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GRAMPO NO BNDES
O analista de informações Temílsom Resende estava foragido havia 12 dias; juíza nega habeas corpus
Suspeito de grampo se entrega à Justiça
RONALDO SOARES
LETÍCIA KFURI
da Sucursal do Rio
Depois de 12 dias foragido, o
principal suspeito no escândalo
do grampo telefônico do BNDES,
Temílson Resende, o Telmo, se
apresentou ontem à Justiça.
Ele foi ouvido durante cerca de
uma hora e meia, em audiência
especial, pela juíza-substituta da
2ª Vara Federal Criminal do Rio,
Cláudia Valéria Bastos Fernandes. Após o depoimento, foi levado para a carceragem da Polícia
Federal, no centro do Rio.
A juíza não atendeu ao pedido
do seu advogado, Carlos Kenigsberg, para que fosse revogada a
prisão preventiva de Telmo.
Telmo é analista de informações da SSI (Subsecretaria de Inteligência) da antiga Casa Militar
da Presidência, atual Gabinete de
Segurança Institucional, conforme a denominação adotada nesta
semana.
A Polícia Federal tem dez dias
para concluir o inquérito que
apura o caso. O Ministério Público Federal terá mais cinco dias para decidir se denuncia ou não os
indiciados no inquérito.
Além de Telmo, estão indiciados até agora o detetive particular
Adilson Alcântara de Matos, o
coordenador da Subsecretaria de
Inteligência Militar no Rio, João
Guilherme Almeida, e Gersy Firmino da Silva, coordenador de
Operações da Subsecretaria. Silva
foi indiciado há uma semana por
falso testemunho.
Depoimento
Em seu depoimento ontem, Telmo negou participação no grampo no BNDES e disse acreditar
que seu nome foi envolvido pelo
ex-agente federal Célio Arêas Rocha no episódio, para que este se
beneficiasse em outro processo a
que responde na Justiça por extorsão.
Segundo o advogado de Telmo,
foi de seu próprio cliente que partiu a decisão de se apresentar à
Justiça.
"Ele me surpreendeu", disse
Kenigsberg, que chegou a tentar
dissuadir seu cliente, já que anteontem o advogado havia entrado com pedido de habeas corpus
para tentar revogar a prisão.
Segundo Kenigsberg, Telmo o
procurou no início da tarde, alegando que queria se apresentar
"independentemente do resultado do habeas corpus". "Ele disse
que não queria esperar nem mais
um dia, porque mais um dia para
ele seria uma eternidade", afirmou o advogado. "Ele me disse:
"Não sou um bandido, não sou
um foragido'", declarou Kenigsberg.
Segundo ele, desde que teve prisão preventiva decretada, Telmo
não saiu do município do Rio. Ele
chegou à Justiça Federal por volta
das 15h e teve de esperar cerca de
uma hora e 45 minutos para ser
atendido pela juíza Cláudia Fernandes.
Segundo seguranças que trabalham no prédio da Justiça Federal,
Telmo permaneceu o tempo todo
"tranquilo". "Ele estava até mais
tranquilo do que a gente", comentou um segurança.
De acordo com o procurador da
República Artur Gueiros, o depoimento de Telmo não trouxe "nada de significativo" para o curso
das investigações. "Respeitamos a
decisão de ele ter vindo depor em
juízo, mas o que ele disse não
acrescentou muito."
O Ministério Público Federal
vai convocar para depoimento o
detetive particular Bechara Jalkh,
caso ele não seja reinquirido pela
Polícia Federal. Jalkh disse que o
grampo no BNDES custou R$ 7
milhões e que parte do dinheiro
foi enviada para a conta de um
cúmplice no exterior.
De acordo com os procuradores
que acompanham a investigação,
após as informações que surgiram nas duas últimas semanas, o
caminho está mais aberto para
que se chegue aos autores do
grampo. Segundo eles, somente
no caso de informar os "mandantes" do grampo é que Telmo poderia ter atenuada sua pena, beneficiando-se da Lei de Proteção a
Testemunhas.
O Ministério Público pretende
ouvir também o major Divany
Carvalho Barros e o engenheiro
Nelsino Drozczak da Silva, ambos
apontados como sócios de Telmo,
e o chefe do Departamento de Administração Predial do BNDES,
José Armando Taddei, acusado
de facilitar o grampo.
O major Divany Barros prestou
depoimento ontem ao delegado
federal Rubens Grandini. Ele disse que não sabe nada sobre os
grampos no BNDES, mas admitiu
conhecer Telmo e Rocha.
"O Célio não gostava de mim.
Por isso, me envolveu nessa história. Telmo era meu amigo, mas há
um ano e meio nos separamos",
afirmou Barros à Folha.
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