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Acuado após derrotas, Minc vai a Lula reclamar de colegas
Titular do Meio Ambiente diz que ministros mudam acordos e "esquartejam" legislação
Minc afirma que "de dois ou três meses para cá" só recebe "pancada" e diz que se sente um ministro "frágil", à beira da "inviabilidade total"
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acuado por seguidas derrotas da área ambiental, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) foi ontem ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva reclamar de colegas de Esplanada
que, segundo ele, fecham acordos nos gabinetes e depois, à revelia do que fora decidido, vão
com suas "machadinhas" ao
Congresso para "esquartejar" a
legislação ambiental.
Minc também colocou na
mesa de Lula temas que, por
ora, não terão o apoio do Meio
Ambiente: licenciamento ambiental prévio da BR-319 (Manaus-Porto Velho), inclusão do
entorno do Pantanal na área do
zoneamento da cana-de-açúcar
e construção de hidrelétricas
na bacia do rio Araguaia.
"Uma série de questões estavam tirando a sustentabilidade
ambiental e política do ministério. (...) Ele [Lula] afirmou
que isso não era aceitável. Que
o que fosse combinado entre os
ministros e ele [Lula] não dava
direito a cada um, a cada Dnit
da vida, ir lá atrás de um deputado pra desfazer tudo aquilo
que tinha sido combinado
aqui", disse, numa referência
ao Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transporte,
ligado à pasta dos Transportes.
Os ministros Alfredo Nascimento (Transportes), Reinhold
Stephanes (Agricultura) e
Mangabeira Unger (Assuntos
Estratégicos) foram citados por
Minc na conversa com Lula. Na
entrevista, evitou dar nomes.
As declarações de ontem são
um contra-ataque a derrotas do
"lado" ambiental do governo.
Um dos reveses é o decreto
presidencial que reduziu o valor da compensação ambiental
a ser pago por empreendimentos (como construção de rodovias e hidrelétricas) por seus
impactos ambientais. A medida
atenuou o custo de exploração
de petróleo na camada pré-sal
e, ao mesmo tempo, ampliou os
atritos de Minc com a ministra
Dilma Rousseff, da Casa Civil.
Um dos motivos que levaram
à queda da ex-ministra Marina
Silva, em 2008, foi seu choque
frontal com o principal nome
de Lula para a eleição em 2010.
Essa pressão para as licenças
ambientais aumentou por conta da crise econômica: o governo quer acelerar as obras do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento) para gerar
empregos e impulsionar o PIB.
Outro revés foi o decreto presidencial que autorizou a destruição de cavernas no país. As
declarações de Minc também
são uma resposta à ofensiva do
agronegócio a temas em discussão no governo e no Congresso.
Entre eles estão os licenciamentos para a pavimentação de
rodovias, para novas usinas hidrelétricas, a MP da regularização fundiária na Amazônia
(que transferirá terras públicas
para particulares) e, sobretudo,
mudanças no código florestal.
A conversa entre Lula e Minc
durou cerca de meia hora. Nela,
o ministro mostrou mapas e fotos recentes de satélite sobre o
desmatamento na Amazônia.
Minc falou com a Folha após
a entrevista coletiva. "De dois
ou três meses para cá, é só pancada", contabilizou, dizendo
que se sentia um ministro "frágil", à beira da "inviabilidade
total". Lula teria franzido as sobrancelhas diante do relato, ao
que Minc reagiu: "Isso é um
prato para chargistas".
Quando assumiu o cargo, há
um ano, ele prometeu ser mais
flexível com os licenciamentos
das obras do governo, desde
que fosse compensado com a
criação de unidades de conservação, por exemplo. Ele tem repetido que essa compensação
não ocorre mais.
CPI da Amazônia
Em meio às polêmicas declarações de Minc, o Senado criou
ontem a CPI da Amazônia para
investigar questões como a demarcação da Raposa/ Serra do
Sol e o desmatamento da floresta. Dos 11 integrantes, 9 são
da bancada ruralista.
Colaborou MARTA SALOMON, da Sucursal de
Brasília
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