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Relatório da Anistia critica "trabalho forçado" na cana
Documento cita 288 trabalhadores resgatados em seis plantações de São Paulo
O governador fluminense, Sérgio Cabral Filho (PMDB), é criticado por sua "política draconiana e belicosa" e por ter abandonado promessas
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
A Anistia Internacional, organização que investiga a situação dos direitos humanos em
150 países, criticou a situação
dos trabalhadores nas plantações de cana-de-açúcar no Brasil, que são "explorados e submetidos a trabalhos forçados".
A parte do Brasil no relatório
anual da entidade, publicado
ontem, ocupa quatro páginas e
meia (entre 361) e destaca problemas conhecidos dos brasileiros: violência policial, Justiça ineficiente, violência e
ameaças no campo e contra as
populações indígenas e trabalho forçado e degradante em
vários Estados.
Também não escapou da investigação da Anistia o caso da
adolescente de 15 anos que ficou presa numa cela no Estado
do Pará, em novembro do ano
passado, onde foi "continuamente estuprada, alegadamente em troca de comida".
Foi a primeira vez que a Anistia chamou a atenção para o
trabalho nos canaviais, que tem
crescido com o boom dos biocombustíveis, mas ainda enfrenta condições precárias. Entre outros casos, o documento
cita números do Ministério do
Trabalho, de 288 pessoas vítimas de trabalho forçado resgatadas em seis plantações em
março do ano passado em São
Paulo, Estado mais rico do país.
Também ganhou destaque a
situação de 409 trabalhadores,
150 deles indígenas, libertados
de uma usina de etanol em Mato Grosso do Sul.
A crítica ao trabalho no campo ocupa espaço crescente, mas
uma das principais questões de
preocupação continua a ser a
situação da segurança pública.
O relatório diz que as comunidades carentes ficam "presas
numa armadilha entre as gangues de criminosos e as práticas
discriminatórias e violentas da
polícia" e que "milhares foram
vítimas" dessa violência, que
"acentuou a exclusão".
Violência no Rio
A secretária-geral da Anistia
Internacional, Irene Khan, disse anteontem que houve avanços do governo brasileiro no
campo dos direitos humanos,
mas que a situação da segurança pública no país continua
"profundamente perturbadora", especialmente no Rio.
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho
(PMDB), é duramente criticado no relatório por sua "política
draconiana e belicosa" e por ter
"abandonado suas promessas
iniciais", apesar de ser citado
nominalmente.
Na Anistia há dez anos e responsável pela parte do Brasil
nos relatórios há oito, o pesquisador Tim Cahill afirmou que
"o dia-a-dia das pessoas continua exatamente o mesmo",
apesar de avanços institucionais. Cahill já esteve no país
neste ano para pesquisas e deve
voltar para aprofundar o relatório do ano que vem. Segundo
ele, a Anistia tem prestado
atenção no conflito em Raposa/Serra do Sol e aprofundado
as investigações nos canaviais.
Cahill defende que o Brasil
não deveria se mobilizar apenas em casos de comoção nacional, como o do menino João
Hélio, ou de repercussão internacional -como os denunciados pela própria Anistia.
Na lista de casos emblemáticos entregue aos jornalistas de
dezenas de países que foram à
divulgação do relatório anteontem em Londres, o Brasil é representado pela índia guarani-kaiowá Kuretê Lopes, assassinada com um tiro no peito aos
69 anos, em janeiro do ano passado, atingida por seguranças
particulares durante uma desocupação do que os índios consideram suas "terras ancestrais".
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