São Paulo, Quarta-feira, 29 de Setembro de 1999
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GRAMPO NO BNDES

O analista de informações Temílsom Resende estava foragido havia 12 dias; juíza nega habeas corpus

Suspeito de grampo se entrega à Justiça

RONALDO SOARES
LETÍCIA KFURI
da Sucursal do Rio

Depois de 12 dias foragido, o principal suspeito no escândalo do grampo telefônico do BNDES, Temílson Resende, o Telmo, se apresentou ontem à Justiça.
Ele foi ouvido durante cerca de uma hora e meia, em audiência especial, pela juíza-substituta da 2ª Vara Federal Criminal do Rio, Cláudia Valéria Bastos Fernandes. Após o depoimento, foi levado para a carceragem da Polícia Federal, no centro do Rio.
A juíza não atendeu ao pedido do seu advogado, Carlos Kenigsberg, para que fosse revogada a prisão preventiva de Telmo.
Telmo é analista de informações da SSI (Subsecretaria de Inteligência) da antiga Casa Militar da Presidência, atual Gabinete de Segurança Institucional, conforme a denominação adotada nesta semana.
A Polícia Federal tem dez dias para concluir o inquérito que apura o caso. O Ministério Público Federal terá mais cinco dias para decidir se denuncia ou não os indiciados no inquérito.
Além de Telmo, estão indiciados até agora o detetive particular Adilson Alcântara de Matos, o coordenador da Subsecretaria de Inteligência Militar no Rio, João Guilherme Almeida, e Gersy Firmino da Silva, coordenador de Operações da Subsecretaria. Silva foi indiciado há uma semana por falso testemunho.

Depoimento
Em seu depoimento ontem, Telmo negou participação no grampo no BNDES e disse acreditar que seu nome foi envolvido pelo ex-agente federal Célio Arêas Rocha no episódio, para que este se beneficiasse em outro processo a que responde na Justiça por extorsão.
Segundo o advogado de Telmo, foi de seu próprio cliente que partiu a decisão de se apresentar à Justiça.
"Ele me surpreendeu", disse Kenigsberg, que chegou a tentar dissuadir seu cliente, já que anteontem o advogado havia entrado com pedido de habeas corpus para tentar revogar a prisão.
Segundo Kenigsberg, Telmo o procurou no início da tarde, alegando que queria se apresentar "independentemente do resultado do habeas corpus". "Ele disse que não queria esperar nem mais um dia, porque mais um dia para ele seria uma eternidade", afirmou o advogado. "Ele me disse: "Não sou um bandido, não sou um foragido'", declarou Kenigsberg.
Segundo ele, desde que teve prisão preventiva decretada, Telmo não saiu do município do Rio. Ele chegou à Justiça Federal por volta das 15h e teve de esperar cerca de uma hora e 45 minutos para ser atendido pela juíza Cláudia Fernandes.
Segundo seguranças que trabalham no prédio da Justiça Federal, Telmo permaneceu o tempo todo "tranquilo". "Ele estava até mais tranquilo do que a gente", comentou um segurança.
De acordo com o procurador da República Artur Gueiros, o depoimento de Telmo não trouxe "nada de significativo" para o curso das investigações. "Respeitamos a decisão de ele ter vindo depor em juízo, mas o que ele disse não acrescentou muito."
O Ministério Público Federal vai convocar para depoimento o detetive particular Bechara Jalkh, caso ele não seja reinquirido pela Polícia Federal. Jalkh disse que o grampo no BNDES custou R$ 7 milhões e que parte do dinheiro foi enviada para a conta de um cúmplice no exterior.
De acordo com os procuradores que acompanham a investigação, após as informações que surgiram nas duas últimas semanas, o caminho está mais aberto para que se chegue aos autores do grampo. Segundo eles, somente no caso de informar os "mandantes" do grampo é que Telmo poderia ter atenuada sua pena, beneficiando-se da Lei de Proteção a Testemunhas.
O Ministério Público pretende ouvir também o major Divany Carvalho Barros e o engenheiro Nelsino Drozczak da Silva, ambos apontados como sócios de Telmo, e o chefe do Departamento de Administração Predial do BNDES, José Armando Taddei, acusado de facilitar o grampo.
O major Divany Barros prestou depoimento ontem ao delegado federal Rubens Grandini. Ele disse que não sabe nada sobre os grampos no BNDES, mas admitiu conhecer Telmo e Rocha.
"O Célio não gostava de mim. Por isso, me envolveu nessa história. Telmo era meu amigo, mas há um ano e meio nos separamos", afirmou Barros à Folha.


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