São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2000


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REGIME MILITAR
General afirma que ex-prefeito fez proposta para que liderasse golpe contra o então adversário
Maluf quis impedir Tancredo, diz Cruz

LUIZ CAVERSAN
da Reportagem Local

O general da reserva Newton Cruz, 75, disse ontem que foi convidado pelo ex-prefeito Paulo Maluf, provavelmente num fim-de-semana no final de 1984, para liderar um golpe militar que impedisse a posse de Tancredo Neves (1910-1985), caso esse vencesse a disputa pela Presidência da República, em votação que seria realizada em 15 de janeiro de 1985.
O general Cruz, que naquela época era o Comandante Militar do Planalto, já fizera essa afirmação na última segunda-feira à noite, durante o programa "Roda Viva", transmitido ao vivo pela TV Cultura de São Paulo.

Detalhes
Ontem, falando por telefone à Folha de Brasília, onde mora atualmente, reafirmou as declarações e forneceu mais detalhes.
Em mensagem escrita distribuída também ontem, Paulo Maluf classificou a afirmação do general de "estapafúrdia" e de "invencionice criminosa". A nota diz ainda que a atitude de Cruz tem por objetivo "desviar a atenção do fato em que está criminosamente envolvido", que seria o seu "comprometedor envolvimento no caso Riocentro", e que Maluf encaminhou a questão ao seu advogado, Ricardo Tosto.

Jogo de peteca
"Eu reafirmo que o sr. Paulo Maluf foi à minha casa em Brasília, no setor militar urbano, chegou sem ser convidado, de repente, ele com o motorista. Eu estava nos fundos de minha casa, jogando peteca, fui avisado de que ele tinha chegado, parei o jogo, fui atendê-lo de calção e camiseta. Ele entrou, sentou na sala e lá ele fez a proposta. Eu tenho várias testemunhas de que ele foi à minha casa, no único encontro que eu mantive com ele na minha vida."

Data
Newton Cruz disse não se recordar a data exata do encontro, mas afirmou ter sido "certamente" entre Maluf ter vencido a convenção do PDS -realizada em 11 de agosto de 1984, quando derrotou o coronel Mário Andreazza por 493 a 350 votos, tornando-se candidato da situação à Presidência- e a disputa com Tancredo no Colégio Eleitoral, eleição indireta realizada em 15 de janeiro de 1985 e vencida por Tancredo Neves por 480 a 180 votos.
"E tem mais: na hipótese de que o Tancredo fosse anulado, eu seria o chefe do SNI", disse o general Cruz.

Processo
Indagado sobre a forma que seria empregada para "anular" o então candidato da oposição à Presidência, o general disse: "Maluf que me processe, que aí eu vou dizer exatamente o que ele falou".
Cruz afirmou que contará detalhes sobre o ocorrido no livro que está escrevendo, ainda sem data prevista de lançamento. "Eu falo desse episódio, mas só até onde acho que dá mais ou menos a idéia" da proposta supostamente feita por Maluf.
Questionado se havia a possibilidade de se realizar um atentado contra a vida de Tancredo, Cruz afirmou: "Vamos ver como eu relato isso (no livro). Mas, se ele (Maluf) estiver curioso, ele que me processe".

Testemunhas
Sobre as testemunhas do encontro, Newton Cruz afirma que elas viram Maluf chegando à sua casa, viram os dois conversando e, depois, ouviram um relato sobre o conteúdo da conversa.
Mas Cruz afirma que o diálogo foi apenas entre ambos: "O que ele falou, falou para mim".


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