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"O malufismo não passa de populismo irresponsável"
DA REPORTAGEM LOCAL
Candidato à reeleição, o governador Geraldo Alckmin nega que
tenha adotado um discurso de direita no combate à violência no
Estado. Rota na rua, "mas para
operações especiais", afirma o governador Alckmin.
No entanto, o candidato ao governo do Estado pelo PSDB apareceu nas inserções estaduais de
seu partido neste primeiro semestre pré-eleitoral usando o jargão
que é próprio de malufistas.
Para Alckmin, o discurso continua o de sempre. "O discurso é o
mesmo. Polícia tem de ser firme,
decidida, para proteger a população. É essa a determinação. Para
isso estamos agindo em todas as
áreas do policiamento ostensivo",
propagandeia o governador.
"Aliás a Rota já está na rua, ela
está na rua 24 horas", completa.
Parafraseando o presidenciável
de seu partido, José Serra, Alckmin afirma que quer ser governador para "pisar no acelerador".
"Sonho com outro mandato para fazer o Estado crescer ainda
mais, gerar emprego, melhorar a
vida da pessoas. Esse é o centro do
programa", afirma.
O governador é discreto nas críticas aos adversários. Considera
José Genoino, candidato do PT,
bem intencionado, mas sem experiência administrativa. Todas
as críticas são direcionadas ao
candidato do PPB, Paulo Maluf.
Para ele, o malufismo é uma política que tem o olho no retrovisor.
"Um populismo debochado".
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida ontem à Folha, antes da reunião que
definiria o nome do vice.
(JULIA DUAILIBI)
Folha - Os tucanos já estão há oito
anos no governo. O que o sr. pretende fazer com mais quatro anos?
Alckmin - Com Mário Covas, o
PSDB fez um trabalho importante
de recuperação do Estado. São
Paulo deu o exemplo para o Brasil
de ajuste fiscal sem aumentar a
carga tributária. Recuperamos a
capacidade de investimento do
Estado.
Tenho enorme alegria no meu
trabalho, ânimo, entusiasmo, e no
próximo mandato é pisar no acelerador. Eu estou há quinze meses
no governo. Nosso projeto é nos
prepararmos para esse novo
mundo, onde as mudanças são
muito rápidas e o caminho é a
educação para o trabalho. Desenvolvimento, geração de emprego
e educação para o trabalho.
Folha - Qual o programa de governo do sr.?
Alckmin - Sonho com outro
mandato para fazer o Estado crescer ainda mais, gerar emprego,
melhorar a vida da pessoas. Esse é
o centro do programa.
Folha - Os adversários do senhor
vão dizer que o senhor não teve
pulso para resolver o problema da
segurança pública.
Alckmin - Eu confio no julgamento popular. O povo erra muito
menos do que as nossas elites. O
povo sabe escolher. E a população
sabe que essa questão da segurança pública, que não vai resolver
num passe de mágica, não vai ser
na base da promessa. Segurança é
trabalho, muito trabalho. E a polícia está vencendo uma batalha todo dia. É só sair na rua para você
ver o esforço que está sendo feito e
o resultado, inclusive, desse esforço. Nós estamos virando o jogo.
Folha - O sr. concorda com a frase
que "bandido bom é bandido morto"?
Alckmin - Não. E não é isso que
estamos fazendo, você tem aqui
os números. Se você tem confronto a polícia, tem de agir e prender
os criminosos. Mas a polícia tem
agido no estrito limite da lei.
Folha - "Rota na rua" é um slogan
adequado para definir sua política
de segurança pública?
Alckmin - A Rota é importante.
O slogan adequando é policiamento ostensivo. A Rota é para
operações especiais. Falo com
tranquilidade porque foi eu quem
aumentei a Rota (criou a 4ª Companhia). A Rota é para agir nos
chamados casos de saturação.
Folha - Mas o sr. foi para a TV falar
"Rota na rua".
Alckmin - Mas para operações
especiais.
Folha - O discurso do sr. parece
cada vez mais com o da direita.
Alckmin - O discurso é o mesmo.
Polícia tem de ser firme, decidida,
para proteger a população. É essa
a determinação. Para isso estamos agindo em todas as áreas do
policiamento ostensivo [...". Aliás
a Rota já está na rua, ela está na
rua 24 horas. Mas está na rua
orientada, em termos de operações especiais. Uma coisa não
contradiz a outra. Estamos aumentando o efetivo para o policiamento ostensivo de rua.
Folha - A defesa intransigente
dos direitos humanos é uma maneira de proteger bandidos?
Alckmin - É evidente que não. É
muito fácil você comparar como
melhorou a eficiência da polícia.
No Carandiru, houve uma rebelião em um pavilhão e 111 mortos.
No ano passado enfrentamos
uma megarrebelião: 27 presídios
se rebelaram simultaneamente.
Controlamos todas. Há dois casos
que foram levados para averiguação (mortes em confronto). Cada
vez você vai aprimorando treinamento e a eficiência. A polícia pode ser dura e firme sem desrespeitar os direitos humanos.
Folha - Como conciliar obras e
ações sociais com o tamanho da dívida do Estado?
Alckmin -Fico abismado quando
vejo candidatos dizendo que o Estado não foi saneado [em entrevista à Folha, Maluf disse que os
tucanos quebraram o Estado". O
governador Mário Covas não fez
uma dívida. O governo renegociou a dívida, pagou 20% por
meio da venda de ativos e o restante ficou com juros de 6%. Estamos rigorosamente em dia. Nós
herdamos uma situação de caos,
enfrentamos o problema e estamos preparando um futuro bem
melhor porque estamos resolvendo o problema.
Folha - Como o sr. definiria o malufismo?
Alckmin - É o perdedor e o atraso. Perdedor porque perde todas
as eleições. As poucas que ganhou
quem perdeu foi o Estado, porque
ele quebrou tanto o Estado quanto a Prefeitura. E o atraso porque é
uma política que tem o olho no
retrovisor. Um populismo debochado da década de 50. Totalmente irresponsável.
Folha - E o covismo?
Alckmin - Fui aluno de uma
grande escola. Covas é uma escola
de política séria, que fala a verdade. Ele dizia que o povo prefere
um "não" explicado a um "sim"
que não pode ser cumprido. É a
política da verdade, da responsabilidade.
Folha - Como o sr. definiria os
seus adversários?
Alckmin - Estou preocupado
com o eleitor. Quero que eles votem em mim. Vou trabalhar muito para isso. Eu aprendi que eleitor não erra. Ele só precisa ter todas as informações para acertar.
Folha - O que o sr. acha do José
Genoino (candidato do PT ao governo do Estado)?
Alckmin - Acho ele bem intencionado, mas acho que tem de ter
experiência administrativa. Deveria começar pela Prefeitura. Governar um Estado do tamanho de
São Paulo sem experiência administrativa não é fácil.
Folha - E do Fernando Morais
(candidato do PMDB)?
Alckmin - Acho um bom escritor. Gosto muito dos livros dele.
Folha - Qual é a sua característica
que mais o desagrada?
Alckmin -Acho que é cobrar demais as pessoas.
Folha - E a que mais agrada?
Alckmin - Gosto muito de trabalhar. O pessoal daqui [do Palácio
dos Bandeirantes" diz que meu
nome é trabalho, mas que podem
me apelidar de hora extra.
Folha - Qual o maior mérito e o
maior defeito da gestão FHC?
Alckmin -O maior mérito foi a
estabilização dos preços, que minha geração não conhecia, e a
criação da rede de proteção social,
inegavelmente, como por exemplo a queda da mortalidade infantil. O demérito... acho que foi a dificuldade em realizar três reformas, que devem ser feitas pelo
próximo presidente, que será [José" Serra. São as reformas tributária, política e da previdência.
Folha - O sr. acha que a gestão
atual da política econômica pode
lhe tirar votos?
Alckmin - Acho que não. Embora a gente viva dificuldades, e o
quadro atual não é fácil, eu acho
que a população reconhece o esforço do presidente Fernando
Henrique. Acho que ele fez um
governo histórico, que inegavelmente avançou na área social.
Mas, como todo governo, tem dificuldades.
Folha - Os marqueteiros do sr.
querem que durante a campanha o
sr. se diferencie da imagem do governador Covas.
Alckmin - Eu não vou mudar.
Não vou mudar. E não tenho
marqueteiro. Eu tenho uma produtora. Acho que a gente tem de
ser como é. Aprendi com o meu
pai. E tentar sempre melhorar. É
obrigação de um governo fazer
obras. Temos de ter princípios e
valores que norteiam uma administração.
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