São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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TODA MÍDIA

Três editoriais

NELSON DE SÁ

Três dos principais jornais do mundo deram -como destacou o Jornal Nacional- editoriais de apoio ao Brasil, no questionamento dos subsídios agrícolas americanos.
O conservador "Wall Street Journal", cujos editoriais apóiam o governo George W. Bush em matérias controversas, foi inusitado.
Disse que a decisão tomada pela Organização Mundial do Comércio, contra os subsídios ao algodão, "tem o potencial de uma grande abertura política no comércio".
Criticou a decisão americana de recorrer, o que "soa bem em ano eleitoral" mas contraria as posições defendidas antes pelos EUA. E recomendou:
- A decisão da OMC oferece a desculpa política conveniente para quem quer que vença a eleição fazer a coisa certa no ano que vem.
O liberal "New York Times" foi o mais agressivo.
Afirmou que a distribuição de dinheiro estatal aos fazendeiros americanos "cultiva pobreza no mundo em desenvolvimento" -e que agora tal subsídio "é também ilegal".
Argumenta que o algodão não é o único produto subsidiado nos EUA, "mas é um dos mais revoltantes" por estrangular a economia de países miseráveis como Benin ou Mali.
A exemplo do "WSJ", o "NYT" recomenda ao governo americano que evite recorrer e protelar a decisão:
- Pelo contrário, o governo Bush precisa agarrá-la como uma justificativa para negociar a rendição dos subsídios dados pelas nações ricas.
E encerrou:
- A decisão da OMC reforça amplamente a posição do Brasil e de outros de desmantelar os subsídios que hoje distorcem o comércio. Quanto antes eles vencerem, melhor.
Por fim, o "Financial Times" disse que a decisão era muito bem-vinda e que:
- Congresso e Casa Branca precisam agora aceitar a lógica da decisão, em lugar de tentar preservar um dos programas de subsídio agrícola mais ofensivos no mundo.
O "FT" recebeu como uma boa notícia o fortalecimento dos países em desenvolvimento nas negociações. E encerrou.
- Congresso e administração Bush dificilmente vão olhar com afeição para a OMC depois desta decisão. Mas eles vão ver como é difícil ignorá-la.
Vários outros jornais pelo mundo, como "Boston Globe", apoiaram a decisão.


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SEM JANELAS




A tecnologia dos EUA enfrenta problemas por aqui.
De um lado, o jornal financeiro espanhol "Expansión" noticiou que o governo brasileiro, a exemplo do que já haviam feito o chinês e o indiano, optou pelo programa de navegação europeu "Galileu" em lugar do americano "GPS". Foi imediatamente seguido por México e Chile.
São sistemas de navegação e localização por satélite, com efeitos importantes em agricultura, grandes obras públicas, aviação e navegação marítima. Um funcionário da Comunidade Européia disse que "a entrada do Brasil nos dá nova peça importante do quebra-cabeças global e nos permite dar uma nova dor-de-cabeça aos EUA".
Por outro lado, o britânico "Financial Times" destacou que o governo brasileiro decidiu adotar software livre "em grande escala, ampliando a sua independência de fornecedores como a Microsoft, do sistema Windows" (acima). Além do governo federal, que economizará mais de US$ 1 bilhão com a mudança, serão fornecidos incentivos para Estados e municípios fazerem o mesmo.

A novela
Manchete do Jornal da Band, ontem às 19h30:
- Por que o salário mínimo não sai? O governo promete anunciar ainda hoje.
Jornal Nacional, às 20h15:
- O governo passou o dia reunido para decidir o valor do salário mínimo.
Jornal da Record, às 21h:
- Adiado mais uma vez o anúncio do novo mínimo.
Lula está em angústia.

Sofia
O mercado financeiro passou mal, ontem.
Na Globo News, culparam a "escolha de Sofia" de Lula: um mínimo maior ou recursos para investir. Joelmir Beting foi na mesma linha. O JN viu "medo dos juros americanos". Boris Casoy, "fatores internacionais".

Vereadores
Jorge Bornhausen mostrou no JN e demais, aos berros, que o PFL tem grande carinho pelo emprego de seus vereadores.

Estratégia
O "Miami Herald" publicou um artigo de Eric Farnsworth, vice-presidente do prestigioso Conselho das Américas, com um aviso ao governo americano. Segundo ele, por várias razões "estratégicas", o país tem que "reconhecer quão importante a América Latina é para os EUA". Antes que seja tarde.

Agrishow 1
O Globo Rural acompanha dia após dia o grande momento do Brasil profundo.
Ontem relatou que "a pesquisa agropecuária é o destaque em Ribeirão Preto". A Embrapa mostrou coisas como a "língua eletrônica" que identifica tipos de café, água etc. E um avião que tira "imagens de alta resolução" dos campos.

Agrishow 2
Também a Argentina está lá. O "Clarín" destacou os produtos argentinos na "importantíssima feira internacional de tecnologia agrícola".

GUERRA DE IMAGEM




As imagens dos horrores da guerra se disseminam por grandes redes americanas como CBS e ABC (veja em Mundo) e Washington já discute abertamente, segundo o "Washington Post", por que o depoimento de George W. Bush e do vice Cheney sobre o 11/9, programado para hoje, não será tornado público e nem sequer gravado.
Os depoimentos de Bill Clinton e seu vice Al Gore no Congresso, segundo a mesma CBS, foram gravados.
 
As cenas de televisão surgem na esteira de uma decisão tomada semana passada pelo "Seattle Times". O jornal regional americano publicou fotos, vetadas pelo governo Bush, de caixões de soldados chegando aos EUA.
Pois o "Seattle Times" obteve um prêmio pela decisão. O pai de um dos soldados mortos, retratados no jornal, enviou uma carta de agradecimento. Palavras dele:
- Esconder a morte e a destruição desta guerra não a torna mais fácil para ninguém, a não ser aqueles que querem manter a verdade longe do povo americano.


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