São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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PT faz concessões inéditas na 4ª tentativa de Lula à Presidência

Partido aprova hoje em convenção aliança com PL, ratifica Alencar como vice e se distancia da esquerda

DA REPORTAGEM LOCAL

O Partido dos Trabalhadores aprova hoje em sua convenção nacional, a ser realizada no Anhembi, em São Paulo, a quarta candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, com seu maior gesto de aproximação com a elite empresarial e de distanciamento da esquerda tradicional.
A aliança com o Partido Liberal e a escolha do empresário José Alencar, 71, como candidato a vice-presidente são a maior inflexão na história da agremiação, que se propunha a "construir um poder que avance no rumo de uma sociedade sem exploradores e explorados, tendo claro que esta luta se dá contra os interesses do grande capital nacional e internacional", como afirma a tese-guia de seu 1º Encontro Nacional, realizado em 1980.
A escolha de Alencar, a ser ratificada hoje, é mais do que o atendimento a um desejo de Lula, que mantém boas relações com o senador mineiro desde quando este militava no PMDB. É um aceno para os setores do centro e da direita de que o PT reconhece que precisa de fatias desses segmentos para viabilizar-se eleitoralmente.
As dúvidas de petistas em relação a Alencar não vieram somente dos setores mais à esquerda do partido, descontentes com a aliança com um liberal.
Mesmo entre os defensores do acordo, há quem duvide da representatividade de Alencar no empresariado e de sua capacidade de tranquilizar seus pares.
Não é tido como um nome de primeira grandeza no PIB nacional, apesar de Alencar ser o maior acionista de um conglomerado de 11 fábricas de tecidos, a Coteminas, que emprega 16,5 mil funcionários e é o segundo maior grupo têxtil do país, responsável pela fabricação das marcas Artex e Santista, com faturamento anual de R$ 1 bilhão.
Mesmo assim, a concessão da vaga de vice a Alencar é um gesto simbólico que vale por si, independentemente de aparar arestas com o empresariado, avaliam assessores de Lula.

Financiamento
O acerto final com Alencar foi difícil pelas divergências existentes entre PT e PL em diversos Estados. O PL chegou a rascunhar nota em que anunciava apenas apoio informal a Lula.
A reviravolta ocorreu porque o PL sentiu que poderia perder Alencar, se não viabilizasse seu nome como candidato a vice do candidato petista.
Dono da campanha eleitoral mais cara de 98 - gasto de R$ 3,9 milhões, sendo que R$ 3,8 milhões saídos do próprio bolso-, o senador se dispôs a auxiliar financeira e estruturalmente a campanha de parlamentares do PL, o que ajudou a contornar as dificuldades da aliança com o PT.
Lula discursará hoje como candidato de um partido unido, apesar de, durante o processo de definição, ter enfrentado adversidades internas não-vistas nas três campanhas anteriores.
Primeiro, Lula disse que não se considerava candidato nato do partido e fomentou, ao menos formalmente, a especulação em torno de outros nomes.

Adversário interno
Com a dianteira nas pesquisas eleitorais, Lula se impôs, mas teve de passar pelo constrangimento de pela primeira vez ter um adversário interno, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Venceu com 86,4% dos votos a prévia petista, mas estava comprovado que havia deixado de ser uma unanimidade entre aqueles que militam na legenda que criou.
Com o domínio da máquina petista pelos moderados do partido, Lula obteve a base que considerava necessária para tentar sua quarta candidatura.
Além de alianças em espectro mais amplo do que o campo da esquerda, conseguiu a contratação do publicitário Duda Mendonça, que defendia desde 1994.

Garotinho
O comando da campanha petista ainda mantém esperanças de obter o apoio de Anthony Garotinho (PSB) a Lula. Acha que a candidatura dele ruirá por falta de palanques estaduais.
Estão dispostos, por exemplo, a ceder a presidência do Congresso, caso Garotinho deixe a disputa e se eleja senador pelo Rio de Janeiro. Sempre no contexto de uma eventual vitória petista.
As conversas são intensas entre os parlamentares de PT e PSB, mas não chegaram ao ex-governador do Rio. O pré-candidato do PSB refuta qualquer conversa nesse sentido.
Os petistas sabem que agora é uma decisão individual de Garotinho concorrer ou não. Mantêm as portas abertas, articulam, mas temem que um assédio direto o levem a uma opção por Ciro Gomes (PPS), em caso de seu fracasso pessoal. (PLÍNIO FRAGA)



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