São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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RUMOS ÀS ELEIÇÕES

Petista troca "Caravana da Cidadania", modelo adotado em outros anos, por produção hollywoodiana

PT adota megaprodução na terra de Lula

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO

Sai o estilo "Caravana da Cidadania", modelo adotado pelo PT em eleições anteriores para ir ao encontro do chamado "Brasil profundo", e entra um Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato da legenda à Presidência, maquiado e dirigido pela superprodução do marqueteiro Duda Mendonça.
Personagens importantes da caravana, os moradores de Caetés (ex-distrito de Garanhuns), município da região do agreste pernambucano onde Lula nasceu, testemunharam anteontem a reviravolta no modo petista de fazer campanha eleitoral.
Como não combinaram com eles, os parentes, amigos e admiradores do filho da terra atrapalharam em muitas cenas as filmagens da equipe de TV do marqueteiro. Uma equipe de cinema, aliás, composta pelo diretor Paulo Caldas (do filme "O rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas") e o poeta baiano Antonio Risério, roteirista dos programas do partido.
Por mais que Duda Mendonça fizesse questão de dizer que era "tudo muito natural", emprestando um termo de música da bossa nova, à população era exigido silêncio, como em toda filmagem profissional. Profissional é a definição mais usada, pelos próprios petistas, para falar, com encanto, sobre a campanha deste ano.
Havia o que se pode chamar de um "consenso de Garanhuns": se a "Caravana da Cidadania", com Lula pingando suor da testa e agarrado pelo Brasil dos banguelas e esfarrapados, não deu certo, que venham os profissionais para tentar a vitória.
Em vez de ônibus e gaiolas do rio São Francisco, como em campanhas anteriores, um jatinho, com a equipe de Duda e o pré-candidato, permitiu que a equipe praticamente concluísse as filmagens do programa de TV do partido em uma semana.
Em formato de documentário, vai mostrar a trajetória de Lula -de retirante nordestino em um caminhão pau-de-arara, em 1952, a concorrente que lidera as pesquisas de opinião para suceder Fernando Henrique Cardoso.

Maratona
A "caravana" de Duda Mendonça gravou em São Bernardo do Campo (região do ABC paulista), pulou para Furnas, em Minas, onde Lula tratou da crise de energia elétrica, e correu para Brasília com o objetivo de mostrar o pré-candidato e a bancada petista.
Depois foi a Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) por causa da fruticultura sertaneja que revela "o Brasil que tem jeito".
Por fim, uma espécie de "em busca do tempo perdido", filmado anteontem no torrão natal, com um Lula de olhos marejados -o que só ajudou ao tom emocional pretendido pelo marketing-, na companhia dos parentes. "Ele não é um ator, é um candidato, deixei tudo muito natural", insistia Duda, com o seu mote bossa nova, em conversa com repórteres.
Muito à vontade sob a nova direção da campanha, Lula ensaiava diálogos com tocadores de carros-de-boi -ainda uma realidade no semicapitalismo da região-, brincava com parentes, repetia cenas com distanciamento digno de ator brechtiano.
Ao final das filmagens, na qual os conterrâneos se comportaram muito bem como figurantes, Lula dizia, ao ser questionado pela Folha sobre a diferença entre a antiga "Caravana da Cidadania" e a "caravana hollywoodiana": "Dá trabalho do mesmo jeito".
Na opinião de Lula, ao falar sobre quaisquer mudanças no comportamento da campanha, o que incomoda a imprensa é que o PT agora, no novo estilo, vai ganhar as eleições. "A mídia queria um partido sectário", diz.


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