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RUMOS ÀS ELEIÇÕES
Petista troca "Caravana da Cidadania", modelo adotado em outros anos, por produção hollywoodiana
PT adota megaprodução na terra de Lula
XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO
Sai o estilo "Caravana da Cidadania", modelo adotado pelo PT
em eleições anteriores para ir ao
encontro do chamado "Brasil
profundo", e entra um Luiz Inácio
Lula da Silva, pré-candidato da legenda à Presidência, maquiado e
dirigido pela superprodução do
marqueteiro Duda Mendonça.
Personagens importantes da caravana, os moradores de Caetés
(ex-distrito de Garanhuns), município da região do agreste pernambucano onde Lula nasceu,
testemunharam anteontem a reviravolta no modo petista de fazer
campanha eleitoral.
Como não combinaram com
eles, os parentes, amigos e admiradores do filho da terra atrapalharam em muitas cenas as filmagens da equipe de TV do marqueteiro. Uma equipe de cinema,
aliás, composta pelo diretor Paulo
Caldas (do filme "O rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas") e o poeta baiano Antonio
Risério, roteirista dos programas
do partido.
Por mais que Duda Mendonça
fizesse questão de dizer que era
"tudo muito natural", emprestando um termo de música da bossa
nova, à população era exigido silêncio, como em toda filmagem
profissional. Profissional é a definição mais usada, pelos próprios
petistas, para falar, com encanto,
sobre a campanha deste ano.
Havia o que se pode chamar de
um "consenso de Garanhuns": se
a "Caravana da Cidadania", com
Lula pingando suor da testa e
agarrado pelo Brasil dos banguelas e esfarrapados, não deu certo,
que venham os profissionais para
tentar a vitória.
Em vez de ônibus e gaiolas do
rio São Francisco, como em campanhas anteriores, um jatinho,
com a equipe de Duda e o pré-candidato, permitiu que a equipe
praticamente concluísse as filmagens do programa de TV do partido em uma semana.
Em formato de documentário,
vai mostrar a trajetória de Lula
-de retirante nordestino em um
caminhão pau-de-arara, em 1952,
a concorrente que lidera as pesquisas de opinião para suceder
Fernando Henrique Cardoso.
Maratona
A "caravana" de Duda Mendonça gravou em São Bernardo do
Campo (região do ABC paulista),
pulou para Furnas, em Minas, onde Lula tratou da crise de energia
elétrica, e correu para Brasília
com o objetivo de mostrar o pré-candidato e a bancada petista.
Depois foi a Petrolina (PE) e
Juazeiro (BA) por causa da fruticultura sertaneja que revela "o
Brasil que tem jeito".
Por fim, uma espécie de "em
busca do tempo perdido", filmado anteontem no torrão natal,
com um Lula de olhos marejados
-o que só ajudou ao tom emocional pretendido pelo marketing-, na companhia dos parentes. "Ele não é um ator, é um candidato, deixei tudo muito natural", insistia Duda, com o seu mote bossa nova, em conversa com
repórteres.
Muito à vontade sob a nova direção da campanha, Lula ensaiava
diálogos com tocadores de carros-de-boi -ainda uma realidade no semicapitalismo da região-, brincava com parentes,
repetia cenas com distanciamento digno de ator brechtiano.
Ao final das filmagens, na qual
os conterrâneos se comportaram
muito bem como figurantes, Lula
dizia, ao ser questionado pela Folha sobre a diferença entre a antiga "Caravana da Cidadania" e a
"caravana hollywoodiana": "Dá
trabalho do mesmo jeito".
Na opinião de Lula, ao falar sobre quaisquer mudanças no comportamento da campanha, o que
incomoda a imprensa é que o PT
agora, no novo estilo, vai ganhar
as eleições. "A mídia queria um
partido sectário", diz.
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