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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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História e ficção se entrelaçam em obra de Saramago

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Raimundo Benvindo Silva faz parte da família dos sujeitos banais. Cinquentão, cabelos tingidos, vida profissional ancorada no tédio.
Eis que ele resolve dar um basta. Revisor de livros, decide, sem motivo aparente, colocar a palavra "não" em uma frase de um livro de história. Onde se lia que os cruzados ajudariam o rei português Afonso Henriques a recuperar Lisboa das mãos dos mouros, salpica a negação. Os cruzados não ajudariam.
Modificar fatos previstos é um dos poderes da ficção. Mas Raimundo não consegue mudar a história como queria, mesmo sendo personagem de um romance.
Ele é o protagonista de "História do Cerco de Lisboa", de José Saramago, que a Biblioteca Folha lança hoje. Publicado em 1989, o sexto romance do escritor é feito desse jogo de espelhos original entre história e da ficção.
Com a habilidade narrativa e estilística que lhe rendeu o Nobel em 1998, Saramago entrelaça duas histórias. A do revisor, na Lisboa contemporânea, e outra, na mesma cidade, mas em 1147.
Mais do que romance histórico, é um romance sobre a história, a visão de Saramago da história. "Por colocar na própria trama um revisor, que aparentemente tem o poder de colocar um não no discurso da história, o romance tem a importância de explicitar o desejo de Saramago de que a história fosse menos infeliz", opina a ensaísta Leyla Perrone-Moisés.
"Saramago está preocupado com o ser humano no seu cotidiano, na sua história com "agá" minúsculo. Com isso, acaba por mostrar como a história com "agá" maiúsculo não é algo do qual nós não participamos", complementa a ensaísta.


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