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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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POLÍTICA REGIONAL

Autoritarismo desvirtuou proposta original de órgão, diz presidente

Lula recria Sudene e critica "economicismo" de governo

LEILA SUWWAN
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou a recriação da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) -órgão extinto em 2001 após escândalos de corrupção- no símbolo da retomada do planejamento estratégico de Estado e das decisões políticas e criticou o que chamou de "visão economicista" de governo.
"Nessa máquina de moer esperanças, o acelerador da riqueza tem ao mesmo tempo acionado o freio da distribuição de renda. É preciso desmontar esse mecanismo perverso que se torna uma armadilha contra a própria sociedade. É o que estamos fazendo hoje ao resgatar a agenda do planejamento nacional", disse Lula ontem em Fortaleza, em discurso para cerca de 600 convidados.
A cerimônia, da qual participaram oito governadores, foi para a assinatura do envio do projeto de lei complementar que recria a Sudene. O convidado de honra, homenageado em todos os discursos, foi o economista Celso Furtado, 83, idealizador do órgão, criado em 1959. Lula o chamou de "guardião da esperança e da vontade nacional" e de "visionário".
Em seu discurso, Furtado elogiou o governo Lula e disse que era necessário "libertar o Estado das obsessões economicistas que marcaram os últimos governos".
Lula repetiu a mensagem: "Uma visão eminentemente economicista da administração de um país do tamanho do Brasil pode ser um equívoco. Eu acho que a política efetivamente é que tem que determinar os passos econômicos que vamos dar".
O presidente classificou o planejamento estratégico como "a verdadeira moeda forte de um país em construção". "Sem essa identidade estratégica, um país é apenas uma sombra sem corpo, um reflexo de interesses fragmentados, uma ausência de vontade própria diante das forças avassaladoras dos tempos de hoje."
Em tom otimista, Lula disse que irá mudar a história do país. "Vamos provar que a história deste país vai ser diferente, a gente vai voltar a crescer, vai gerar os empregos necessários e vai fazer as obras prioritárias", disse.
Foram ao evento, que ocorreu na sede do Banco do Nordeste, os governadores de AL, CE, ES, BA, MA, PB, RN e MG e representantes dos governos do PI e de PE.
Os ministros Ciro Gomes (Integração Nacional), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Anderson Adauto (Transportes) e José Graziano (Segurança Alimentar) também estiveram na cerimônia.

Ataques
Além das vertentes econômicas passadas, Lula também atacou o regime militar por "desvirtuar" a proposta original da Sudene e o governo Fernando Henrique Cardoso por extingui-la.
"[A proposta original] foi desvirtuada pelo autoritarismo. Foi também interrompida em 2001 com a extinção de uma Sudene induzida à morte pelo esvaziamento progressivo de sua agenda e pela descaracterização de seus procedimentos", disse Lula.
Para ele, as fraudes eram motivo para "fechar o ladrão na cadeia", e não fechar a instituição.
"Agora a Sudene está de volta. Não é uma volta ao passado, mas sim a reafirmação renovada de um instrumento indispensável ao desenvolvimento regional e nacional", disse.
O presidente afirmou que preferiu não recriar o órgão por medida provisória para que ficasse claro nas discussões do Congresso que a Sudene é importante para todo o país. "Estamos, na prática substituindo a guerra fiscal predatória e auto-destrutiva por uma verdadeira política de desenvolvimento regional", disse Lula.
De acordo com o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), que coordenou a recriação do órgão, a nova Sudene nasce "blindada" e "invulnerável" à fraude e à corrupção.


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