|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO X PT
Estratégia de enquadramento pode, no limite, abrir vaga para o PMDB
Lula ameaça demitir ministro que não aderir à reforma toda
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dizendo que a reforma previdenciária "é a principal questão
política do governo neste ano", o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem ao ministro-chefe
da Casa Civil, José Dirceu, que
desse um recado ao resto do ministério: será demitido quem não
apoiar o projeto tal como enviado
ao Congresso amanhã.
Também por meio de Dirceu, o
presidente reafirmou ontem para
alguns governadores o compromisso de lutar pela aprovação do
ponto mais polêmico da reforma
previdenciária: cobrar 11% dos
servidores públicos inativos que
ganhem a partir de R$ 1.058.
A ameaça de demissão faz parte
da estratégia de enquadramento
da base aliada e, no limite, pode
servir para abrir uma vaga para o
PMDB. Lula acha que ontem enquadrou quase todo o PT. O presidente do partido, José Genoino, disse que, dos 92 deputados federais, "90% apoiarão a taxação dos
inativos". Antes, a rebelião atingia
metade da bancada. Agora, a
pressão é sobre aliados.
Os alvos da ameaça são PDT, PC
do B e PSB, três dos sete partidos
aliados. Pedetistas e comunistas
são contra tributar os inativos. No
PSB, há divergência. Os ministros
desse três partidos são, respectivamente, Miro Teixeira (Comunicações), Agnelo Queiroz (Esporte) e Roberto Amaral (Ciência
e Tecnologia).
A taxação dos inativos é apoiada pelas demais siglas aliadas:
PPS, PTB, PL e PV, que, juntas,
têm 102 deputados.
Esses quatro partidos indicaram, respectivamente, Ciro Gomes (Integração Nacional), Walfrido Mares Guia (Turismo), Anderson Adauto (Transportes) e
Gilberto Gil (Cultura).
A ameaça presidencial já começou a surtir efeito entre os aliados.
O PC do B, com 11 deputados, tende a rever sua posição. Eventual
saída de Queiroz afetaria deputados e militantes do partido que
têm cargos na sua pasta.
Pelo mesmo raciocínio, o PSB
(29 deputados) deve abafar focos
de resistência, como a seção fluminense do partido. A governadora Rosinha Garotinho (PSB-RJ), que viajará do Rio para Brasília amanhã no avião presidencial,
ouvirá apelo de Lula para apoiar a
tributação dos inativos.
O problema mais grave é no
PDT. Miro Teixeira, que estava
bem com Lula, disse a Dirceu ser
contra a tributação dos inativos e
reforçou a posição oposicionista
do presidente do seu partido, Leonel Brizola. Agora, Miro deve recuar, o que não significa, porém, a
adesão dos 16 deputados pedetistas. Por isso, o governo pode "canibalizar" o PDT, incentivando a
migração de parlamentares seus
para outras legendas.
Se isso acontecer, o PDT viraria
um abrigo dos nacionalistas e esquerdistas radicais que se opõem,
na prática, ao governo Lula.
O líder do governo na Câmara,
Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse
ontem não ter "dúvida de que a
base aliada votará unida". Aldo
afirmou que aprovará as reformas
com "80% de apoio na Câmara, o
que dá cerca de 400 deputados".
Para aprovar emendas constitucionais, o governo precisa de 60%
dos deputados em dois turnos de
votação em cada uma das duas
Casas do Congresso.
Governadores
O Planalto avalia que, enquadrado o PT e aliados, terá condições de negociar com o PMDB (70 deputados) e com a oposição
-PSDB (63 deputados) e PFL (75
deputados). Os governadores são
fundamentais para Lula obter a
adesão desse três partidos. Sem
eles, não passarão as reformas.
Ontem de manhã, José Dirceu
recebeu telefonemas de governadores devido à sua declaração admitindo mudança da taxação dos inativos no Congresso. Ele respondeu que, como chefe da Casa
Civil, não poderia dar outra resposta, sob pena de permitir a interpretação de que pretendia ferir
a autonomia do Legislativo. Dirceu disse a eles que Lula julga "essencial" cumprir o acordo com os
governadores, os maiores interessados na taxação dos inativos, e
que não fará jogo de empurra.
Cerimônia
O porta-voz do Planalto, André
Singer, disse ontem que não estavam definidos os detalhes da cerimônia de entrega das reformas. A
solenidade está prevista para as
16h de amanhã. Foi descartada
marcha de Lula e governadores
do Planalto ao Congresso, mas o
presidente julga fundamental ter
uma foto de todos na entrega.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Pedalada Índice
|