi muito importante
para me colocar de novo lá.
FOLHA - O que fez antes?
GENOINO - Fui dar aulas, como
avulso. Aulas de política, de história. Dei um curso lá no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
durante seis meses, contratado.
E fazia palestras. Foi assim que
eu vivi em 2005 e 2006.
FOLHA - Em que se concentra sua
atuação parlamentar hoje?
GENOINO - Minha grande causa
é viabilizar uma reforma política institucional. Tenho debatido a necessidade de cada partido discutir esses temas na campanha de 2010 e em 2011 a gente fazer um Congresso revisor
para votar a reforma política.
Trabalho com essas áreas, além
da questão maior: a defesa intransigente do governo Lula.
FOLHA - Essa defesa do governo
Lula é incondicional?
GENOINO - Ela é uma defesa radical porque entendo que o PT
e o governo Lula estão transformando o Brasil. Todas as medidas que o governo manda para a
Câmara eu concordo, defendo.
FOLHA - O PT não tem mais nenhum papel crítico no governo?
GENOINO - O PT e o governo
Lula estão conduzindo um projeto estratégico. É um projeto
processual: tem hora que a gente avança, tem hora que a gente
recua. Mas está dando certo. É
só ver os resultados, os indicadores. As lutas para ganhar a
eleição, as dificuldades, os dilemas que nós enfrentamos são
em função deste projeto.
Tenho uma admiração e um
respeito pela capacidade política, intuição, sensibilidade e
competência do Lula. O PT,
quando se divide, perde. Por isso sou defensor da unidade do
PT e da política de alianças para
ganhar as eleições, para governar. Dei minha contribuição,
em todos os sentidos. Nunca fiz
nada sem correr riscos.
FOLHA - O PT tem que se submeter
ao PMDB pela eleição de 2010?
GENOINO - A prioridade das
prioridades é eleger a Dilma.
Governar o Brasil por mais um
mandato presidencial é uma vitória estratégica. Nos Estados,
quem estiver melhor situado é
cabeça de chapa, seja do PT,
PMDB ou PSB. Eleger a Dilma,
fazer bancadas na Câmara e no
Senado, e eleição a governador:
estou colocando nesta ordem.
FOLHA - O pragmatismo não mina
a política?
GENOINO - Isso não é pragmatismo. É uma exigência política
de quem está transformando o
Brasil. Para ganhar e governar,
você tem que ter maioria.
FOLHA - É democrático Lula escolher a candidata e submetê-la ao PT?
GENOINO - A interlocução e o
diálogo em torno do nome foi
transparente, consensual, e
não houve imposição. A Dilma
é uma companheira que tem
uma história comum. O Lula
não impôs. Aliás, o Lula conhece mais o PT que todos os petistas juntos. Está no DNA dele.
FOLHA - Há "democracia interna"
no PT? Ser governo mudou o PT?
GENOINO - A democracia interna continua vigorosa. Agora,
nós temos a responsabilidade
de ser governo. O importante é
que o debate interno hoje no
PT não é guerra, não é sectarismo. Há 20 anos caiu o muro de
Berlim na nossa cabeça. E nós
fizemos uma campanha extremamente radicalizada em
1989. Em 2009, 20 anos depois,
caiu o muro de Wall Street na
cabeça da direita.
FOLHA - O sr. se tornou melancólico depois da crise? Por que se isolou?
GENOINO - Momentos de sofrimento, sim. De melancolia,
não. Momentos de enfrentamento, sim. De arrependimento, não. Momentos de recomeçar, sim. Parar, não. Sempre recomecei a minha vida. Eu tenho momentos duros. Tudo isso foi feito com muita dureza.
Não foi fácil. Eu não vivo a vida
com o retrovisor. Eu não me
isolei. É que eu deixei de ser
presidente do PT, não era deputado, não tinha gabinete
nem escritório.
FOLHA - O sr. evita dar entrevistas.
Qual sua opinião sobre a imprensa?
GENOINO - Acho que a imprensa tem o seu papel, e eu tenho o
meu. Defendo radicalmente a
liberdade de imprensa. Respeito a imprensa, respeito as pessoas que fazem a imprensa,
mas são posições diferentes.
Geralmente, quem faz julgamento em política tem uma
grande chance de cometer injustiça. Eu não faço julgamento. Eu faço escolhas.
FOLHA - O sr. acha que foi prejulgado na crise do mensalão de 2005?
GENOINO - Fui. Há duas coisas
que eu quero falar: primeiro, os
dois empréstimos que eu assinei são absolutamente legais e
estão na Justiça Eleitoral. E o
PT está pagando. Segundo,
meu patrimônio, minha vida
foram revirados de cima para
baixo, e eu não tenho nada. Então, eu fui prejulgado. Na presidência do PT eu não cometi crime. Fui um dirigente político,
que dirigiu o partido numa situação nova, que era governar o
Brasil com o presidente Lula. E
o PT não cometeu crime. Agora, sobre isso, quem fala sobre o
processo são os meus advogados. Eu tenho consciência. Não
recebi nada, não paguei nada.
Então eu não tenho arrependimento. Foram escolhas políticas, e a gente paga por elas.
FOLHA - O PT, depois de 2005, está
igual, pior ou melhor?
GENOINO - Não dá para fazer
uma comparação. Em cada fase
da vida do PT, o partido enfrenta os desafios e vence. Quando o
PT nasceu, muita gente dizia:
não vai dar certo. Deu certo.
Hoje atacam o PT, e não o Lula.
Quando Lula não era presidente, atacavam o Lula, e não o PT.
FOLHA - A única pessoa do PT que
foi expulsa foi o ex-tesoureiro Delúbio Soares. Foi justa a decisão?
GENOINO - Sobre as pessoas citadas no processo você tem que
ouvir as pessoas ou os advogados. Eu não falo sobre essas
pessoas. Elas podem falar por
si. Não vou opinar sobre isso.
Eu não era da direção [quando
foi decidida a expulsão], nem da
presidência do PT.
FOLHA - O sr. tem contato com essas pessoas: Delúbio, José Dirceu,
Silvio Pereira?
GENOINO - A minha função como deputado não é tratar, numa entrevista, das minhas relações pessoais.
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