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PT faz concessões inéditas na 4ª tentativa de Lula à Presidência
Partido aprova hoje em convenção aliança com PL, ratifica Alencar como vice e se distancia da esquerda
DA REPORTAGEM LOCAL
O Partido dos Trabalhadores
aprova hoje em sua convenção
nacional, a ser realizada no
Anhembi, em São Paulo, a quarta
candidatura presidencial de Luiz
Inácio Lula da Silva, com seu
maior gesto de aproximação com
a elite empresarial e de distanciamento da esquerda tradicional.
A aliança com o Partido Liberal
e a escolha do empresário José
Alencar, 71, como candidato a vice-presidente são a maior inflexão na história da agremiação,
que se propunha a "construir um
poder que avance no rumo de
uma sociedade sem exploradores
e explorados, tendo claro que esta
luta se dá contra os interesses do
grande capital nacional e internacional", como afirma a tese-guia
de seu 1º Encontro Nacional, realizado em 1980.
A escolha de Alencar, a ser ratificada hoje, é mais do que o atendimento a um desejo de Lula, que
mantém boas relações com o senador mineiro desde quando este
militava no PMDB. É um aceno
para os setores do centro e da direita de que o PT reconhece que
precisa de fatias desses segmentos
para viabilizar-se eleitoralmente.
As dúvidas de petistas em relação a Alencar não vieram somente dos setores mais à esquerda do
partido, descontentes com a
aliança com um liberal.
Mesmo entre os defensores do
acordo, há quem duvide da representatividade de Alencar no empresariado e de sua capacidade de
tranquilizar seus pares.
Não é tido como um nome de
primeira grandeza no PIB nacional, apesar de Alencar ser o maior
acionista de um conglomerado de
11 fábricas de tecidos, a Coteminas, que emprega 16,5 mil funcionários e é o segundo maior grupo
têxtil do país, responsável pela fabricação das marcas Artex e Santista, com faturamento anual de
R$ 1 bilhão.
Mesmo assim, a concessão da
vaga de vice a Alencar é um gesto
simbólico que vale por si, independentemente de aparar arestas
com o empresariado, avaliam assessores de Lula.
Financiamento
O acerto final com Alencar foi
difícil pelas divergências existentes entre PT e PL em diversos Estados. O PL chegou a rascunhar
nota em que anunciava apenas
apoio informal a Lula.
A reviravolta ocorreu porque o
PL sentiu que poderia perder
Alencar, se não viabilizasse seu
nome como candidato a vice do
candidato petista.
Dono da campanha eleitoral
mais cara de 98 - gasto de R$ 3,9
milhões, sendo que R$ 3,8 milhões saídos do próprio bolso-,
o senador se dispôs a auxiliar financeira e estruturalmente a
campanha de parlamentares do
PL, o que ajudou a contornar as
dificuldades da aliança com o PT.
Lula discursará hoje como candidato de um partido unido, apesar de, durante o processo de definição, ter enfrentado adversidades internas não-vistas nas três
campanhas anteriores.
Primeiro, Lula disse que não se
considerava candidato nato do
partido e fomentou, ao menos
formalmente, a especulação em
torno de outros nomes.
Adversário interno
Com a dianteira nas pesquisas
eleitorais, Lula se impôs, mas teve
de passar pelo constrangimento
de pela primeira vez ter um adversário interno, o senador Eduardo
Suplicy (PT-SP).
Venceu com 86,4% dos votos a
prévia petista, mas estava comprovado que havia deixado de ser
uma unanimidade entre aqueles
que militam na legenda que criou.
Com o domínio da máquina petista pelos moderados do partido,
Lula obteve a base que considerava necessária para tentar sua
quarta candidatura.
Além de alianças em espectro
mais amplo do que o campo da
esquerda, conseguiu a contratação do publicitário Duda Mendonça, que defendia desde 1994.
Garotinho
O comando da campanha petista ainda mantém esperanças de
obter o apoio de Anthony Garotinho (PSB) a Lula. Acha que a candidatura dele ruirá por falta de palanques estaduais.
Estão dispostos, por exemplo, a
ceder a presidência do Congresso,
caso Garotinho deixe a disputa e
se eleja senador pelo Rio de Janeiro. Sempre no contexto de uma
eventual vitória petista.
As conversas são intensas entre
os parlamentares de PT e PSB,
mas não chegaram ao ex-governador do Rio. O pré-candidato do
PSB refuta qualquer conversa
nesse sentido.
Os petistas sabem que agora é
uma decisão individual de Garotinho concorrer ou não. Mantêm as
portas abertas, articulam, mas temem que um assédio direto o levem a uma opção por Ciro Gomes
(PPS), em caso de seu fracasso
pessoal.
(PLÍNIO FRAGA)
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