São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DIA DA CAÇA

Presidente da Câmara afirma em discurso que defenderá, com isenção, os deputados que julgar inocente nos processos de cassação

Aldo diz ter "coragem" para absolver colegas

Sergio Lima/Folha Imagem
Aldo Rebelo beija o filho na comemoração da vitória na eleição para a presidência da Câmara


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro da Coordenação Política Aldo Rebelo (PC do B) assumiu a presidência da Câmara prometendo fortalecer a independência e melhorar a imagem da Casa, mas afirmou que terá a "coragem e isenção" para defender aqueles que ele considerar inocentes nos processos de cassação movidos contra parlamentares acusados de envolvimento no escândalo do "mensalão".
"Não sou candidato a tiranete, não sou candidato a ditador. Esta Casa só poderá ser conduzida com a mediação de todas as deputadas e de todos os deputados. Não presidirei facções, não serei líder de bancada nem de governo nem da oposição", disse, completando: "Terei coragem para enfrentar os processos que atingem deputados, para condenar quem tiver culpa, mas também terei coragem e isenção para defender quem não tiver culpa".
O novo presidente da Câmara foi arrolado por José Dirceu (PT-SP) como uma de suas testemunhas de defesa. Dirceu (que chefiou a Casa Civil até junho) escutou o discurso a cerca de dez metros de Aldo, no plenário, e junto com outros deputados aplaudiu esse ponto da fala do comunista. Após a vitória, o petista também foi um dos que mais comemorou.
Dirceu é acusado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) de ser o chefe do esquema do "mensalão", o que ele nega. O ex-ministro sofre processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara e o seu caso deve ser o próximo a ser votado no plenário da Casa, provavelmente no mês que vem.
Ele apóia e trabalhou pela candidatura de Aldo, mas evitou se expor. "Não vou falar nada. O que eu falar vai prejudicar o Aldo", disse ontem, antes do resultado final. Além do ex-ministro da Casa Civil, outros 15 deputados são acusados de envolvimento e correm o risco de cassação.
O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), considerou um equívoco a fala de Aldo. Foi seu relatório parcial -assinado também pela CPI do Mensalão- que apontou os 16 deputados como tendo quebrado o decoro parlamentar no episódio que resultou na atual crise política. "Ele não pode falar em defender. Entendo que há um lapso de expressão. O presidente da Casa não acusa nem defende. Se ele defende, ele faz juízo de valor e perde a isenção."
Ainda em sua fala antes da votação em primeiro turno, Aldo Rebelo lembrou a infância pobre em Alagoas -"alfabetizado na escola rural, órfão de pai aos sete anos, e com a mãe de 27 anos para cuidar de oito filhos, já é uma honra para mim ter chegado a essa Casa"- e cobrou o fim do que chamou de "briga inútil de facções".
Ao falar de sua personalidade, de "alagoano tranqüilo", citou o sociólogo e escritor Gilberto Freyre (1900-1987): "O espírito de conciliação, de equilíbrio, de oportunidade, não significa, na boa tradição da política, a ausência de firmeza e de ânimo, e sim, a ausência de fanatismo".
Após a vitória, o comunista agradeceu à mulher, Rita Polli, e ao filho, Pedro Emílio. No final da noite, iria comemorar com correligionários em uma churrascaria.
Aldo vai tentar hoje, como seu primeiro ato à frente da Câmara, colocar em votação o projeto de reforma eleitoral que visa baratear as campanhas políticas.
A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) votaria a proposta pela manhã, e o texto iria à votação no plenário à tarde. Isso precisa ser feito até amanhã para que as mudanças valham para 2006.
(RANIER BRAGON)


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