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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DIA DA CAÇA
Aldo Rebelo terá de negociar com apoiadores de vários partidos e não poderá deixar "idiossincrasias políticas" interferirem em decisões
Para analistas, base frágil dificulta "acordão"
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
A vitória de Aldo Rebelo (PC do
B) na Câmara devolve ao governo
um posto-chave -no primeiro
lance efetivamente positivo em
meio à crise-, mas está baseada
numa maioria frágil. Mesmo que
queira, Aldo não terá condições
políticas para patrocinar uma
"operação abafa", dizem analistas
ouvidos pela Folha.
"O governo estava posto nas
cordas, como se diz no boxe, e
agora sai bem melhor", afirma o
professor emérito da UFMG, Fábio Wanderley Reis.
Carlos Ranulfo, cientista político da UFMG e especialista nas relações do Legislativo, diz que o
mais importante é a recuperação
do "poder da agenda política" da
Câmara. "O governo volta a ter
maioria, mas é frágil numericamente. Qualquer defecção... Para
manter funcionando, terá de ter
negociação, do PP, PL, PTB. Não
há alinhamento automático."
O professor de Teoria Política
do Iuperj (Instituto Universitário
de Pesquisas do Rio de Janeiro),
Renato Lessa, afirma que, para
viabilizar-se, Aldo teve de lançar
mão de um excessivo "pragmatismo do governo", o que terá reflexos agora. "A despeito das qualidades pessoais e políticas de Aldo,
ele teve de cavar fundo no lodo
parlamentar", diz, em referência
aos votos do "baixo clero".
Aldo e a crise
Os analistas são unânimes ao
avaliar como positiva o fim da era
Severino Cavalcanti. Para Fábio
Wanderley Reis, a memória negativa da experiência de Severino
vai agir como moderadora da
atuação de Aldo nos processos de
cassação de parlamentares.
Rogério Schmitt, cientista político da Tendências Consultoria,
concorda: "Eleito, não vai poder
deixar suas idiossincrasias políticas interferirem. É óbvio. O Severino tentou fazer isso e olha o que
aconteceu... A situação piorou
quando falou à Folha de punições
brandas aos deputados".
"Não vejo condições políticas
para uma presidência da Câmara,
promover um abafa. Nem tampouco Nonô abriria um impeachment...", diz Carlos Ranulfo. Renato Lessa, porém, vê em Aldo
mais chances do ex-ministro José
Dirceu escapar da cassação.
Se Thomaz Nonô (PFL) tivesse
ganhado, seria pressionado a
manter a crise "acesa", afirma
Lessa. Já Aldo é "longa vida para o
Lula". "O governo vai ter um
Congresso com os presidentes
das duas Casas cooperativos, para
usar um termo elegante. A tendência é confinar a crise em limites não dramáticos."
Porém Rogério Schmitt alerta:
não haverá céu de brigadeiro para
o governo. Ele lembra que será difícil para Aldo se livrar do estigma
de marionete governista e ministro sem poder. "É aquela frase do
Severino, quando Aldo era ministro: "A caneta do Aldo não tem
tinta'". Ele diz que, com o apoio
do senador Renan Calheiros
(PMDB), Aldo também terá de se
defender dos que chamam a Câmara de "Anexo do Senado".
"Esse foi o último capítulo da
novela do "mensalinho", agora vai
voltar a novela do "mensalão'",
afirma Schmitt, dizendo que, passada a eleição, os holofotes se voltam de novo para as CPIs.
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