São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Berzoini diz que solucionar assassinato de fiscais é questão de honra

Governo cria força-tarefa para apurar mortes em MG

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A investigação sobre os responsáveis pelo assassinato de três fiscais do Ministério do Trabalho e um motorista será conduzida por uma força-tarefa composta pelas polícias Federal, Rodoviária Federal, Civil e Militar de Minas Gerais e pelo Ministério Público.
O acerto foi feito ontem da manhã, em meio a contatos entre o presidente interino, José Alencar, e os ministros Nilmário Miranda (Direitos Humanos), Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Ricardo Berzoini (Trabalho).
Esse mesmo grupo voltou a se reunir à noite, no Planalto, acertando detalhes operacionais da força-tarefa, que será conduzida pela PF. Também decidiram que os ministros e Alencar participarão, hoje, do velório dos fiscais e do motorista em Belo Horizonte.
O ministro Berzoini, em nota oficial que circulou na noite de ontem, reafirmou o empenho do governo em desvendar o crime e relembrou que sua prioridade neste ano é intensificar as ações de fiscalização das condições de trabalho nas áreas rurais.
"É uma questão de honra. Eles merecem toda a nossa consideração, as famílias merecem nossa solidariedade. É também uma questão de honra para o Estado para não permitir que esse tipo de ação possa, de alguma maneira ainda que tênue, intimidar parte dos auditores fiscais que têm a honrosa tarefa de promover o cumprimento das leis trabalhistas", disse Berzoini.
O governo trabalha com a "hipótese de execução" dos auditores fiscais do trabalho e do motorista. Todos os quatro funcionários foram mortos com apenas um tiro na cabeça. "A nossa hipótese é de execução, os assassinos não atiraram a esmo", disse.
Segundo Nilmário, há outros indícios de "execução": a forma como os tiros foram disparados, todos à "queima-roupa" e o fato de os criminosos não terem levado nada do lugar do crime.

Efetivo
A PF destacou 19 policiais para a operação. Em conjunto com civis e militares, eles cercaram a região onde o carro dos fiscais foi emboscado. O local é conhecido como "Sete Placas" e fica a cerca de 50 km de Unaí, em Minas.
No início da tarde, Berzoini e Miranda seguiram para o local do crime em um helicóptero da PF, no qual também embarcaram 11 policiais federais -o restante da equipe seguiu em duas viaturas.
Integram o grupo cinco peritos -dois médicos, um especialista em balística, um químico e um engenheiro-, profissionais que, ao analisar os elementos e a cena do crime, devem indicar qual teria sido o provável propósito da abordagem feita contra os fiscais.
A auditora fiscal Ivone Baumecker, assessora do delegado do Trabalho em Minas Gerais, Carlos Calazans, disse ontem que em junho de 2003 Nelson José da Silva havia recebido ameaça de morte de fazendeiros da região. Ele solicitou à delegacia um reforço para a fiscalização neste ano.
Os dois auditores de Belo Horizonte foram destacados para ajudar Nelson na inspeção das fazendas. "Ninguém imaginou que a situação fosse tão perigosa que necessitasse do apoio da Polícia Federal. Até porque não é muito fácil conseguir isso", afirmou Ivone por telefone à Folha.
A Delegacia Regional do Trabalho de Minas Gerais tem 300 fiscais. No Brasil, segundo o Trabalho, eles chegam a 2.871.


Colaboraram JULIANNA SOFIA e IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília


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