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ÁREA SOCIAL
MP 107 transfere para o Ministério da Previdência poder para cassar certificados de entidades filantrópicas
Benedita perde atribuição para Berzoini
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo embutiu num dos últimos parágrafos da medida provisória 107, que trata basicamente
de dívidas de pessoas físicas e jurídicas com a Receita Federal, uma
mudança na Lei Orgânica da Assistência Social que tira poder do
Ministério da Assistência e Promoção Social e o transfere para a
pasta da Previdência Social.
A mudança permite ao ministro
Ricardo Berzoini (Previdência)
anular uma das principais atribuições do Conselho Nacional de
Assistência Social (vinculado ao
Ministério da Assistência Social):
a concessão do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência
Social a entidades filantrópicas.
A posse desse certificado, conhecido como Cebas, abre caminho para que a instituição possa
pleitear no INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) a isenção da
cota patronal. Essa isenção custa
R$ 2 bilhões por ano ao erário.
Mas esse não é o maior problema:
auditorias em algumas das 6.000
filantrópicas do país mostram
que nem todas fazem jus ao título.
Os principais problemas recaem sobre instituições de educação e de saúde. Em troca da isenção, os hospitais deveriam comprovar que pelo menos 60% dos
atendimentos foram realizados
por meio de convênio com o SUS
(Sistema Único de Saúde), o que
muitas vezes não ocorre, como
demostram auditorias do INSS.
No caso da educação, as instituições deveriam aplicar pelo menos 20% de todo o seu faturamento em benemerência. Auditoria
do INSS feita numa grande faculdade paulistana, no ano passado,
mostrou que apenas 1,5% da sua
receita se convertia em bolsas para alunos carentes. São tantos os
exemplos do mau uso do Cebas,
que em Brasília já foi criado o apelido "pilantropia" para definir a
ação de muitas dessas entidades.
A assessoria de Berzoini disse
que a intenção de conferir a ele
poderes para anular o Cebas é
permitir uma maior fiscalização
das atividades das entidades, já
que sua pasta tem um equipe de
auditores treinada para isso. Já a
pasta da ministra Benedita da Silva ainda está se estruturando. A
ministra é contra a medida.
Aloizio Mercadante, líder do
governo no Senado e relator da
MP 107, disse é preciso ser rigoroso com os recursos da Previdência, principalmente num momento em que se tenta aprovar uma
reforma que exige sacrifícios de
toda a população. "Precisamos
dar um freio nas "pilantrópicas"."
Embora a proposta do governo
tenha causado polêmica entre deputados e senadores de vários
partidos, inclusive do PT, a proposta de supressão do artigo não
pode ser apresentada por emenda
na Câmara e no Senado. Isso porque os parlamentares perderam o
prazo regimental de apresentação: "Não reparamos nesse artigo.
Estávamos preocupados com as
dívidas com a Receita", disse o senador Flávio Arns (PT-PR).
Perdido o prazo, a alteração só
pode ser feita pelo relator, no caso
Mercadante, que afirma que a
medida é considerada fundamental para que o governo controle a
"pilantropia". O argumento de
parlamentares ligados à área social, como Arns e o deputado
Eduardo Barbosa (PSDB-MG), é
que essa mudança prioriza aspectos econômicos em detrimento da
política de assistência social. Argumentam que as "pilantrópicas"
devem perder os certificados e pagar o que devem, mas que há dezenas de entidade sérias nesse
meio que não podem ter seu trabalho medido só dessa forma.
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