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Petista classifica de "loucura"
um ataque unilateral ao Iraque
DOS ENVIADOS A PARIS
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva classificou de "loucura" a
eventualidade de um ataque unilateral norte-americano ao Iraque, em entrevista no Palácio dos
Campos Elíseos, a sede governamental francesa, ao lado de seu
colega Jacques Chirac, que, por
sua vez, classificou de "idênticas"
as posições do Brasil e da França
nessa questão.
Lula fez questão de ressaltar a
solidariedade "com o sofrimento
do povo americano em função
dos atentados de 11 de setembro",
para em seguida acrescentar:
"Um ser humano qualquer pode cometer uma loucura qualquer, mas o Estado não pode."
O presidente repetiu a posição
da diplomacia brasileira, segundo
a qual é preciso fazer as investigações sobre a possibilidade de o
Iraque dispor de armas de destruição em massa e, "depois, o
Conselho de Segurança da ONU
decide o que fazer".
À noite, em coquetel na embaixada brasileira em Paris, Lula foi
questionado por lideranças do
Partido Socialista sobre suas relações com o presidente norte-americano George W. Bush.
Respondeu que havia sido tratado com "muita consideração" no
encontro que mantiveram em dezembro, ainda antes ainda da posse, mas acrescentou: "Ele está obcecado com o Iraque".
Por causa disso, os temas de interesse do Brasil e da América Latina ficaram fora do radar norte-americano, na visão do presidente brasileiro.
Apesar da dureza da crítica sobre a "loucura" de um eventual
ataque norte-americano, o chanceler Celso Amorim afirma que
não há a menor intenção de formar um "eixo de críticas" aos Estados Unidos com Alemanha e
França -uma ironia com a expressão "eixo do mal", usada por
Bush para condenar Irã, Iraque e
Coréia do Norte.
França e Alemanha têm as mesmas reticências que o Brasil, no
caso do Iraque, e foram os dois
primeiros países europeus visitados por Lula após a posse.
Amorim reproduziu a intuição
de Lula, já descrita na Folha de
ontem, segundo a qual Bush perdeu o "timing" para a guerra e
gostaria de ver algum movimento
de algum país, grupo de países ou
instituições que lhe permitisse
não ir à guerra, mas salvar a face.
Nesse ponto, há a mais absoluta
discrepância entre Lula e seu antecessor, Fernando Henrique
Cardoso. O ex-presidente tem a
mais firme convicção de que os
Estados Unidos estão decididos a
atacar o Iraque.
Os dois conversaram ontem por
telefone, durante dez minutos, logo que Lula chegou a Paris, e o
diálogo foi dominado pelo tema
Iraque, o que evidencia o grau de
preocupação com que o governo
brasileiro acompanha a crise.
À tarde, no encontro com o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, a questão iraquiana voltou a
frequentar a agenda.
De acordo Celso Amorim, a
conversa de Lula com o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin
abordou temas praticamente similares aos discutidos com Chirac, o que significa dizer que a
previsível guerra no Iraque também foi tratada.
Chirac disse que "a França tem
o maior interesse em seguir o que
está fazendo o presidente Lula".
O governante brasileiro aproveitou para brincar. Lembrou que
os dois países estão construindo
uma ponte entre o Amapá e a
Guiana Francesa, sobre o rio Oiapoque, e que Chirac lhe dissera
que, dentro de dois anos, poderiam fazer uma reunião na ponte,
para comemorar a inauguração.
"Na hora em que for inaugurada a ponte, a França passará a fazer parte da América do Sul, e aí,
quem sabe, participe do Mercosul
junto conosco", brincou Lula.
(CLÓVIS ROSSI e FERNANDO RODRIGUES)
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