São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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GOVERNO
Às vésperas do primeiro turno, Planalto decide não comentar acusações contra o primeiro escalão e troca de acusações entre o pefelista ACM e o peemedebista Geddel Vieira Lima
FHC silencia sobre ministros e aliados

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso e seus principais assessores políticos adotaram o silêncio como principal arma, de ataque e de defesa, nesses dias que antecedem as eleições municipais. Nenhum assunto, intriga ou provocação terá resposta do Palácio do Planalto até domingo.
Nessa situação se enquadram tanto as acusações de uso da máquina por parte do ministro Carlos Melles (Esporte e Turismo) quanto a polêmica em torno de gravações com a voz de FHC que envolvem o presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e o líder do PMDB na Câmara, deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).
Assessores do presidente concluíram que qualquer ação do presidente, na reta final das eleições municipais, será apenas criar mais confusão que aquelas que naturalmente acontecessem.
Para evitar que haja qualquer comentário sobre os temas eleitorais, até as conversas diárias dos jornalistas com o porta-voz de FHC, Georges Lamazière, foram suspensas, desde quarta-feira.
No caso entre ACM e Geddel, o Planalto identificou que está por trás a sucessão na presidência do Senado, que acontecerá em fevereiro do ano que vem.
Na verdade, a briga é entre o PFL e o PMDB, que pretende emplacar o nome do presidente do partido, senador Jader Barbalho (PA) -inimigo político de ACM.
Na última quarta, Geddel fez chegar a FHC a queixa de que ACM o acusava de fraudar uma gravação de rádio em que o presidente elogiava o líder peemedebista. Duas fitas, com a voz de FHC, foram usadas na campanha do candidato do PMDB à Prefeitura de Itapetinga, Michel Haje.
A cidade, a principal na atividade pecuária no interior baiano, tem como prefeito e candidato à reeleição José Otávio, da coligação PFL-PL -portanto, apoiada por ACM. Até duas semanas atrás, prevalecia um acordo de não-agressão entre os dois candidatos, que foi quebrado com a decisão dos partidos de intensificar o apoio às duas campanhas.
Ontem, o Planalto confirmou que a voz de FHC nas fitas é verdadeira e que as gravações foram feitas por ele fora do contexto eleitoral. Apesar da confirmação, evitou-se criticar ACM, que havia afirmado que a fita era forjada.
Tudo o que assessores do presidente não querem, neste momento, é que FHC tome partido -especialmente contra ou a favor de ACM. O mesmo vale para o suposto dossiê que ACM teria contra o ministro José Serra (Saúde).
O presidente do Congresso acusa o ministro de privilegiar o repasse de verbas para municípios baianos comandados pelo PSDB.
No caso do ministro Carlos Melles, o Planalto decidiu só discutir seu futuro depois das eleições.
Melles é acusado de viajar em avião da FAB para fazer campanha e de se valer do cargo para tentar eleger a mulher, Marilda, para a Prefeitura de São Sebastião do Paraíso (MG), pelo PFL.
Segundo assessores de FHC, o caso de Melles é como "chuva de verão": é forte e tem muitas trovoadas, mas passa rápido. De qualquer forma, será discutido na reunião que FHC deve realizar no início da próxima semana para avaliar o resultado das eleições.


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