São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2007

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Homicídios entre guaranis e caiuás crescem 93% no MS

Alcoolismo está ligado a violência, afirma Funasa

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O número de assassinatos de índios guaranis e caiuás neste ano em Mato Grosso do Sul, registrados até agosto, chegou a 27. É quase o dobro do verificado durante todo o ano passado, quando ocorreram 14 homicídios nas aldeias.
Além dos casos de assassinatos, há suicídios por enforcamento entre os guaranis e os caiuás. Foram 21 casos neste ano até o mês de agosto.
De 2001 a 2006, 285 índios se enforcaram, sendo que 60 deles tinham entre 10 e 14 anos de idade, 103 tinham de 15 a 19 anos e dois eram crianças de nove anos.
Os dados da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), que dá assistência médica aos índios, mostram ainda que neste ano a desnutrição esteve entre as causas da morte de 12 crianças guaranis e caiuás menores de cinco anos.
Para evitar mortes por desnutrição, agentes da Funasa pesam semanalmente as crianças indígenas, distribuem leite e cestas básicas.
No pólo indígena de Amambaí (MS), por exemplo, onde vivem 2.125 crianças guaranis e caiuás menores de cinco anos, 26 estão com desnutrição severa (muito baixo do peso, no termo técnico), 290 com desnutrição moderada (baixo peso) e 401 em risco nutricional.

Violência
Os agentes da Funasa, no entanto, afirmam não ter como combater a violência nas aldeias.
O coordenador regional da Funasa, Flávio da Costa Britto Neto, disse que poderá suspender o atendimento aos índios durante a noite para não arriscar a vida de funcionários.
Na região sul do Estado vivem, segundo a Funasa, 36.843 guaranis e caiuás.
A Funai (Fundação Nacional do Índio) mantém apenas quatro seguranças nas aldeias de Dourados, que abrigam 11.198 índios e onde ocorreram pelo menos 12 homicídios neste ano.
O alcoolismo está diretamente relacionado com os assassinatos, de acordo com a Funasa. Facões geralmente são usados nos crimes.
Na maioria dos casos, os índios que matam ou são mortos estão bêbados.
A Funasa contratou quatro psicólogos, sendo dois deles indígenas, para atender os guaranis e caiuás em programas de combate ao alcoolismo.
Uma outra preocupação do órgão é o uso de drogas.
A falta de terra -em Dourados 10,6 mil índios vivem em apenas 3.500 hectares- e o alcoolismo são apontados por antropólogos como causas dos suicídios.
A bebida, segundo relato da Funasa, também leva pais indígenas a abandonar o cuidado com crianças desnutridas, levando à morte os indiozinhos. Lideranças indígenas atribuem a desnutrição ao atraso na entrega de cestas básicas do governo federal.


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