São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

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FALSO MILAGRE
Chhai Kwo Chheng teria usado cheques em branco de cooperados para comprar máquinas de uma fábrica sua
Empresário é acusado de fraudar licitação

do enviado especial

O principal personagem da até aqui fracassada tentativa de criação de um pólo industrial em Rosário (MA) é o chinês naturalizado brasileiro Chhai Kwo Chheng.
Chheng é representante no Brasil do grupo chinês Kex Group, que pertence ao empresário Kao Y. Jeh, conhecido como Kary Kao e controlava a Kao-I Indústria e Comércio de Confecções Ltda -empresa-âncora do pólo.
Chheng também tem investimentos no Ceará (em processo que tramita na Procuradoria Geral do Trabalho).
Ele chegou ao Maranhão em 1994 pelas mãos do secretário de Indústria e Comércio do Ceará, Raimundo Viana.
Viana apresentou-o a Roberto Charles de Menezes Dias, então secretário da Indústria e Comércio do Maranhão e hoje presidente da Companhia de Desenvolvimento Industrial (CDI).
Chheng disse que pretendia investir no Estado -e visitou algumas cidades de interior. Seu desejo se concretizou durante o governo de Roseana Sarney.

"Missão oficial"
Segundo o depoimento de Menezes Dias ao procurador da República Nicolau Dino, ele e o secretário da Indústria do Maranhão, Pedro Dantas Rocha Neto, foram ao Ceará, "em missão oficial", a convite de Chheng, para conhecer o projeto Kao Lin (em Acarape, a 40 km de Fortaleza).
No início de 95, o empresário Kao Y. fez uma visita ao Maranhão -e formalizou Chheng como representante oficial de seu grupo.
Ele apresentou o projeto do pólo industrial em Rosário ao assessor especial da governadora Roseana Sarney, seu então ex-marido Jorge Murad, hoje novamente marido e secretário do Planejamento.
Murad criou uma comissão para analisar o projeto -aprovado por Roseana em protocolo de intenções assinado em outubro de 1995.
Em dezembro -sempre segundo o depoimento de Menezes Dias-, ele e Pedro Dantas "viajaram em missão oficial a Taiwan, acompanhados do sr. Chhai, para conhecer a empresa Kex Group, bem como atrair novos investimentos para o Estado do Maranhão".
Antes mesmo que a Kao-I se constituísse formalmente, técnicos do governo do Estado já atuavam em Rosário na criação da Cooperativa de Produção de Confecções -90 grupos com quarenta pessoas cada um.
A eles -tradicionalmente lavradores, na grande maioria- caberia receber treinamento, virar operários, e produzir camisas em parceria com a Kao-I.

Cheques em branco
Os problemas começaram em março de 96, quando o empresário e seus funcionários obtiveram no Banco do Brasil os cheques relativos às contas abertas pelos 90 grupos.
As três folhas da cada talão (270 cheques, portanto) foram assinadas em branco pelos responsáveis dos grupos, e preenchidas e descontadas pelo empresário como pagamento das máquinas compradas de uma outra empresa sua, a Yamacon Nordeste.
Essa compra foi alvo de inquérito do Ministério Público, que resultou em denúncia do procurador Nicolau Dino.
Denúncias de alguns cooperativados -que também incluíam superfaturamento de preços na compra de materiais- chegaram ao médico e presidente da Associação Comercial de Rosário, Manoel de Jesus Pontes de Carvalho, autor da representação ao Ministério Público Federal.
Paralelamente, por determinação do Tribunal de Contas da União, os auditores confirmaram as denúncias. (LMC)



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