São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DIA DA CAÇA

Aldo Rebelo terá de negociar com apoiadores de vários partidos e não poderá deixar "idiossincrasias políticas" interferirem em decisões

Para analistas, base frágil dificulta "acordão"

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

A vitória de Aldo Rebelo (PC do B) na Câmara devolve ao governo um posto-chave -no primeiro lance efetivamente positivo em meio à crise-, mas está baseada numa maioria frágil. Mesmo que queira, Aldo não terá condições políticas para patrocinar uma "operação abafa", dizem analistas ouvidos pela Folha.
"O governo estava posto nas cordas, como se diz no boxe, e agora sai bem melhor", afirma o professor emérito da UFMG, Fábio Wanderley Reis.
Carlos Ranulfo, cientista político da UFMG e especialista nas relações do Legislativo, diz que o mais importante é a recuperação do "poder da agenda política" da Câmara. "O governo volta a ter maioria, mas é frágil numericamente. Qualquer defecção... Para manter funcionando, terá de ter negociação, do PP, PL, PTB. Não há alinhamento automático."
O professor de Teoria Política do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), Renato Lessa, afirma que, para viabilizar-se, Aldo teve de lançar mão de um excessivo "pragmatismo do governo", o que terá reflexos agora. "A despeito das qualidades pessoais e políticas de Aldo, ele teve de cavar fundo no lodo parlamentar", diz, em referência aos votos do "baixo clero".

Aldo e a crise
Os analistas são unânimes ao avaliar como positiva o fim da era Severino Cavalcanti. Para Fábio Wanderley Reis, a memória negativa da experiência de Severino vai agir como moderadora da atuação de Aldo nos processos de cassação de parlamentares.
Rogério Schmitt, cientista político da Tendências Consultoria, concorda: "Eleito, não vai poder deixar suas idiossincrasias políticas interferirem. É óbvio. O Severino tentou fazer isso e olha o que aconteceu... A situação piorou quando falou à Folha de punições brandas aos deputados".
"Não vejo condições políticas para uma presidência da Câmara, promover um abafa. Nem tampouco Nonô abriria um impeachment...", diz Carlos Ranulfo. Renato Lessa, porém, vê em Aldo mais chances do ex-ministro José Dirceu escapar da cassação.
Se Thomaz Nonô (PFL) tivesse ganhado, seria pressionado a manter a crise "acesa", afirma Lessa. Já Aldo é "longa vida para o Lula". "O governo vai ter um Congresso com os presidentes das duas Casas cooperativos, para usar um termo elegante. A tendência é confinar a crise em limites não dramáticos."
Porém Rogério Schmitt alerta: não haverá céu de brigadeiro para o governo. Ele lembra que será difícil para Aldo se livrar do estigma de marionete governista e ministro sem poder. "É aquela frase do Severino, quando Aldo era ministro: "A caneta do Aldo não tem tinta'". Ele diz que, com o apoio do senador Renan Calheiros (PMDB), Aldo também terá de se defender dos que chamam a Câmara de "Anexo do Senado".
"Esse foi o último capítulo da novela do "mensalinho", agora vai voltar a novela do "mensalão'", afirma Schmitt, dizendo que, passada a eleição, os holofotes se voltam de novo para as CPIs.


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