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OPOSIÇÃO
Crítica foi feita depois da apresentação do líder petista em seminário
Ex-assessor de Lula diz que
PT está "desqualificado"
PAULO MOTA
COORDENADOR-ASSISTENTE
DA AGÊNCIA FOLHA
Declarações do líder petista Luiz
Inácio Lula da Silva, na última segunda-feira, no seminário " Socialismo e Democracia", fazendo
sérias restrições à prática revolucionária e propondo a revisão de
aspectos centrais do ideário socialista, desencadearam uma reação
violenta e um intenso debate entre intelectuais cariocas e militantes do PT.
Em e-mail enviado ao próprio
Lula, a vários intelectuais e membros do PT, o editor Cesar Benjamim -ex-guerrilheiro na década
de 60 e membro fundador do PT,
do qual se afastou em 1994- diz
que "nunca a esquerda brasileira
foi dirigida por gente tão desqualificada. Teoricamente desqualificada. Politicamente desqualificada. Moralmente desqualificada."
"Não pensei que pudéssemos
descer tão fundo", afirma Benjamin num texto em que também
afirma ter sentido "a sensação física de nojo" ao ler as reportagens
sobre a fala de Lula e da prefeita
Marta Suplicy durante o seminário. Ex-coordenador econômico
da campanha presidencial de Lula
em 94, Benjamin destaca negativamente o que o líder petista disse
a respeito da luta armada no país.
Ao discorrer sobre a trajetória
do PT, Lula disse que militantes
do partido foram para a Mata
Atlântica, na década de 70, tentar
fazer a revolução. "Em dois dias
os pernilongos e as muriçocas os
trouxeram de volta". A afirmação
foi recebida com gargalhadas pela
platéia que assistia ao seminário.
"Ao longo de alguns anos, quatrocentos companheiros deram
suas vidas nessas jornadas, milhares foram torturados, e muitos ficamos cinco, oito, dez, doze anos
em prisões um pouco piores que
os hotéis de cinco estrelas que este
senhor gosta tanto de freqüentar,
fazendo turismo político", escreve Benjamin.
As referências a Marta Suplicy
também são duras. Numa alusão
ao regime chinês, a prefeita disse
no seminário que o socialismo
daquele país o torna "pior que os
capitalistas".
Segundo Benjamin, Marta
"mistura arrogância e ignorância
típica de quem nasceu para mandar, não precisa aprender nada,
nem tem a menor idéia do que são
necessidades primárias, como fome, medo, insegurança". Prosseguindo, o ex-petista pergunta:
"Sabe dona Marta como o povo
chinês vivia antes e como vive
agora? Sabe como vive o povo
brasileiro, fora dos Jardins?".
O filósofo Carlos Nélson Coutinho foi um dos intelectuais que
respondeu ao e-mail de Benjamin. Ex-militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e no PT
desde 1989, Coutinho fez restrições tanto a Lula como a Benjamin. Referindo-se à menção anedótica do líder petista sobre a luta
armada, Coutinho comentou: "Se
foi aquilo mesmo que ele disse
(tenho dificuldades em crer), trata-se de uma afirmação abjeta".
Coutinho ressalvou, no entanto,
que não considera absurda a declaração de Marta sobre a China.
"Nos países onde as lutas operárias inscreveram na institucionalidade conquistas democráticas
(...) certamente estamos, os socialistas, mais próximos de obter vitórias na transformação social do
que os socialistas chineses".
Num comentário sobre as
transformações do PT, Coutinho
diz: "Quando entrei no PT, em 89,
estava à direita: como estou seguro de que não mudei de posição,
estar hoje à esquerda é mais uma
comprovação do que tem acontecido com o PT".
O rompimento de Benjamin
com o PT ocorreu durante um
congresso do partido, ocorrido
em 1995. Em discurso que terminou em pancadaria, Benjamin
criticou o presidente do PT, José
Dirceu, pelo fato da sua campanha ao governo de São Paulo, em
1994, ter recebido recursos da empreiteira Norberto Odebrecht.
Procurado pela Folha, Lula não
foi encontrado. Segundo sua assessoria, o líder petista não havia
tomado conhecimento do e-mail
de Benjamin até a noite de ontem.
Também procurada pelo jornal,
Marta não havia respondido até o
fechamento desta edição.
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