São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Velório de d. Luciano reúne 4.000 pessoas em São Paulo

Missa em homenagem ao religioso na Catedral da Sé emocionou crianças e adultos

Fiéis seguravam rosas brancas e fotografias em cerimônia celebrada pelo cardeal-arcebispo de SP, dom Cláudio Hummes


Ayrton Vignola/Folha Imagem
Cerca de 3.000 fiéis lotaram ontem a Catedral da Sé, em São Paulo, durante velório de d. Luciano, 75, que morreu no último domingo

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 3.000 pessoas reuniram-se ontem na Catedral da Sé, em São Paulo, para prestar uma homenagem ao arcebispo de Mariana (MG), dom Luciano Mendes de Almeida, 75, que morreu anteontem. Outros mil fiéis se juntaram à multidão no final do evento para dar adeus ao religioso.
D. Luciano estava internado desde o dia 17 de julho no Hospital das Clínicas para tratamento de um câncer de fígado.
A missa com o corpo presente, celebrada pelo cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, emocionou os fiéis, entre crianças e adultos, que seguravam rosas brancas e fotos do arcebispo de Mariana.
"D. Luciano foi um homem incansável na virtude de estar atento às pessoas. Ele tinha um amor enorme no coração. Não importava se tinha passado a noite em claro, se não tinha comido, se estava cansado. Isso era secundário para ele, que tinha como preocupação maior o povo carente", disse d. Cláudio.
Após a leitura do evangelho, o cardeal relatou histórias da vida do religioso, o apoio aos movimentos de proteção à criança, aos moradores de rua e à população carcerária e a preocupação constante com os conflitos internacionais. "D. Luciano levou mendigos para dormir em sua cama, sem se importar em dormir no chão. Ele mantinha as pessoas na casa dele até que elas saíssem felizes de lá", afirmou d. Cláudio. O cardeal disse ainda que, em uma das vezes em que foi ao hospital, encontrou d. Luciano preocupado com a situação no Líbano, país que o religioso conheceu. "Ele tinha um amor muito grande por aquele povo sofrido. D. Luciano é um santo porque soube amar a todos, sem distinção."
Ao lado de d. Cláudio, 13 bispos e cerca de cem padres acompanhavam a celebração.
Familiares também se emocionaram ao falar do religioso. "A última palavra que d. Luciano falou antes de ser sedado foi a mesma que escreveu após recuperar o movimento das mãos: "Deus é bom'", disse seu irmão Luiz Fernando Mendes de Almeida. D. Luciano tinha perdido o movimento das mãos após um acidente em 1989.
Para Cecília Mendes de Almeida, sobrinha do religioso, ele será insubstituível. "Meu tio não era só uma pessoa, era uma instituição." Após a missa, o padre Júlio Lancelotti organizou filas para que as pessoas se despedissem do religioso. Uma hora depois, o caixão foi colocado num carro funerário, sob palmas e choro dos fiéis. Segundo a PM, cerca de 4.000 pessoas acompanharam o ato.
D. Luciano vestia uma casula roxa, espécie de manto, sobre a túnica branca e tinha uma mitra (barrete alto e cônico) sobre a cabeça. O corpo do religioso foi embalsamado. Participaram da missa o rabino Henry Sobel, o senador Eduardo Suplicy, o candidato ao governo paulista Aloizio Mercadante (PT) e Hélio Bicudo, promotor e ex-vice-prefeito de SP. O prefeito da capital, Gilberto Kassab (PFL), foi ao velório pela manhã. O caixão foi levado em cortejo ao aeroporto de Congonhas, de onde foi transladado em avião da Presidência para Minas.
Defensor de reformas sociais, d. Luciano foi bispo auxiliar em São Paulo na região do Belém (zona leste) entre 1976 e 1988 e, a partir de 1988, arcebispo de Mariana (MG). Foi secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de 1979 a 1987 e presidente da entidade de 1987 a 1995. Assinava uma coluna na página A2 da Folha aos sábados desde 14 de abril de 1984.


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