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CHOQUE ENTRE PODERES
FHC vai estudar proposta do STF; ACM critica idéia
Falta de acordo pode levar
a aumento só para juízes
SILVANA DE FREITAS
enviada especial a Gramado
O impasse em torno da adoção
de um teto salarial único do funcionalismo e a ameaça de greve
dos juízes deflagraram uma articulação por aumento exclusivo
no Poder Judiciário, que poderá
elevar o vencimento dos ministros do STF (Supremo Tribunal
Federal) dos atuais R$ 10.800 para
cerca de R$ 15.000.
O presidente do STF, Carlos Velloso, disse ontem a 1.700 juízes
reunidos em Gramado que foi
"autorizado" pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a anunciar que, "a partir de hoje, seria estudada uma solução emergencial
para a magistratura".
No início da noite, o secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, afirmou que o presidente não havia confirmado que a
solução seria "emergencial". Segundo Aloysio, FHC vai analisar
propostas que serão levadas por
Velloso relativas a aumentos salariais de juízes e desembargadores.
No Judiciário, uma das propostas em discussão é a incorporação, no vencimento mensal dos 11
ministros do STF, de vantagens
equivalentes às pagas aos deputados e senadores, como auxílio-moradia em torno de R$ 2.900
por mês e dois salários extras de
R$ 8.000 ao ano.
Essa medida elevaria os salários
dos ministros do Supremo para
cerca de R$ 15 mil e teria reflexo
automático em todo o Poder Judiciário, porque os salários são vinculados ao daquele tribunal. O ganho anual dos parlamentares federais, segundo a proposta, permaneceria inalterado.
A proposta foi formalizada há
cerca de um mês em documento
encaminhado ao Supremo pela
AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros). Ela conta com o
apoio de pelo menos um ministro
do STF, o vice-presidente do tribunal, Marco Aurélio de Mello.
Os magistrados vão decidir
amanhã se realizam ou não a greve, mas a tendência é rejeitá-la para evitar desgaste político.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA),
criticou ontem a possibilidade de
que juízes venham a receber aumento. Para ACM, um aumento
salarial dos servidores que ganham mais, como os juízes, enquanto há funcionários ganhando salário mínimo sem aumento
há cinco anos, provocaria "aumento das desigualdades sociais".
ACM decidiu não ir ao jantar
com FHC, anteontem, no qual
FHC, Velloso e o presidente da
Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), discutiram o teto.
"Eu não fui porque não queria
ser vencido nem queria impor
minha posição", disse ontem. Segundo ACM declarou no plenário
do Senado, FHC também é contra
o teto defendido pelo Judiciário,
de R$ 12.720.
"Chegou a hora da verdade. O
projeto fixando o teto tem de ter
as quatro assinaturas (a dele, a de
FHC, a de Temer e a de Velloso).
Minha proposta é não assinar. Ou
dá alguma coisa para os outros
(que ganham menos) ou não dá
para quem ganha mais", disse.
"Depois de muitas considerações, convergimos no sentido de
que o teto da reforma administrativa é impraticável", disse Velloso
sobre a reunião.
Uma corrente de juízes, que inclui o ministro Marco Aurélio, defende que essa medida seja adotada por decisão do STF.
No encontro com FHC e Temer,
Velloso começou a articular o aumento dos juízes por meio da incorporação de vantagens já concedidas aos parlamentares.
Ele defendeu a inclusão de todas
as vantagens pessoais, com exceção de adicionais por tempo de
serviço público, para efeito de cálculo do teto salarial de cada Poder
-Executivo, Legislativo e Judiciário. Ontem, afirmou que FHC e
Temer haviam concordado.
O Palácio do Planalto não confirmou a informação. Temer disse
à Folha que poderá haver uma
nova reunião entre os chefes dos
três Poderes até sexta-feira. "O Judiciário está em posição preocupante", afirmou.
Pelo sistema atual, cada Poder
tem um teto, mas o cálculo desse
valor não inclui vantagens, o que
impede descontos.
Colaboraram Raquel Ulhôa e Denise
Madueño, da Sucursal de Brasília
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