São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

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JANIO DE FREITAS

Vencer ou vencer


Serra só tem um caminho; é assim o panorama que, por ora, está armado por José Serra para José Serra

SEJA QUAL for, o resultado da disputa entre José Serra e Geraldo Alckmin criará problemas interessantes.
Geraldo Alckmin dispõe de fortes razões para persistir, se quiser, na recusa à oferta de candidatura sua ao governo estadual daqui a dois anos, desde que, agora, desista da prefeitura paulistana e aceite a aliança PSDB-DEM com a candidatura de Gilberto Kassab. Não precisa agravar más relações pessoais, com a lembrança do compromisso de Serra, em cartório, de que não deixaria a prefeitura a Kassab para concorrer ao governo paulista. A par do argumento moral, está à disposição de Alckmin o argumento político, com a junção dos temas paulistano e presidencial.
A extraordinária aprovação popular de Lula lhe dá condições excepcionais para influir em sua sucessão, supondo-se que haja. Basta-lhe não fazer uma escolha desastrada de candidato e em seguida, como antecipou, sair pelo país com a pregação da "continuidade do que este governo iniciou". Desconsiderados imprevistos sempre possíveis, sua probabilidade de fazer o sucessor tende a ser inibidora de outros pretendentes cuja candidatura tenha alto custo. Por exemplo, custe o encerramento antecipado de uma perspectiva política ou, mais ainda, o abandono de um governo por um alto risco -quanto mais o governo de São Paulo.
Diante desse tempero da sucessão presidencial, a condução do problema paulistano por Serra levou-o a situação peculiar: se Alckmin persistir em sair candidato, Serra precisará vencer essa parada, ou arcará com efeitos pesados; se Alckmin desistir, Serra precisará levar Alckmin a vencer a parada nas urnas, ou arcará com efeitos pesados. É uma das situações que, por princípio, todo político deve evitar.
Caso não consiga deter no PSDB a candidatura de Alckmin, Serra corre o risco do ônus interno de provocar uma divisão no partido; e com o ônus externo de uma derrota, feia para um aspirante à sucessão presidencial, no próprio partido e apesar de ter o poder (político e outros) de governador. Embora a saída não seja impossível, exigiria uma recuperação difícil.
No outro caso, o da retirada de Alckmin e efetivação da aliança com Kassab, a vitória eleitoral enriqueceria bastante o cacife de Serra para a sucessão presidencial. Mas o esperável embalo de Lula à candidatura de Marta Suplicy, para evitar o inconveniente de ver Serra vitorioso, reduz as possibilidades de Kassab. Outra vez entra no jogo a extraordinária posição de Lula no conceito popular e, portanto, eleitoral. Agora até na São Paulo onde já encontrou dificuldades e fracassos ásperos. Para evitar os ônus do caso anterior, agravados, e mais um novo quadro político com o PT outra vez na superfície paulista, Serra só tem um caminho: vencer ou vencer. É assim o panorama que, por ora, está armado por José Serra para José Serra. Em política, parece, também há jogo de sete erros.


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