São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2005

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Palocci reage para acalmar oposição

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, iniciou ontem uma contra-ofensiva do governo usando instrumentos econômicos para reduzir a fragilidade política decorrente do escândalo do suposto "mensalão".
Palocci decidiu dar a reposição salarial aos militares e tentou acalmar os ânimos dos senadores oposicionistas prometendo verbas para a conclusão das obras do metrô de quatro capitais. Também visitou o deputado José Dirceu, numa espécie de trégua.
A intenção é isolar a CPI dos Correios e as denúncias de corrupção e destacar as ações objetivas de governo, reduzindo as frentes de oposição.
Com a saída de Dirceu, a Casa Civil passa a ser basicamente administrativa com Dilma Rousseff, enquanto Palocci assume funções também políticas, ao lado do deputado petista e ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Apesar de ter se digladiado com Palocci, Dirceu mudou de tom: "Nós somos muito amigos. Podem até haver divergências, mas eu gosto muito do Palocci".

Para os senadores
Palocci se reuniu com senadores oposicionistas que ameaçavam obstruir a pauta de votação do Congresso caso o governo não renovasse o empréstimo com o Bird (Banco Mundial) para concluir o metrô em Belo Horizonte, Fortaleza, Recife e Salvador.
Apesar de três delas serem administradas pelo PT e só uma pelo PDT (Salvador), as obras são de interesse dos Estados, todos governados pela oposição.
Palocci cedeu às pressões e divulgou que vai incluir as obras no projeto-piloto, cujas verbas não estão submetidas ao contingenciamento e às metas do superávit primário -o quanto se economiza para pagar juros da dívida.
Na semana passada, em Salvador, o ministro Olívio Dutra (Cidades) havia anunciado que o governo não renovaria o acordo de empréstimo. Para mantê-lo, a União precisava dar uma contrapartida ao Bird, mas a Fazenda alegava não haver recursos. Ontem, relaxou essa posição.
"O país precisa dos projetos para fazer investimentos em infra-estrutura", disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Para o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), a promessa de Palocci "é válida", com uma ressalva: "Tenho medo porque o governo já fez várias promessas que não foram cumpridas. Mas o ministro Palocci é um pouco diferente". ACM disse que a eventual liberação de recursos não impedirá a apuração das denúncias.

Para os militares
Palocci se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com Paulo Bernardo e com o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, para discutir a questão dos militares. Lula tem dito que está "muito preocupado" com o não atendimento das reivindicações salariais da categoria.
A folha de pagamentos dos militares é em torno de R$ 22 bilhões. No ano passado, o governo concedeu reajuste de 10%, prometendo que liberaria uma segunda parte no primeiro trimestre deste ano. A expectativa era de uma parcela de 23%, mas a Defesa e a área econômica vinham desmentindo o acordo fechado pelo ex-ministro da Defesa José Viegas.
O mais provável é que os 23% sejam divididos em três parcelas. A questão será discutida até sexta com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, já com o aval de Palocci.


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