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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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Petista classifica de "loucura" um ataque unilateral ao Iraque

DOS ENVIADOS A PARIS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou de "loucura" a eventualidade de um ataque unilateral norte-americano ao Iraque, em entrevista no Palácio dos Campos Elíseos, a sede governamental francesa, ao lado de seu colega Jacques Chirac, que, por sua vez, classificou de "idênticas" as posições do Brasil e da França nessa questão.
Lula fez questão de ressaltar a solidariedade "com o sofrimento do povo americano em função dos atentados de 11 de setembro", para em seguida acrescentar:
"Um ser humano qualquer pode cometer uma loucura qualquer, mas o Estado não pode."
O presidente repetiu a posição da diplomacia brasileira, segundo a qual é preciso fazer as investigações sobre a possibilidade de o Iraque dispor de armas de destruição em massa e, "depois, o Conselho de Segurança da ONU decide o que fazer".
À noite, em coquetel na embaixada brasileira em Paris, Lula foi questionado por lideranças do Partido Socialista sobre suas relações com o presidente norte-americano George W. Bush.
Respondeu que havia sido tratado com "muita consideração" no encontro que mantiveram em dezembro, ainda antes ainda da posse, mas acrescentou: "Ele está obcecado com o Iraque".
Por causa disso, os temas de interesse do Brasil e da América Latina ficaram fora do radar norte-americano, na visão do presidente brasileiro.
Apesar da dureza da crítica sobre a "loucura" de um eventual ataque norte-americano, o chanceler Celso Amorim afirma que não há a menor intenção de formar um "eixo de críticas" aos Estados Unidos com Alemanha e França -uma ironia com a expressão "eixo do mal", usada por Bush para condenar Irã, Iraque e Coréia do Norte.
França e Alemanha têm as mesmas reticências que o Brasil, no caso do Iraque, e foram os dois primeiros países europeus visitados por Lula após a posse.
Amorim reproduziu a intuição de Lula, já descrita na Folha de ontem, segundo a qual Bush perdeu o "timing" para a guerra e gostaria de ver algum movimento de algum país, grupo de países ou instituições que lhe permitisse não ir à guerra, mas salvar a face.
Nesse ponto, há a mais absoluta discrepância entre Lula e seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente tem a mais firme convicção de que os Estados Unidos estão decididos a atacar o Iraque.
Os dois conversaram ontem por telefone, durante dez minutos, logo que Lula chegou a Paris, e o diálogo foi dominado pelo tema Iraque, o que evidencia o grau de preocupação com que o governo brasileiro acompanha a crise.
À tarde, no encontro com o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, a questão iraquiana voltou a frequentar a agenda.
De acordo Celso Amorim, a conversa de Lula com o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin abordou temas praticamente similares aos discutidos com Chirac, o que significa dizer que a previsível guerra no Iraque também foi tratada.
Chirac disse que "a França tem o maior interesse em seguir o que está fazendo o presidente Lula".
O governante brasileiro aproveitou para brincar. Lembrou que os dois países estão construindo uma ponte entre o Amapá e a Guiana Francesa, sobre o rio Oiapoque, e que Chirac lhe dissera que, dentro de dois anos, poderiam fazer uma reunião na ponte, para comemorar a inauguração.
"Na hora em que for inaugurada a ponte, a França passará a fazer parte da América do Sul, e aí, quem sabe, participe do Mercosul junto conosco", brincou Lula. (CLÓVIS ROSSI e FERNANDO RODRIGUES)


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