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PF tem conversa de Renan com investigado por fraude
Pela 1ª vez, senador surge diretamente em grampo desde que polícia deflagrou operação
Em diálogo, Renan diz que havia falado com Dilma e que iria conversar também com Lula; até agora, senador era só citado em grampos
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal identificou
a voz do presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL),
numa interceptação telefônica
realizada durante a Operação
Navalha. Na conversa, a qual a
Folha teve acesso, Renan fala
com Flávio Pin, superintendente da Caixa Econômica Federal preso na ação da PF, acusado de integrar a quadrilha
que fraudava licitações.
É a primeira vez que o senador surge diretamente num
grampo desde que a PF deflagrou a operação, duas semanas
atrás. Até agora, Renan aparecia apenas citado em conversas
entre acusados de formar a organização criminosa ligada à
construtora Gautama.
No diálogo, registrado pela
PF no dia 23 de março deste
ano, Renan diz que no dia anterior havia conversado com a
ministra Dilma Rousseff (Casa
Civil) e que iria falar também
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
O assunto entre Renan e Pin
era um empenho (liberação de
recursos da União) para a cidade de Maceió. Não fica claro, no
entanto, sobre que obra os dois
tratavam.
Renan diz que iria perder os
recursos se não fizessem o empenho para Maceió. Pin diz que
isso não existe e explica o que
seria preciso fazer para que o
dinheiro fosse liberado.
Por meio de seu advogado,
Adelino Tucunduva Júnior, Pin
confirmou que conversou diversas vezes com o senador sobre obras financiadas pelo governo federal em Alagoas.
Ressaltou, contudo, que
eram assuntos de natureza técnica, especificamente por dever de ofício.
Pin estava entre os 48 presos
pela PF na Operação Navalha,
mas foi solto na semana passada. No despacho em que autorizou a prisão dos suspeitos de
formar a quadrilha, a juíza Eliana Calmon (Superior Tribunal
de Justiça) incluiu Pin entre os
que agiam sem "compromisso
com a atividade-fim da organização criminosa, envolvendo-se o suficiente e necessário para atender ao grupo, mediante
o recebimento de vantagem".
A empreiteira Gautama é listada em dez contratos na CEF,
referentes a diversos ministérios. O acompanhamento dessas obras e as respectivas liberações de recursos são de responsabilidade da área que estava sob o comando de Pin, a Superintendência de Produtos de
Repasses. Ele está temporariamente afastado.
Lobby
Conforme a Folha publicou
ontem, outros três acusados de
integrar a quadrilha se articularam para que o presidente do
Senado fizesse lobby sobre a
ministra Dilma Rousseff a fim
de liberar recursos para uma
obra suspeita de ter sido fraudada pela Gautama.
A ministra é citado em pelo
menos dois momentos. No dia
30 de março, o então secretário
e o subsecretário de Infra-estrutura de Alagoas, Adeílson
Teixeira Bezerra e Denisson de
Luna Tenório, falam em preparar, de forma irregular, um documento relacionado à barragem do Rio Pratagy para que
Renan pudesse pressionar a
ministra da Casa Civil.
Adeílson: "Eles têm que fazer
um estudo preliminar em 15
dias [...].
Denisson: "Rapaz, em 15 dias
não sai."
Adeílson: "Foi esse o prazo
que o Enéas [de Alencastro Neto, representante do governo
de Alagoas em Brasília] ficou
preso lá e a gente prometeu a
Renan que a gente fazia".
Denisson: "Como é que você
vai fazer uma coisa dessa sem
topografia? É chute".
Adeílson: "É chute mesmo,
não é projeto executivo [...]. É
só um documento para o Renan pressionar a Dilma na liberação do recurso".
Outro lado
A reportagem deixou ontem
recados no celular da assessoria do presidente do Senado e
no gabinete de Renan. No entanto a assessoria do parlamentar não ligou de volta até o fechamento desta edição.
O advogado de Flávio Pin,
Adelino Tucunduva Júnior,
disse que todos os diálogos de
seu cliente gravados pela PF
são sempre profissionais.
"Ele atendia, tecnicamente,
no exercício de sua função, as
pessoas que o procuravam",
disse Tucunduva.
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