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POLÍTICA REGIONAL
Autoritarismo desvirtuou proposta original de órgão, diz presidente
Lula recria Sudene e critica "economicismo" de governo
LEILA SUWWAN
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva transformou a recriação da
Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste)
-órgão extinto em 2001 após escândalos de corrupção- no símbolo da retomada do planejamento estratégico de Estado e das decisões políticas e criticou o que
chamou de "visão economicista"
de governo.
"Nessa máquina de moer esperanças, o acelerador da riqueza
tem ao mesmo tempo acionado o
freio da distribuição de renda. É
preciso desmontar esse mecanismo perverso que se torna uma armadilha contra a própria sociedade. É o que estamos fazendo hoje
ao resgatar a agenda do planejamento nacional", disse Lula ontem em Fortaleza, em discurso
para cerca de 600 convidados.
A cerimônia, da qual participaram oito governadores, foi para a
assinatura do envio do projeto de
lei complementar que recria a Sudene. O convidado de honra, homenageado em todos os discursos, foi o economista Celso Furtado, 83, idealizador do órgão, criado em 1959. Lula o chamou de
"guardião da esperança e da vontade nacional" e de "visionário".
Em seu discurso, Furtado elogiou o governo Lula e disse que
era necessário "libertar o Estado
das obsessões economicistas que
marcaram os últimos governos".
Lula repetiu a mensagem:
"Uma visão eminentemente economicista da administração de
um país do tamanho do Brasil pode ser um equívoco. Eu acho que a
política efetivamente é que tem
que determinar os passos econômicos que vamos dar".
O presidente classificou o planejamento estratégico como "a
verdadeira moeda forte de um
país em construção". "Sem essa
identidade estratégica, um país é
apenas uma sombra sem corpo,
um reflexo de interesses fragmentados, uma ausência de vontade
própria diante das forças avassaladoras dos tempos de hoje."
Em tom otimista, Lula disse que
irá mudar a história do país. "Vamos provar que a história deste
país vai ser diferente, a gente vai
voltar a crescer, vai gerar os empregos necessários e vai fazer as
obras prioritárias", disse.
Foram ao evento, que ocorreu
na sede do Banco do Nordeste, os
governadores de AL, CE, ES, BA,
MA, PB, RN e MG e representantes dos governos do PI e de PE.
Os ministros Ciro Gomes (Integração Nacional), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Anderson Adauto
(Transportes) e José Graziano
(Segurança Alimentar) também
estiveram na cerimônia.
Ataques
Além das vertentes econômicas
passadas, Lula também atacou o
regime militar por "desvirtuar" a
proposta original da Sudene e o
governo Fernando Henrique Cardoso por extingui-la.
"[A proposta original] foi desvirtuada pelo autoritarismo. Foi
também interrompida em 2001
com a extinção de uma Sudene
induzida à morte pelo esvaziamento progressivo de sua agenda
e pela descaracterização de seus
procedimentos", disse Lula.
Para ele, as fraudes eram motivo
para "fechar o ladrão na cadeia", e
não fechar a instituição.
"Agora a Sudene está de volta.
Não é uma volta ao passado, mas
sim a reafirmação renovada de
um instrumento indispensável ao
desenvolvimento regional e nacional", disse.
O presidente afirmou que preferiu não recriar o órgão por medida provisória para que ficasse claro nas discussões do Congresso
que a Sudene é importante para
todo o país. "Estamos, na prática
substituindo a guerra fiscal predatória e auto-destrutiva por uma
verdadeira política de desenvolvimento regional", disse Lula.
De acordo com o ministro Ciro
Gomes (Integração Nacional),
que coordenou a recriação do órgão, a nova Sudene nasce "blindada" e "invulnerável" à fraude e à
corrupção.
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