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ELEIÇÃO ENGESSADA
Auditoria e nova forma de proteção de dados podem substituir ação de órgão subordinado à Presidência
TSE cogita excluir Abin do sistema de segurança das urnas
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob pressão, o TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) admite eliminar a polêmica participação da
Abin (Agência Brasileira de Inteligência), órgão da Presidência da
República, na preparação do sistema eletrônico de votação.
Os partidos querem que o tribunal adote também uma série de
outras providências para que a
urna eletrônica deixe de ser uma
caixa-preta e para que desapareçam as suspeitas de uso dos programas contidos nela para fraudes sofisticadas, como o desvio de
votos de um candidato a outro.
A participação da Abin é indireta. Desde a estréia da urna eletrônica, em 1996, o Cepesc (Centro
de Pesquisas em Segurança das
Comunicações), ligado à agência,
detém o controle de um programa de segurança.
Há receio, especialmente da
oposição, de que o Planalto use
esse acesso à urna para fraudar as
eleições. A suspeita é reforçada
pelo fato de a Abin fazer espionagem, inclusive política, embora
negue essa prática, e de o presidente do TSE, ministro Nelson Jobim, ser amigo do pré-candidato
do PSDB à Presidência, José Serra.
O tribunal sempre descartou o
risco de o Cepesc manipular os
programas, mas passou a estudar
a mudança devido ao clima de insegurança. Jobim o define como
"síndrome da conspiração".
Com o domínio de um dispositivo da urna eletrônica, o Cepesc
teria acesso aos outros programas
e poderia, supostamente, manipulá-los para planejar fraudes.
O programa controlado pelo órgão tem o objetivo de proteger os
dados dos disquetes que contêm o
resultado da votação, no transporte entre a seção eleitoral e o local de apuração. Ele faz o embaralhamento das informações (criptografia), o que impede a leitura e
a violação fora da rede de totalização da Justiça Eleitoral.
O secretário de Informática do
TSE, Paulo Camarão, informou
que a sua equipe estuda adotar
um bloqueio dos dados dos disquetes que dispense a atuação do
órgão. A idéia é impedir apenas a
alteração do arquivo, e não a sua
leitura, como na criptografia.
Se o Cepesc for mantido, afirma
Camarão, sua forma de participação deverá ser atestada por instituições reconhecidas.
Auditoria
O TSE espera apenas receber o
relatório de auditoria da Unicamp para decidir sobre a exclusão da Abin. O resultado deve sair
na próxima semana.
A expectativa é que os oito especialistas que destrincharam os
programas usados em 2000 façam
uma série de recomendações.
A Unicamp foi contratada por
R$ 406 mil e deverá examinar todos os programas de votação,
apuração e totalização de votos
utilizados nas eleições municipais
de 2000. A idéia surgiu no Congresso, há um ano, após o escândalo do painel eletrônico de votação, mas os objetivos e as condições foram estabelecidos pelo
TSE. O custo da auditoria é dividido entre o tribunal, a Câmara e o
Senado, segundo Jobim.
O líder do PT na Câmara, João
Paulo Cunha (SP), e o engenheiro
mecânico de Santos Amilcar Brunazo Filho, do Fórum do Voto
Eletrônico, dois dos principais
críticos da falta de confiabilidade
da urna eletrônica, pretendem
obter cópia do resultado da auditoria para examiná-lo.
Foi a Unicamp que confirmou a
violação do sigilo da votação na
cassação do mandato do senador
Luiz Estevão (PMDB-DF). Depois
de apoiar a proposta, Jobim assumiu o controle sobre ela.
Amilcar Brunazo Filho diz que
somente essa fiscalização ostensiva garantirá a segurança da urna
eletrônica e que o controle permitido até 2000 foi precário.
Ele afirma que os programas da
urna podem ser alterados entre o
início de agosto, quando são expostos aos fiscais, e a semana antes da eleição, em 6 de outubro,
quando são "carregados" nas máquinas de votar. Lei de 2001 obriga a Justiça Eleitoral a exibir os
programas aos fiscais, mas a adulteração poderia ocorrer depois.
Outra brecha para a fraude seria
na forma de transporte dos programas da rede de informática do
TSE para os tribunais regionais e
cartórios eleitorais.
Os programas são gravados em
"flash card" (tipo de disquete) para o transporte, na ausência de fiscais, segundo Brunazo.
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